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Anti-glorioso Serafim das Neves

As minhas desculpas pela involuntária ofensa. Não me lembrei da tua hiper-alergia ao glorioso. Ia-te matando mas foi sem querer. Não vale a pena dizer-te que o glorioso não tem o exclusivo de utilização da palavra glorioso. Tu não entendes assim e estás no teu direito. Em Portugal, país livre e democrático, cada um dá o significado que quer às palavras e ninguém pode levar a mal. Muito menos nesta altura de comemorações do 25 de Abril. Vou tentar banir dos meus e-mails essa amaldi-çoada palavra. Mesmo quando te quiser falar do glorioso corpo da nossa amiga Glória. Serafim, estou empanturrado de discursos Abrilinos. Apetece-me mesmo fazer uma Abrilada para nunca mais ter que aturar tal coisa. Já tenho o slogan, que nisto de coisas de Abril nada melhor que começar por um slogan. “25 de Abril sempre, discursos e sessões solenes, nunca mais!”. Diz-me se gostas, por favor. E se aderes ao movimento. E não te assustes. Chamo-lhe movimento mas isso não significa que tenhamos que nos mexer. É um movimento parado. Uma outra característica dos movimentos nacionais. Passei o dia de aniversário da Revolução a ouvir falar de lutas, batalhas, guerras, combates. A rapaziada discursiva esteve, como sempre, imparável. E para sobremesa lá vinha sempre o “Contra os canhões, marchar, marchar!” do nosso Hino. Nunca vi Nação tão guerreira como a nossa. E os políticos então são piores que marines enfurecidos. Fui saltitando da televisão para o rádio. Uns diziam mata e logo outros respondiam esfola. O meu miúdo mais velho até perguntou se ia começar a guerra. E estava preocupado, o cachopo. “Temos que continuar a lutar contra a pobreza. A guerrear contra o desemprego. A travar um combate de morte contra o insucesso escolar. A batalhar pelo progresso”. Eu nem sabia o que dizer ao puto. Estive sempre à espera que alguém sacasse de um lança-granadas e desatasse a atirar ameixas contra pedintes, desempregados, analfabrutos e empresários falidos. Uma tortura. E tudo isto ao som de cantigas que só se ouvem no 25 de Abril. Cada aniversário da revolução é uma bezana de revivalismo. Um regresso ao passado sem máquina do tempo. Uma estopada que não se aguenta. O Zeca Afonso fez uma canção há que séculos sobre um pintor que foi morto a tiro pela polícia política. Uma letra triste temperada com raiva. Passei por uma praça de uma terreola e estava lá um marmelo a cantar aquilo como se fosse o malhão, malhão. Ainda lhe atirei com um tijolo mas não lhe acertei. Tenho que treinar a pontaria!Concordo com a tua interpretação do termo “Papável”. Realmente a Cindy Crawford é altamente papável. Já o D. José Policarpo...enfim, gostos não se discutem, mas cá para mim, mil vezes a Alexandra Lencastre, ainda para mais agora que anda a usar um creme para tirar as rugas. Já a imaginaste com a pele lisinha de todo??!!Vou ficar por aqui para não escrever mais disparates. Ia ficar por aqui. Afinal lembrei-me de uma coisa que ando para te contar há carradas de tempo. Uma vez entrei num centro de saúde e vi um cartaz que aconselhava os homens de idade a manter uma vida sexual activa como forma de prevenir problemas com a próstata. Eu juro pela saúde dos meus filhos que não estava a sonhar. Mas o que é certo é que nunca mais vi cartaz idêntico em lado nenhum. E de cada vez que falo nisto a alguém ficam a olhar para mim como se eu fosse maluco. Há médicos que até concordam que nada melhor para a próstata do que fazê-la funcionar mas mesmo esses não acreditam que alguma vez possa ter estado exposto num centro de saúde tal aviso.Tu percebes alguma coisa disto? Então se dar umas regularmente é benéfico para a próstata porque é que será tão estranho eu ter visto um cartaz a aconselhar aos homens entradotes uma vida sexual activa? Mas afinal que raio de democracia é esta?! Foi para isto que se fez o 25 de Abril?! Eu desafio o Ministro da saúde, os directores dos centros de saúde e os médicos a dizerem toda a verdade ao povo. Em nome da democracia e da revolução gritem bem alto, para todos os portadores de próstata, a palavra... de ordem da salvação: “Avante, camarada, avante!!!”Um abraço democrático do Manuel Serra d’Aire

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