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Ensino musculado

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Professor do primeiro ciclo do Tramagal é acusado de agredir alunos

Um professor é acusado de agredir dois alunos de uma escola primária do Tramagal. As crianças, que deixaram de ir às aulas, vão mudar de turma. O docente foi alvo de um processo interno de averiguações, tendo também seguido queixa para o Tribunal de Abrantes.

Os dois alunos do quarto ano da escola n.º 1 do Tramagal, concelho de Abrantes, que se encontravam em casa desde 25 de Fevereiro, já podem voltar à escola. O conselho executivo cedeu aos argumentos da encarregada de educação de Jozé e Alice e transferiu-os para uma outra turma da mesma escola. As crianças queixam-se de agressões por parte do seu anterior professor, que foi alvo de um processo de averiguações instaurado pela Inspecção Geral de Educação (IGE).A família de Jozé e Alice, de 9 e 10 anos, respectivamente, exigiam que as crianças fossem transferidas de turma, devido às alegadas agressões de que eram alvo, por parte do professor João Grácio, de 46 anos. O processo arrasta-se desde o início do ano e as crianças começaram a ter um comportamento tal que a encarregada de educação decidiu retirá-los da escola, no passado dia 25 de Fevereiro, até que o processo fosse resolvido.O conselho executivo do agrupamento de escolas, depois de obter parecer do concelho pedagógico reunido extraordinariamente na segunda-feira, dia 7, acedeu finalmente na transferência das crianças. Mas na terça-feira, dia de fecho desta edição, a família de Jozé e Alice ainda não tinha essa confirmação por escrito. E a O MIRANTE o conselho executivo não quis prestar quaisquer declarações. Através da funcionária Ana Isabel de Jesus mandou dizer que “não dava entrevistas”. Igual procedimento teve o professor João Grácio. A interlocutora foi a funcionária Vitória Ferreira, a quem disse para transmitir que “não falava com os jornais.”Jozé e Alice são irmãos e sempre frequentaram a escola do Tramagal. No final do ano lectivo transacto começaram a revelar alguns problemas, mas como o ano estava a acabar a família decidiu não tomar qualquer posição. O professor podia mudar. Quando as aulas reabriram as crianças verificaram que iam ter aulas com a mesma pessoa e os problemas agudizaram-se. A avó, que na ausência dos pais, emigrantes em Israel, toma conta das crianças começou a notar alguma agressividade nos netos e não percebia porque se magoavam tanto no “recreio”. “Queria penteá-los e eles queixavam-se que eu os aleijava. Tinham altos na cabeça, mas diziam-me que era no recreio, nada de dizer que era o professor”, conta Maria Alice Alarico.Para além disso começaram a queixar-se, com frequência, de dores de cabeça, de barriga e tornaram-se agressivos. “Gritavam um com o outro e até comigo”, continua a avó que sem saber o que fazer caminhava com os netos para o médico. Chegou a dar-lhe calmantes, a conselho médico, e falava com o professor. “É uma coisa que me custa muito, ele dizia-me que estava tudo bem e mesmo quando eu lhe perguntava se o Zé precisava de acompanhamento dizia-me que não”, recorda Alice Alarico.A psicóloga do Centro Hospital do Médio Tejo, Conceição Calado, confirma que a vulnerabilidade de Jozé se “complicou desde o passado ano lectivo por atitudes antipedagógicas por parte do professor”, lê-se no relatório, que continua: “O Jozé de início escondeu a situação, no entanto, eram visíveis as mudanças de comportamento e a instabilidade emocional que ia em crescendo”. Em Janeiro último a criança “rejeitava totalmente a escola, tendo manifestações psico-somáticas frequentes”.Os dois irmãos desabafaram primeiro com uma tia, que acabou por ir residir com toda a sua família, marido e dois filhos, para o Tramagal, a fim de ajudar a mãe e os sobrinhos.Maria Manuel Rocha ficou a saber que o professor batia aos alunos com uma cana e com a régua, dava-lhes bofetões e puxões de orelhas. “Os altos na cabeça não eram provocados pelas brincadeiras, mas pelas canadas que o professor lhes dava”, diz. Em Junho, Alice apareceu com uma mão toda negra. A desculpa para a avó foi de novo o recreio.Como no presente ano lectivo o professor voltou a ser colocado na mesma escola, Maria Manuel e Maria Alice acharam que a situação tinha que ser resolvida, dado que as agressões recomeçaram. Falaram com a associação de pais e porque, para além das agressões físicas, o professor humilhava os miúdos, recorreram à Inspecção Geral de Educação (IGE). “Não sou contra a que se dê uma bofetada, mas agressões não”, afirma a tia. O inquérito da IGE está concluído e encontra-se para despacho da directora geral disse a O MIRANTE Maria João Rodelo, directora de serviços da IGE. A continuidade do processo depende da decisão da directora geral e uma de duas coisas pode acontecer: ou o processo é arquivado ou é levantado um inquérito disciplinar.Entretanto a associação de pais está também a accionar todos os mecanismos para resolver a situação. No entendimento do director deste órgão, Artur Marques, a transferência dos dois alunos ou do professor para outra escola não resolve o problema se “os métodos” utilizados por João Grácio “não forem os mais correctos”.Para além dos organismos ligados ao Ministério da Educação, Maria Alice Alarico recorreu ao tribunal judicial de Abrantes e à comissão de protecção de menores, estando os processos a decorrer.Margarida Trincão
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