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“Feira dos Stocks – o porquê desta loucura”

“Perante o sucesso da primeira edição da Feira dos Stocks importa saber o porquê da euforia registada no último fim-de-semana? Porque esgotou o parque automóvel que envolve o espaço de exposições da Nersant, em Torres Novas? Porque se formaram filas em direcção ao espaço do certame? Porque se interessaram tanto as televisões e outros media nacionais e regionais por esta feira?”

Podemos chamar-lhes uma espécie de “paraísos do consumo”. Não se paga para entrar. Aliás, não há obrigação absolutamente nenhuma de abrir a carteira, desde que se entra até que se sai. No entanto, percorrendo os corredores do certame, onde proliferam “coisas engraçadas, algumas até sem defeito, e a preços muito baixos”, o cliente, que até anda “em baixo” com a crise e que já não compra “qualquer coisita há uns tempos”, não resiste. Verdadeiros achados, pensa para consigo, imaginando já como vai poder vangloriar-se junto dos amigos ao dizer “Vês as calças que comprei? São giras, não são? Imagina que custaram dez euros”. Ao fim ao cabo, são poucos os que saem sem terem aberto a carteira.Esta é, sem dúvida, a loucura das “Feiras dos Stocks”. Um fenómeno que não é exclusivamente português. Os próprios técnicos do Departamento de Feiras da Nersant já a tinham presenciado há cinco anos atrás, quando, em viagem de trabalho, conheceram em Hannover (Alemanha), um certame semelhante, dado pelo nome de “Feira do Consumo”. Aí, embora a organização não cobrasse nem entradas, nem espaços de venda, através de um sistema electrónico de vendas por código de barras, ficava com um valor de até 10% por cada produto vendido.Presenciando o sucesso, o objectivo da Associação Empresarial, foi obviamente iniciá-lo em Portugal e particularmente no distrito; no entanto, algumas restruturações no próprio departamento responsável pela organização dos certames, adiou a iniciativa. Mais tarde, há cerca de dois anos, já com uma nova equipa, deslocou-se a Guimarães para visitar uma feira do mesmo género, que se revelou igualmente um êxito.. Desenhou-se então um modelo de “Feira dos Stocks” para o distrito de Santarém. Certames pequenos, a realizarem-se em quatro ou cinco concelhos da região. Um espaço onde estivessem presentes diversos sectores de actividade, isto é, que não fosse preenchida exclusivamente com comerciantes de pronto-a-vestir e calçado. Vender produtos a preços realmente baixos, seria a condição para expor. As empresas deveriam ser todas legalizadas, com o objectivo de combater flagrantemente a economia paralela, que ocorre nos mercados paralelos e nalgumas lojas de comerciantes asiáticos. Por fim, que fosse uma festa, um espaço privilegiado a favor dos pequenos empresários e dos comerciantes, que permitisse retirar (por poucos dias que fosse) o domínio das grandes superfícies.Posto isto, e apesar de toda experiência indicar que este seria um tipo de certame bem sucedido (como, aliás, se comprovou o fim-de-semana passado) foi extremamente difícil montar a primeira “Feira dos Stocks”. Duas semanas antes de abrir portas, não havia uma enchente de expositores (como seria de esperar). Poucos eram os que pareciam acreditar que este seria um evento de sucesso e, sobretudo os comerciantes locais, mostravam-se cépticos quanto à quantidade de público que iria comparecer, podendo não justificar o investimento.Contra esse cepticismo e insegurança, a Nersant não possuía, obviamente, números concretos ou um historial deste tipo de realizações que os pudesse convencer. Por isso, a primeira edição abriu com um número de expositores, que ultrapassando os sessenta, a Nersant acredita ser uma expressão tímida, longe do que, por exemplo, agora se regista para a edição do Cartaxo - uma verdadeira enchente de expositores.Posto isto, e posto o sucesso que foi de facto a primeira edição da Feira dos Stocks, importa questionar, porquê a euforia registada no último fim-de-semana? Porque esgotou o parque automóvel que envolve o espaço de exposições da Nersant, em Torres Novas? Porque se formaram filas em direcção ao espaço do certame? Porque se interessaram tanto as televisões e outros media nacionais e regionais por esta feira?A actual crise poderá explicar parcialmente o facto. Sabemos que muitas empresas têm produtos em stock dos quais não conseguem desfazer-se. Se lhes é oferecido um espaço a baixo custo para tentarem mais uma vez, desfazerem-se de determinados produtos que foram ficando fora de moda ou que, embora novos têm pequenos defeitos, porque não arriscar? E se à oportunidade aliarem a prática de preços realmente imbatíveis, quem sabe se não vendem mesmo aquele artigo que já está em armazém há dez anos? Basicamente, as Feiras dos Stocks funcionam como uma dilatação do espaço de promoções, uma espécie de liquidação das liquidações, que vem, por sua vez, responder a um desejo do consumidor “fazer bons negócios”.E aqui a crise não explicará tudo... Porque a população, mesmo a que tem as finanças em baixa, mantém em alta o espírito consumista. Tendo a possibilidade de adquirir, especialmente roupas e sapatos, a preços extremamente baixos (e não estamos a falar de contrafacção), não vai conseguir resistir! Aliás, se temos dúvidas, olhemos para o exemplo das ditas classes mais ricas, que passando à margem da crise, não passam à margem da loucura dos preços baixos. Sabemos como enchem às quintas-feiras de manhã a Feira de Carcavelos. É caso para perguntar... Será que vamos encontrar as clientes da mais conhecida “boutique de alcofa” dos arredores de Lisboa, onde, à imagem e semelhança das “Feiras dos Stocks” se encontra de tudo, para todos os gostos, a preços imbatíveis, no Cartaxo, já no próximo fim-de-semana ? É esperar para ver.Ana LeãoNERSANT

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