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Culturas e pastagens em risco

Culturas e pastagens em risco

Falta de chuva está a deixar agricultores do Ribatejo com o credo na boca

O Ribatejo está a ficar árido e seco. Começam a faltar pastagens para o gado, as culturas de Outono/Inverno estão em risco e as de regadio vão pelo mesmo caminho, se entretanto não começar a chover. Há 13 anos que não se via um Inverno assim.

As cerca de dez mil ovelhas e 600 vacas existentes nos concelhos de Abrantes, Constância, Mação e Sardoal estão actualmente a ser alimentadas praticamente só a palha e ração, porque já não há quase nenhum pasto.A constatação é de Luís Damas, engenheiro da associação que congrega os agricultores daqueles quatro concelhos do norte do Ribatejo e exemplifica o mau momento que os agricultores estão a viver devido à ausência de chuva.“Não chove e a pouca erva que ainda há vai sendo queimada pela geada”, refere o engenheiro, adiantando que neste momento os animais estão já a alimentar-se quase exclusivamente a palha e rações.Foi a partir de Novembro que a situação se começou a complicar, mês em que os valores da pluviosidade foram muito infe-riores aos normais. A ausência de chuva prolongou-se em Dezembro, com o Instituto Nacional de Meteorologia a classificar quase todo o território como “extremamente seco”.Os agricultores ribatejanos estão preocupados. É raro o dia em que à Agrotejo, associação de agricultores da zona da Golegã e Chamusca, não cheguem pedidos de informação sobre as previsões meteorológicas. “Ás pessoas que vêm cá perguntar tentamos dar as previsões do tempo para os próximos dez dias, o máximo que conseguimos”, refere Mário Antunes. Nesta região, é também o sector da agro-pecuária que gera mais preocupações.“A continuar o tempo assim não há reforço dos fluxos de água subterrâneos, o que faz com que os pastos comecem a faltar”, diz aquele responsável, acrescentando que os agricultores já estão a dar suplementos alimentares aos animais.E o mesmo acontece mais a sul, na zona da lezíria ribatejana. Os cerca de 3500 bovinos da Companhia das Lezírias também estão a ficar sem pastagens e algumas manadas estão já a comer exclusivamente feno.“Há quem diga que este mês e o próximo vai ser assim, sem chuva, o que me deixa preocupadíssimo”, lamenta-se o engenheiro Quental. Apesar de a Companhia das Lezírias ainda ter “alguma margem de manobra” - a chamada reserva estratégica que dá para quatro a seis meses. Mas esta margem, diz o responsável da empresa, é geralmente utilizada em situações de fraca pluviosidade. No panorama actual, em que a chuva não cai de todo, a reserva vai embora muito mais rapidamente.Se o gado é actualmente o mais penalizado, há culturas que também estão a ficar em risco. A falta de água da chuva faz com que boa parte das sementeiras de Outono/Inverno possam vir a produzir menos que o esperado.O trigo, a aveia e o triplical clamam por água. São cereais em risco, uma vez que em muitas zonas foram semeados onde não há sistemas de rega implantados. “Os agricultores estavam a contar com a chuva”.E as culturas de regadio vão pelo mesmo caminho, se não começar a chover rapidamente, porque os actuais recursos hídricos das barragens não vão chegar para as “encomendas”. Em Dezembro, o volume armazenado nas albufeiras existentes na região apresentava valores muito abaixo do normal para esta época. E quando uma albufeira tem um défice de armazenamento devido à falta de precipitação (quantidade de água depositada pela chuva), a rega é a primeira a ser afectada para salvaguardar o abastecimento às populações, avisa o Instituto da Água (Inag).O especialista em recursos hídricos Bento Franco diz que o desejável nesta época do ano era que as albufeiras estivessem com uma capacidade acima dos 80 por cento, um valor que já em Dezembro de 2003 não foi atingido. A média, nessa altura, foi de 64 por cento mas este ano os valores caíram drasticamente para uma média de 44 por cento. Em Dezembro de 2003 a bacia do Tejo apresentava uma média superior a 80 por cento. No final do ano passado o valor situava-se nos 63 por cento.A falta de água nas barragens está a afectar todos os agricultores do Ribatejo mas o caso mais grave parece ser o da Companhia das Lezírias. Apesar de a Barragem do Vale Cobrão ainda contar com cerca de 500 mil metros cúbicos de água, o volume é muito menor que em igual período do ano passado (1,7 milhões de metros cúbicos), um facto que pode pôr em risco a cultura do arroz.Para irrigar os 220 hectares de arrozal na zona do Paul das Lavouras a empresa necessita de 3,5 milhões de metros cúbicos de água, muito mais do que está actualmente armazenado na bacia de Vale Cobrão.“Mesmo que começássemos a bombear água do furo em Fevereiro e só acabássemos em Setembro não conseguiríamos fazer a produção total” refere o engenheiro Quental, adiantando ainda que o prejuízo será ainda maior uma vez que os gastos energéticos aumentarão drasticamente.O Instituto de Meteorologia não prevê grandes alterações climatéricas para os próximos dias. E apesar de “alguns chuviscos” que possam cair na região eles serão apenas como uma gota de água no oceano. O Ribatejo precisa urgentemente de chuva. Para que as culturas não morram e o gado seja bem alimentado.Margarida Cabeleira
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