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Rolhas de cortiça com pouco chumbo

Estudo da Universidade de Évora tranquiliza consumidores

As rolhas de cortiça não têm riscos ambientais e para a saúde porque a quantidade de chumbo presente é residual. A conclusão resulta de um estudo inédito do investigador João Ponte e Sousa que realça as qualidades da casca dos sobreiros.

A concentração de chumbo presente nas rolhas de cortiça é extremamente baixa. “A matéria-prima utilizada no fabrico de rolhas é um produto de grande qualidade, sem riscos ambientais e para a saúde”.A conclusão foi tirada pelo investigador João Ponte e Sousa, colaborador docente na Universidade de Évora, que fez deste tema a sua tese de mestrado em Química Analítica, apresentada há duas semanas, naquele estabelecimento de ensino superior.O investigador pretendeu provar que a cortiça, utilizada como matéria-prima para o fabrico de inúmeros produtos, não envolve riscos de contaminação através da presença do chumbo, “poluente muito disseminado e distribuído nos países mais civilizados do Mundo”.“O chumbo, metal tóxico pesado, está muito espalhado em termos ambientais, dadas as suas inúmeras utilizações na indústria, nomeadamente como catalisador em motores”, disse em declarações à Agência Lusa.Dados os riscos inerentes à exposição a este metal, que poderá ser danoso ao organismo quando ingerido através da comida, ar ou água, João Ponte e Sousa provou, através do estudo electroanalítico, que a cortiça “é, de facto, um material nobre”.“Pode-se concluir que a qualidade da cortiça enquanto matéria- prima não é susceptível de ser posta em causa, porque a concentração de chumbo é extremamente reduzida”, realçou.Este indicador permite ao investigador afirmar que “não há que recear qualquer contaminação”, resultante da presença do chumbo, por exemplo numa rolha de cortiça.“As indústrias dos sucedâneos, dos plásticos e dos metais atacam, muitas vezes, a fileira da cortiça, especulando sobre a sua qualidade e os malefícios para a saúde pública. Ora, este estudo vem provar que, pelo menos o caso do chumbo, não pode ser utilizado como arma de arremesso”, sustentou.Estudo inédito João Ponte e Sousa explicou que o seu estudo para detectar a presença de chumbo no tecido produtivo suberícola é “inédito”, visto que, ao invés de utilizar a luz de uma lâmpada - método espectral -, preferiu recorrer à corrente eléctrica.“Existem cinco estudos sobre esta temática em Portugal, que começaram a ser realizados em 1986, com a análise da cortiça através da luz. Eu lembrei-me de fazer um estudo voltamétrico, ou seja, através da corrente eléctrica”, frisou.Trata-se de uma técnica “mais barata e menos melindrosa”, garantiu, acrescentando que a investigação teve por base “uma parcela de cortiça, de um palmo por um palmo, que foi subdividida em pequenos troços”, correspondendo cada camada a um ano.“A casca do sobreiro cresce camada a camada e, esse facto, possibilita correlacionar a concentração de chumbo numa camada com o ano em que foi produzida”, esclareceu.A investigação foi iniciada em 2000, quando João Ponte e Sousa se inscreveu no mestrado de Química Analítica, envolvendo, a partir de 2002, trabalho de laboratório, até apresentar a tese final a 14 de Março último.O colaborador docente da Universidade de Évora garante ainda que, através do método que desenvolveu, pode-se estudar a presença de outros metais na cortiça, ao longo das épocas, visto que “os sobreiros são árvores que podem viver até aos 200 ou 400 anos”.“É também possível, tendo amostras mais abrangentes e alargadas, determinar a variação espacial e temporal da distribuição do chumbo em todos os sobreiros existentes no país e em toda a Bacia Mediterrânica, onde esta espécie está muito presente”, sublinhou.A investigação de João Ponte e Sousa é considerada inédita porque foi a primeira vez que a cortiça foi analisada através de um estudo voltamétrico de redissolução anódica no modo de impulso diferencial.Isto significa que, até agora, ninguém se tinha debruçado sobre a reflexão da parte inorgânica desta matéria-prima, em particular sobre o ião chumbo.Lusa

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