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O reencontro com a natureza

O reencontro com a natureza

Ex-director de vendas cria quinta biológica em Vale da Amarela, no Sardoal

“Mãe Terra” é o nome de uma quinta em Vale da Amarela, no Sardoal. Uma propriedade de dois hectares em encosta com um pequeno riacho no vale, em que se pretende o reencontro com a natureza e consigo próprio. Um pequeno paraíso criado por um ex-director de vendas de uma multinacional que se fartou da cidade.

António Matos é o dono deste pequeno paraíso onde tudo é biológico – até o cachorro se chama Bio – ecológico, numa quase completa harmonia com a terra. Só os fios eléctricos e telefónicos e a antena parabólica remetem para os tempos actuais.O projecto Mãe Terra – Centro Holístico de Desenvolvimento Humano, surgiu da “necessidade de criar um espaço onde a integração do homem com o meio ambiente pudesse acontecer de forma harmónica e serena”, dizUma necessidade a que António Matos, 45 anos, natural de Lisboa e ex-director de vendas de uma multinacional achou que era altura de dar resposta. A empresa onde trabalhava iberizou-se, rescindiu contratos, pagou indemnizações e António Matos desistiu de viver no lufa-lufa da cidade grande.No fim de contas a Mãe Terra começou a nascer há muitos anos. António Matos, que saiu de casa dos pais aos 15 anos para viver sozinho, foi alimentando o seu sonho e quando o mercado de trabalho o considerou excedentário achou que era altura de concretizar esse objectivo de vida. Visitou 50 ou 60 quintas, até que chegou ao Vale da Amarela e sentiu que era ali que queria viver.Tinha encostas expostas ao sol, socalcos, água e um conjunto de velhas construções em ruínas que com o tempo seria possível recuperar. Mudou-se para o Sardoal, alugou uma casa na vila enquanto a da quinta não estava de novo habitável. Foi desbravando e limpando o mato que tapava os muros de pedras que suportam as terras, abrindo os caminhos que quase não existiam, e passou a cultivar as leiras.“O meu objectivo é fazer desta quinta, que no fim de contas é um projecto conjunto de todos os que de uma maneira ou de outra por aqui passam, um espaço onde de forma consciente e harmoniosa, possamos aceitar-nos, respeitando a nossa natureza e a do universo que nos rodeia”,No seu percurso de vida, viveu alguns anos no Brasil, frequentou cursos de reiki - prática terapêutica ancestral, reconhecida pela Organização Mundial de Saúde - faz meditação e quer abrir a “Mãe Terra” a jovens e idosos.“Na Primavera penso que vai ser possível começar a receber acampamentos de jovens e desenvolver projectos para idosos”, adianta. Dos produtos que cultiva e da sua transformação em compotas, ou outras conservas, pretende tirar o sustento e reaver algum do dinheiro empatado através dos cursos de reiki, de acções de meditação ou dos futuros acampamentos. “Não preciso de muito dinheiro, mas tenho de viver e pagar as contas de luz, telefone, a pensão para os filhos e conseguir a pouco e pouco recuperar o lagar, a azenha e essas coisas para manter a quinta”, conta.Há vários anos que é vegetariano, por isso o que cultiva quase lhe basta. O pão é cozido no forno da quinta – “a primeira coisa a ser recuperada” –, as galinhas que dantes andavam à solta, mas as raposas dizimaram-nas, e as cabras anãs são habitantes do espaço, mas não para consumo. “Nem pensar nisso, são importantes para o equilíbrio e para as crianças que com o tempo hão-de vir acampar”.Por enquanto os dois filhos que vivem em Lisboa são os jovens mais assíduos da quinta. António Matos vai buscá-los de quinze em quinze dias para passarem o fim de semana na Mãe Terra e, para ele, essas são as únicas incursões que faz a Lisboa. “Se conseguir que eles venham com alguém nem lá vou, não tenho necessidade nenhuma de sair daqui”, afirma.Margarida Trincão
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