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Mosteiro de Virtudes em ruínas

Li com interesse o texto, publicado na edição de 30 de Dezembro de 2004, sobre a situação de degradação e abandono em que se encontra o Mosteiro de Santa Maria das Virtudes, concelho de Azambuja. Considero que na origem do problema está o facto de não lhe ser atribuída a classificação de monumento nacional e ser remetido para a de mero “interesse concelhio”. Um erro que pode ainda ser reparado.Ouvi falar no monumento pela primeira vez num Seminário sobre a Ordem Franciscana em Portugal, realizado no Convento da Arrábida creio que em 1994. Ali, conhecidos historiadores, como o Professor Doutor Veríssimo Serrão e a Professora Doutora Manuela Mendonça, referiram-se ao Mosteiro das Virtudes considerando-o um monumento de alta importância pela sua ligação à conquista de Ceuta, pela devoção que praticamente todos os reis da segunda dinastia lhe dedicaram e ainda pelo carinho que mereceu das multidões que ali acorriam nas romarias e em cumprimento de promessas naquele período. A decadência teria ocorrido muito provavelmente devido aos terramotos que nos séculos XVI e XVII assolaram a região, em especial o de 1531. Ambos os oradores lamentaram o estado de degradação em que se encontrava.Uma posterior visita ao local permitiu confirmar a minha ideia inicial. Afinal, apesar do lamentável estado de degradação, havia paredes em pé, portas ogivais, lápides funerárias, além de outros elementos arquitectónicos interessantes, sinais de realização de culto, mesmo sem uma cobertura. Uma recuperação não parecia impossível pese embora o referido abandono. Chocou-me especialmente o local não estar minimamente vedado tendo eu podido circular facilmente pelo espaço, apenas com o cuidado de não tropeçar numa qualquer pedra encoberta pelas ervas. Mão amiga fez-me chegar um artigo da Professora Doutora Margarida Garcez Ventura e de dois colaboradores seus, intitulado “A Igreja de Santa Maria das Virtudes: diversas temporalidades de um local de devoção”, onde, numa primeira parte é resumida a sua origem e diversos passos da sua história e, numa segunda parte, são descritos elementos relativos ao resultado da campanha arqueológica ali efectuada em 1995, também referidos no vosso artigo. São mesmo identificadas semelhanças no talhe da pedra e na ornamentação de pormenor no Mosteiro de Santa Maria das Virtudes e no Mosteiro da Batalha. (Adelaide BOTA, Igreja do Convento de Nossa Senhora das Virtudes, Azambuja), o que se afigura muito provável pela contemporaneidade de ambas as edificações. Recordo que o próprio Mosteiro das Batalha foi muito danificado por diversos terramotos, tendo sido objecto de extensas e dispendiosas obras de recuperação durante boa parte do século XIX:Tudo isto vem reforçar a ideia de que a recuperação do Mosteiro de Santa Maria das Virtudes se impõe e é possível e mais do que justificada, seja a cargo do Estado, seja por mecenato, ou por ambos. Naturalmente não poderá a Câmara de Azambuja, cujo dinamismo e interesse pelo monumento é conhecido, arcar sozinha com tais despesas, mesmo que elas não sejam muito elevadas pois tratando-se de um templo de uma ordem mendicante, bastaria consolidar as paredes, colocar uma cobertura de madeira e, antes do mais vedar e proteger devidamente todo o conjunto e zona envolvente. José António Cervaens Rodrigues

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