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A esperança que vem de Cuba

A esperança que vem de Cuba

Criança de oito anos inicia tratamento para poder voltar a andar

Os habitantes de Casais Revelhos, Abrantes, mobilizaram-se para angariar fundos que permitam a uma criança de oito anos prosseguir os tratamentos em Cuba a uma atrofia muscular que a impede de andar.

Benvinda Pombo olha para a fotografia do neto e os olhos enchem-se de lágrimas. A avó de Nuno Sedas, residente em Casais Revelhos, Abrantes, pouco pode fazer a não ser rezar para que desta vez seja encontrada cura para a atrofia muscular espinhal de que padece o neto. E pedir ajuda a entidades e particulares, porque o dinheiro está-se a acabar.Os moradores de Casalinho, povoação do concelho de Caldas da Rainha onde Nuno vive, e de Casais Revelhos, onde residem os avós maternos, tentam dar o seu contributo para a causa. Foram feitas rifas, sorteados dois borregos. Mas o dinheiro é sempre curto. E a cura pode ainda estar longe.Um residente de Casais Revelhos lançou um alerta na Internet mas até agora sem grandes resultados. “As pessoas se calhar pensam que é a brincar”, diz a avó de Nuno. Neste momento estão depositados no banco cerca de oito mil euros – dos quais dois mil são de donativos que algumas empresas da zona de Abrantes, como a Bosch, fizeram, sensíveis à questão.Nuno Sedas tem oito anos e uma atrofia muscular espinhal que o impede de andar desde os dois anos. Aliás, a criança só soube o que era dar um passo de cada vez durante menos de um ano.Começou a andar tarde, aos 15 meses, mas na altura nada fazia prever a actual situação. “Tinha um andar esquisito mas os pediatras não ligaram muito, diziam que era um andar «à pato»”, conta a avó materna, segurando a fotografia do neto contra o peito.Aos dois anos Nuno começou a piorar - ficava sem equilíbrio e caía muitas vezes, “desgovernado”. De um dia para o outro as pernas deixaram de querer dar passos e começou o calvário dos pais. As idas ao Hospital de Santa Maria, primeiro, e depois ao Hospital Pediátrico de Coimbra tornaram-se uma constante. Os exames – biópsias musculares, ressonâncias magnéticas, electromiogramas – faziam-se e repetiam-se vezes sem conta. Nada. Neurologistas e pediatras não encontravam a causa do problema, porque os valores apresentados nos exames eram considerados normais. A fisioterapia que fez, durante anos, também não trouxe melhorias.Sílvia e Luís Sedas, que fixaram residência nas Caldas da Rainha, não sabiam para onde se virar. A mãe deixou de trabalhar para poder tomar conta do filho, o pai, padeiro, tem feito das tripas coração para garantir que o dinheiro chegue para tudo.Mas a esperança de cura do filho esmorecia de dia para dia. Até que alguém, “amigo de um amigo”, lhes falou em Cuba e nos tratamentos “milagrosos” ali feitos.Com a fé de quem nada tem a perder, os pais do Nuno agarraram a hipótese com unhas e dentes. E foram em frente mesmo depois de os médicos que durante estes anos acompanharam Nuno os terem alertado para as despesas em que iriam entrar e o facto do Estado português não comparticipar. “Disseram que não valeria a pena pedir ajuda à Segurança Social e à Saúde porque Cuba não tem acordos com Portugal”, diz a avó Benvinda.Sílvia e Luís avançaram por conta própria. Contraíram um empréstimo bancário de 15 mil euros e partiram há um mês para o país de Fidel Castro, sem conhecer ali ninguém, sem saber a língua mas com o coração cheio de esperança.Em Cuba, Nuno Sedas está a fazer terapia normal, terapia ao ozono e a lazer. Mas só no final dos 28 tratamentos iniciais previstos é que os especialistas do Hospital Cimec, de Havana, podem fazer o primeiro balanço. Os pais de Nuno estão a viver num anexo do hospital e já gastaram nove mil dos 15 mil euros que pediram ao banco. De cada vez que olham para o extracto bancário a angústia aumenta.Quem quiser contribuir para os tratamentos da criança pode enviar os seus donativos para a conta n.º 220106800008 (NIB 0007022020010680000821) do BES ou entregá-lo directamente em casa dos avós, residentes na rua das Escolas, em Casais Revelhos.Margarida CabeleiraSaúde e Segurança Social podem ajudarOs pais de Nuno Sedas afirmam que os médicos os “desenganaram” quanto à obtenção de quaisquer apoios estatais relativamente à ida da criança a Cuba. Mas os responsáveis da Segurança social e da Sub-Região de Saúde de Santarém afirmam que este tipo de processos pode ser apoiado pelas entidades respectivas, desde que devidamente fundamentado.Apesar de este não ser um caso que possa ser apoiado pelas entidades do distrito de Santarém, uma vez que a criança reside nas Caldas da Rainha (distrito de Leiria), o responsável pela Sub-Região de Saúde de Santarém, Fernando Afoito, afirmou ao nosso jornal que este é um processo que pode receber comparticipação.“Desde que se comprove a necessidade de intervenção no exterior, depois de terem sido esgotadas em Portugal todas as hipóteses de tratamento, há direito a comparticipação do Ministério da Saúde”, referiu Fernando Afoito, adiantando no entanto que o processo terá sempre de ser iniciado pelo hospital e/ou pelo médico que tem acompanhado a criança. Porque são necessários exames e relatórios que sirvam de documentação base para o apoio a dar.A apresentação de elementos que sustentem o pedido de apoio financeiro é também uma exigência da Segurança Social para este tipo de casos, pois há que provar que se está perante uma situação de real necessidade e não haja dúvidas quanto a uma possível fraude.Neste caso, os pais da criança terão de pedir apoio à técnica da Segurança Social da sua área de residência, sendo aí elaborado o processo para a obtenção de um apoio. Segundo António Campos, director do Centro Distrital de Segurança Social de Santarém, este tipo de situações insere-se nos chamados apoios eventuais, sendo a comparticipação diferente em cada caso, uma vez que, entre outras coisas, depende do rendimento do agregado familiar declarado nas finanças.
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