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Polícia atrás de histórias muito mal contadas

Polícia atrás de histórias muito mal contadas

Menores utilizam cada vez mais estratagemas para desculpabilizarem os seus actos

Os adolescentes inventam cada vez mais histórias recambolescas para chamar a atenção da família. Que o digam as autoridades policiais, chamadas a investigar situações de alegados sequestros, que não passam de histórias mal contadas.

Em Fevereiro deste ano três adolescentes de Torres Novas queixaram-se à polícia de, durante umas horas, terem sido vítimas de sequestro. Três meses antes, duas jovens do Entroncamento afirmaram também às forças policias terem sido obrigadas a acompanhar indivíduos desconhecidos. De cada vez que há uma queixa sobre eventuais sequestros os trâmites legais e processuais são de imediato accionados, com intervenção mais ou menos directa das chamadas polícias de proximidade – PSP e GNR -, da PJ e do Ministério Público.São procedimentos habituais que nos últimos tempos têm esbarrado numa dura realidade – a simulação do acto. Ganha-se preocupação e perde-se tempo, como dizia a O MIRANTE o responsável por uma das forças policiais do distrito.A queixa apresentada pelas três adolescentes de Torres Novas deverá ser arquivada pelo Ministério Público. Porque na investigação efectuada pelas polícias – primeiro pela PSP, depois pela PJ - a bota não batia com a perdigota.Ao que as autoridades apuraram, as raparigas de 15 anos, todas amigas, terão ido voluntariamente e não obrigadas a dar “umas voltas” pela cidade e sua periferia, com alguns rapazes. Segundo a convicção das polícias “deixaram passar o tempo” e quando se aperceberam das horas – cinco da manhã – entraram em pânico.O medo de represálias por parte da família levou-as a engendrar um esquema para se desresponsabilizarem da situação criada, queixando-se de terem sido sequestradas por estranhos. Estranhos que, de acordo com os seus próprios depoimentos, não usaram de força, não as molestaram nem física nem verbalmente e até as deixaram no mesmo local que as tinham “apanhado”. “Houve várias contradições entre o que contaram aos pais e o que disseram à polícia”, referiu o sub-comissário Jorge Soares, comandante da secção de investigação criminal e chefe da área de operações e segurança do comando de Santarém.Contradições que nos últimos tempos têm sido cada vez mais recorrentes, segundo o director da Polícia Judiciária de Leiria, embora não haja estatísticas sobre estas questões. “Elas são geralmente arquivadas e não contabilizadas para o nosso trabalho”. As duas jovens que alegadamente tinham sido sequestradas no Entroncamento em Novembro do ano passado também não conseguiram manter a história por muito tempo. Afinal, tinham estado apenas com os respectivos namorados e, mais uma vez, o receio de represálias tê-las-á levado a dramatizar a situação. Carlos Gomes só lamenta que a verdade só seja descoberta depois de horas e horas dedicadas à investigação.“Jovens serem forçadas por estranhos a chegarem tarde a casa é uma situação vulgaríssima hoje em dia”, ironiza o responsável da PJ, adiantando que na altura as adolescentes não se preocupam com as consequências da sua mentira. “E há até quem repita”.A psicóloga Maria João Saraiva acredita que os adolescentes que têm este tipo de comportamento não andam simplesmente “a ver filmes a mais”, mas têm uma necessidade de chamar a atenção da família.“Hoje em dia o relacionamento entre pais e filhos é insuficiente na maioria dos casos e em alguns praticamente não existe. Depois do trabalho, dos estudos e das actividades extracurriculares e sociais pouco tempo sobra para a família estar junta. Por isso, quando se sentem deprimidos os jovens exteriorizam os seus sentimentos em grande, de uma forma que os pais têm de os sentir”, refere a psicóloga.Que dá a receita mágica para que estes comportamentos não se repitam – conversar muito com os filhos, ser mais que pai, ser amigo, não impor mas aconselhar, não proibir por proibir, mas fundamentando o seu não. Porque, diz Maria João Saraiva, os jovens só precisam de entender os porquês.Sabendo ou não os porquês a verdade é que os jovens incorrem numa ilegalidade punível judicialmente (pena de prisão até três anos ou pena de multa) quando prestam falsos testemunhos. Ou melhor, incorreriam, se não fossem considerados inimputáveis, por terem menos de 16 anos. Margarida Cabeleira
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