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Um campeão mundial sem apoios

Paulo Pinheiro, de Alcoentre, é recordista da Meia Maratona de Paris

O actual recordista da Taça da Europa de Meia Maratona para atletas com deficiência intelectual é natural de Alcoentre, Azambuja. Paulo Pinheiro, 28 anos, não tem bolsa de desportista ou patrocínio de empresas. Corre apenas por amor à camisola.

Paulo Pinheiro, um atleta com deficiência intelectual, residente em Alcoentre, concelho de Azambuja, ganhou a medalha de ouro na Taça da Europa de Meia Maratona para atletas com deficiência mental, batendo o recorde do mundo com a marca de 1h 10m e 52 segundos. A prova realizou-se a 6 de Março, em Paris.O atleta que representou Portugal na prova de Paris, uma das mais antigas do mundo, foi o primeiro de cerca de 250 corredores com deficiência intelectual a chegar à meta. Na classificação geral da Meia Maratona, com atletas deficientes e não deficientes, que reuniu no total 25 mil atletas, Paulo Pinheiro conseguiu um meritório 31º lugar.“Não fui a pensar que iria ganhar porque teria entrado em pânico e era pior. Entrei como se estivesse numa prova popular”, recorda Paulo Pinheiro, que não esconde um sorriso de satisfação por ter sido campeão.Para representar Portugal em Paris, Paulo Pinheiro não teve qualquer apoio da Câmara de Azambuja, da Junta de Freguesia de Alcoentre ou de empresas da região (ver caixa). O atleta bateu à porta de algumas das grandes firmas do concelho mas todas lhe disseram que não.O treinador do atleta, Carlos Batalha, lamenta que tenha sido necessário Paulo Pinheiro conquistar a medalha de ouro para ser contactado pela autarquia de Azambuja. Como reconhecimento da marca conseguida pelo atleta na Meia Maratona a Câmara de Azambuja irá atribuir uma bolsa de mérito desportiva no valor de 750 euros, que o atleta irá receber na próxima reunião do executivo. “Como o atleta não está incluído num clube do concelho só podemos apoiar quando demonstra resultados”, justificou o vereador do desporto, Marco Leal.Paulo Pinheiro corre pelo Benavente como atleta federado, mas está integrado no Clube Gaia enquanto atleta com deficiência intelectual por não existir no concelho um clube com estas características. O atleta está orgulhoso do prémio que conseguiu e só lamenta que as pessoas da terra não o reconheçam. “Em Alcoentre as pessoas vêem-me correr mas não ligam. O prémio foi uma bofetada de luva branca para muitos que não dão valor ao que faço”, afirma. Actualmente o dia de Paulo Pinheiro, 28 anos, é dedicado por inteiro aos treinos nos campos de Alcoentre e na Mata das Virtudes. Por enquanto é desportista apenas por amor à camisola. A Associação Nacional do Desporto para a Deficiência Mental (Anddem) já propôs o nome de Paulo Pinheiro para constar da lista de atletas de alta competição, o que lhe permitirá receber uma bolsa entre os 100 e os 150 euros concedida pelo Instituto do Desporto de Portugal, que na opinião do vice-presidente da Anddem, João Pardal, continua a ser “insuficiente”.A maior dificuldade do atleta é a compra das sapatilhas que tem que substituir de dois em dois meses para evitar lesões. Actualmente é a família que cobre as suas despesas.O atleta, que completou há seis anos o curso de carpintaria da Cerci de Azambuja, ainda não conseguiu integrar-se no mercado de trabalho. “Quando procuro emprego dizem sempre que tenho que esperar. Vêem uma pessoa deficiente e não se interessam”, desabafa. A esperança de Paulo Pinheiro é conseguir um trabalho num armazém ou no apoio a algumas iniciativas desportivas.A sua limitação quase não é notada, mas o atleta possuiu uma deficiência intelectual na ordem dos 60 por cento, que não o impede de continuar a arrecadar títulos. A sua grande ambição é a participação nos jogos olímpicos de 2008. Paulo Pinheiro quer conquistar mais medalhas para Portugal e provar aos seus conterrâneos que tem valor.Ana Santiago

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