Uma escola no quartel
Regimento de Infantaria de Abrantes disponibilizou salas para os alunos dos Quinchosos
Desde o início de Janeiro que os alunos da escola dos Quinchosos, em Abrantes, estão a ter aulas no Regimento de Infantaria n.º 2, na mesma cidade. Para os militares, a estadia de quase uma centena de crianças na unidade traz uma alma nova. Os estudantes não vão esquecer tão cedo a experiência.
Fazem continência com qualquer uma das mãos quando entram no recinto militar e marcham alinhadas em fila como se estivessem a ouvir a ordem de comando: “um, dois, esquerdo, direito”. Desde o início de Janeiro que o quotidiano das 95 crianças da escola dos Quinchosos, em Abrantes, mudou substancialmente. A sala de aulas agora é nas instalações do Regimento de Infantaria de Abrantes, para onde foram transferidas provisoriamente enquanto a sua antiga escola é arranjada.Todos os dias, a cena se repete e promete continuar até final do ano lectivo. As crianças divertem-se e os militares olham com ternura para aquela “tropa fandanga” que entra à porta de armas. “Vieram dar uma nova vida à unidade”, diz o major Carlos Silva, responsável pelo departamento de Relações Públicas do regimento.A experiência é inédita para as crianças, que nunca imaginaram ter aulas num local onde só os “grandes” podiam entrar. “Pensamos que é a primeira vez que isto acontece no país”, confirma o oficial, adiantando que é “sempre positivo podermos contribuir com as nossas valências para sermos úteis, agindo num ambiente de boa convivência com a sociedade civil”. Em Dezembro último a escola dos Quinchosos começou a apresentar deficiências na estrutura e a Câmara de Abrantes decidiu encerrá-la para segurança das crianças, professores e auxiliares.A solução que se apresentava era dividir os alunos por dois edifícios camarários, o que no entender da direcção da escola não seria muito proveitoso. Surgiu então a hipótese de pedir apoio ao Regimento de Infantaria e houve toda a disponibilidade por parte da instituição militar para resolver o problema.“Estamos todos no mesmo edifício com óptimas instalações e condições”, frisa Manuela Rainho, directora da escola dos Quinchosos. Todo o mobiliário, objectos didácticos e equipamento do estabelecimento escolar foram levados para o edifício, onde normalmente são dadas as aulas aos recrutas. “Os professores e auxiliares não tiveram interrupção lectiva neste Natal. No período em que não houve aulas, mudámos a escola, só deixámos as paredes”, continua a directora.Para os alunos, a mudança foi bem-vinda. Basta entrar numa sala, dos mais pequeninos do primeiro ano aos finalistas do quarto, para ouvir em coro que gostam de estar no quartel. Principalmente do recreio, grande e espaçoso, e da comida. “O melhor é a sopa”, acrescenta a Mariana, de cara gorducha, mas não é única. As refeições, tomadas na messe de sargentos, têm uma ementa especial para gente daquela idade. E entre muitas outras coisas, os alunos podem gabar-se de serem servidos por soldados. Da sala para o refeitório o andamento também é em marcha, mais para a direita mais para a esquerda, rapazes e raparigas acham que esta é uma forma bem divertida de andar na escola. Mas quanto ao futuro, as opiniões divergem. Numa turma do 2.º ano, os rapazes querem seguir a carreira das armas, mas nenhuma das raparigas quer seguir tal profissão, pelo menos por enquanto. Apesar de naquela unidade 30 por cento do efectivo ser formado por mulheres e algumas de carreira.Os alunos dos Quinchosos deverão ficar no Regimento de Infantaria até ao final do ano lectivo, tempo previsto para reparar o edifício escolar. Segundo Manuela Rainho a escola abateu e provocou frinchas nas paredes das casas de banho. “Houve um estrondo e a estrutura cedeu, pelo que nos disseram havia um veio de água, originado possivelmente por rupturas de canos que esteve na origem desse abatimento”, esclareceu a docente.O transporte das crianças para as aulas é feito por carrinhas da Câmara Municipal de Abrantes, sendo o local de partida e de chegada a escola dos Quinchosos, o que facilita a vida aos pais. “A única diferença é o facto das aulas terminarem meia hora mais cedo da parte da tarde, para que os alunos possam chegar a tempo aos ATL (ateliês de tempos livres) ou a outras actividades extra-escolares onde andassem”, conclui a docente.Margarida Trincão
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