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A arte de tecer redes

Manuel Moreira, descendente de avieiros, é conhecido na zona de Azambuja pela sua habilidade

O artesão Manuel Moreira, 76 anos, descendente de uma família de pescadores da praia de Vieira de Leiria, aprendeu a tecer redes de pesca com o pai. Hoje a actividade ocupa o antigo fragateiro de Azambuja nas horas livres.

Manuel Moreira, 76 anos, desenrola um pedaço de linha verde de nylon e com uma agulha de tecer redes de pesca vai entrelaçando os fios. Algumas horas depois a teia de nós transforma-se numa malha de rede larga que o artesão prende a um arco de arame.É assim que o antigo fragateiro de Azambuja ocupa os seus tempos livres. Os artigos que confecciona são vendidos numa loja de artigos de pesca de Azambuja onde costuma colaborar. O trabalho não rende muito dinheiro – as redes já são quase todas feitas em série - mas Manuel Moreira não gosta de estar parado.“Fazer redes não tem nada que se lhe diga. Mais difícil é remendá-las”, confessa. O grande mestre do restauro das redes era o seu pai, mas Manuel Moreira já tem remendado algumas.O artesão também se ocupa das tradicionais nassas, as redes usadas para a pesca da enguia. O trabalho de confecção desta rede é mais demorado porque a malha tem que ser multiplicada no interior para prender o pescado.Os camaroeiros também são confeccionados por Manuel Moreira. Compra a malha já feita em Buarcos, onde se conseguem melhores preços, e cose as bainhas com agulha de ponto cruz. “Este é o ponto utilizado pelas senhoras na costura”, explica, enquanto cose habilmente a malha da rede com linha de cor bordeaux. Remata o trabalho e com um isqueiro queima a ponta da linha para evitar que se desfie.Com a mesma malha Manuel Moreira costura sacos para transportar peixe. Os amantes da pesca utilizam-nos para arrecadar o pescado, mas o artigo tem as mais variadas utilidades. “Há senhoras que me pedem para fazer sacos com rede branca e utilizam-nos para lavar a roupa na máquina”, acrescenta.Com blocos de cortiça Manuel Moreira fabrica também pequenas bóias para a apanha da enguia. O artesão lima as arestas dos objectos, de forma triangular, e aplica-lhes um aparelho. Depois são pintados de verde ou vermelho, conforme a vontade do freguês, e finalmente levam quatro metros de fio e chumbado para ir ao fundo do rio. A parte de cima da bóia fica branca para chamar a atenção do pescador. “Assim que a enguia prende dá logo sinal”, assegura.O artesão, que vive desde os 13 anos em Azambuja, nunca foi pescador, mas aprendeu a tecer redes com o pai, descendente de uma família de pescadores natural da praia de Vieira de Leiria, na zona Oeste. Começou a trabalhar mesmo antes de entrar para a escola, aos seis anos. Por essa altura já tecia nassas, redes de apanha de enguias, que eram vendidas a 10 tostões na aldeia.Em Azambuja o jovem tornou-se fragateiro. Trabalhou como marítimo na altura da Segunda Guerra Mundial no transporte das mercadorias aos concelhos vizinhos de Salvaterra de Magos e Cartaxo. À época, o Tejo era a principal via de comunicação. Foi moço e camarada das fragatas. Quando o transporte marítimo entrou em crise empregou-se numa empresa de vinhos. Trabalhou na General Motors, em Azambuja, até que decidiu emigrar para a Alemanha. Depois do 25 de Abril de 1974 regressou à terra. Simplesmente para poder “falar à vontade”. E foi trabalhar para uma fábrica de pó de tomate, em Azambuja. Ali esteve até há 10 anos se reformar. Sempre esteve ligado à água. Primeiro na Vieira de Leiria e depois como fragateiro. Hoje dedica-se à pesca desportiva. Continua a fazer redes porque já se habituou a ter esta actividade. Os clientes não são muitos. Aparecem sobretudo na Primavera para a pesca ao remolhão, a enguia. Por esta altura Manuel Moreira também se aventura nas margens do rio. À espera do que a maré trouxer.Ana Santiago

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