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Descoberto esqueleto de mulher desaparecida

Fio, pulseira e documentos permitiram identificação

José Dias procurava um marco que delimita uma propriedade quando deu com o esqueleto de uma mulher que havia desaparecido na aldeia do Souto em Agosto de 2003.

O esqueleto de uma mulher de 77 anos que se encontrava desaparecida desde Agosto de 203 foi encontrado junto a um riacho na aldeia do Souto, concelho de Abrantes. José Dias, também morador na povoação, foi quem deu com o tétrico achado quando desmatava a zona.A identificação foi fácil porque junto aos restos mortais havia uma carteira de cabedal com documentos de identificação. Elsa Marçal Rodrigues, há vários anos residente em Linda-a-Velha, vinha com regularidade à sua aldeia natal. Foi durante uma dessas estadias, no dia 1 de Agosto de 2003, que desapareceu. Na altura, os incêndios fustigavam a região e, embora o Souto não fosse atingido, havia uma espessa nuvem de fumo a cobrir os céus.José Dias, o homem que no dia 8 de Fevereiro encontrou as ossadas, recorda que andaram à procura da senhora por todo lado, mas em vão. Da casa de Elsa Rodrigues até ao local onde foi encontrada distam perto de dois quilómetros, a maioria dentro da floresta.“Agora há um caminho aberto, fui eu que o abri na segunda-feira em que encontrei a senhora. Nunca mais fiz nada”, diz José Dias ainda emocionado com o que encontrou. “No início nem estava a perceber que eram os restos de uma pessoa, foi pelos ossos das pernas, mais compridos, que pensei que fosse gente”, recordaChamou o filho, que o tinha acompanhado na desmatação e na limpeza de alguns dos rebentos dos eucaliptos já cortados, para chamar a GNR. “Eles vieram logo e só depois vi a carteira de cabedal com os documentos, o fio e a pulseira em ouro”, continua.Para José Dias é compreensível que a senhora se tenha perdido no meio dos eucaliptos devido ao fumo. E o próprio calor poderá ter contribuído para o desnorte da senhora. No entanto, é mais difícil perceber como é que Elsa Rodrigues se afastou tanto de casa e o que a teria levado para aquele sítio.“Ainda são quase dois quilómetros daqui até lá acima”, diz José Dias junto ao local onde a senhora foi encontrada, perto do ribeiro, na base de uma encosta bastante íngreme As ervas estão escuras, acamadas e no local onde estava a cabeça ainda são visíveis restos de cabelo. Antes de 1985, ano em que as chamas devastaram a zona, todas as encostas eram amanhadas e os baixios estavam cobertos de hortas. A contornar o ribeiro havia uma estrada que dava acesso a essas propriedades. “Se calhar a senhora veio para aqui porque se lembrava desses tempos”, alvitra José Dias tentando encontrar uma justificação para a longa e fatal caminhada de Elsa Rodrigues.No entanto, depois desse grande fogo e com a alteração dos hábitos as hortas nunca mais foram cultivadas e nas encostas foram plantados eucaliptos. “A maior parte das pessoas já nem conhece os limites das suas propriedades, tal como eu. Tenho umas terras para aí onde já não vou há anos, nem se pode lá ir com tanto mato”, continua.Foi a tentativa de encontrar um dos marcos daquela parcela que o fizeram encontrar as ossadas. “Ainda estou comovido”, diz e prossegue: “Afastei-me do meu filho e vim com a foice roçadora para este lado à procura do marco. Melhor não tivesse vindo”.José Dias, proprietário de uma oficina de caixilharia em alumínio, recorda-se de Elsa Rodrigues desde criança. A família, tal como Elsa Rodrigues, cuja casa no Souto está identificada com um azulejo com o seu nome, há muito que deixou o aldeia e José Dias só conhece uma parente afastada que uma ou duas vezes por mês visita a povoação.“É uma prima de uma prima que vem cá, mais ou menos de quinze em quinze dias, de resto não conheço ninguém. Aquilo impressionou-me de tal forma que nunca mais vim acabar o trabalho”, recorda comovido.Os restos de Elsa Rodrigues foram levantados pelos Bombeiros Municipais de Abrantes e transportados para o hospital da cidade.Margarida Trincão

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