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A paixão das duas rodas não escolhe sexos

A paixão das duas rodas não escolhe sexos

Mulheres começam a participar em concentrações motard pela paixão pelas motas ou para “guardar” os maridos

Os encontros e concentrações motards ainda são território dominado pelos homens. As actividades programadas são dirigidas ao sexo masculino, como o strip-tease feminino. No passado fim-de-semana, no encontro de Pé da Pedreira (Alcanede), apareceram algumas mulheres, a provar que para acelerar em potentes motas não é preciso ter barba rija.

Paula Frazão chega em grande estilo ao local da concentração. Blusão e calças de cabedal pretas. Nas costas do casaco sobressaem as letras cor de laranja: Harley Davidson. A marca da mota que conduz. Com 35 anos de idade esta é uma das mulheres que começam a dar um toque feminino aos encontros motards. Natural de Pé da Pedreira, Alcanede (Santarém), marcou a diferença no primeiro encontro motard que decorreu no último fim-de-semana na sua terra natalQuando chegou ao local do encontro, junto ao centro recreativo, entrou por um corredor delimitado por fitas. Estacionou a máquina ao lado do pavilhão da colectividade, afastado da zona de convívio. No espaço estão alinhadas uma centena de motos verdes, encarnadas, pretas onde vai caindo o pó do recinto de terra batida que se levanta sempre que chega mais uma máquina roncando num ritmo cadenciado para o motor não se ir abaixo. A meio da tarde de sábado, Paula era a única mulher motard inscrita. Trazia no corpo o cansaço de mais de 300 quilómetros. Paula vinha da cidade algarvia de Loulé, onde vive e trabalha há onze anos. É a paixão pelas motas, que carrega desde pequena, que a faz esquecer-se que está no meio de homens. As mulheres presentes no recinto são uma pequena minoria que não ultrapassa uma dúzia. Um amigo cumprimenta-a. É a camaradagem que a faz esquecer o facto dos encontros terem actividades dirigidas sobretudo aos homens. O strip-tease feminino é o mais constrangedor, mas ao fim de algum tempo as motards e acompanhantes habituam-se. “Se houvesse também strip masculino era melhor”, diz antes de soltar uma gargalhada. Mas Paula Frazão, professora de moral, ressalva que não se incomoda. “Estou aqui para me divertir. Pela paixão das motos. Para beber uns copos e conhecer outras pessoas”, sublinha a motard que começou a acelerar em 2001, quando comprou a mota. Para ir refrescar a garganta ao bar, a funcionar num pequeno contentor de metal, teve que furar por entre um grupo de motards do sexo masculino. Os braços emaranhavam-se para agarrar os copos de cerveja que iam sendo colocados em cima do balcão. Vestem casacos e coletes pretos forrados à frente com estampas que recordam outros encontros. Nos altifalantes ecoa uma música brasileira. Paula Frazão tenta fazer-se ouvir por cima da batida. “Ainda há muita gente que fica espantada quando vê uma mulher ao volante de uma mota”, comenta. Junto ao bar alguns motards fazem corridas de sacos, Paula não alinha nos jogos tradi-cionais. “As pessoas pensam que as mulheres que andam nisto ou são malucas ou andam a dormir com os homens das motas”, descreve a professora divorciada. O ex-marido não compreendia a sua paixão e não gostava de motas e isso também contribuiu para meter travões a fundo na relação. Loduvina Costa só há dois meses começou a participar nestas actividades acompanhando o marido. Tenta ambientar-se ao espaço junto ao balcão onde sete raparigas de camisola azul com a inscrição “Doidos por elas” fazem as inscrições e vendem as senhas para as bebidas. Ao lado um grupo de motards concentra-se à volta de uma mesa de madeira onde se acumulam copos de plástico. De capacete na mão e colete cheio de emblemas, que o marido lhe ofereceu, Ludovina Costa, do Entroncamento, explica que as mulheres “andam aqui para guardar os maridos”. E acrescenta que começou a participar nestas iniciativas porque tem vindo a aperceber-se que o sexo feminino já começa a estar mais representado nestes meios. Carla Francisco não percebe de motores, não fala dos últimos modelos com os restantes participantes do encontro de Pé da Pedreira, organizado pelo Grupo Motard “Doidos por Elas”, mas anda de braço dado com o namorado pelo espaço rodeado de bancas com capacetes, vestuário e acessórios para motas. A escriturária de Santarém, com 25 anos, costuma andar à pendura, mas, confessa, já deu umas voltinhas a conduzir. “Venho para conhecer outras pessoas, para me divertir e para estar com o meu namorado”, responde à pergunta sobre o que uma mulher faz num meio ainda dominado por homens. Mas, explica, há alguns indícios de mudança. Alguns clubes motards já apresentam strip-tease misto para que as mulheres não fiquem em minoria. Outros já desistiram de apresentar este tipo de espectáculo.
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