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Meio século a lidar com gado bravo

Campino Joaquim “Preceito” homenageado na Feira de Azambuja

Joaquim “Preceito” trocou a escola pela liberdade dos campos ribatejanos. O campino foi homenageado domingo durante a feira de Maio, em Azambuja.

Tinha sete anos quando o pai, maioral dos bois de trabalho, o levou à escola. Queria poupá-lo à dura vida na lezíria, mas o jovem Joaquim Almeida Inácio não se deixou deslumbrar pela cartilha e preferiu a liberdade do campo.“Assim que voltou costas o seu menino fugiu da escola e quando o pai chegou a casa já ele lá estava. Em consequência levou uma daquelas tareias. Mas bateu o pé e não voltou”, conta José Jerónimo, o coordenador geral da Feira de Maio de Azambuja, durante a homenagem ao campino, na manhã de domingo.Foi assim que Joaquim “Preceito”, que há trinta anos ajuda a dar cor a uma das mais genuí-nas feiras do Ribatejo, iniciou uma vida de trabalho. Já lá vai mais de meio século.Começou a trabalhar na casa Pompeu Reis como anojeiro de seu pai. Tinha a mesma tarefa que o rapaz dos bois, das vacas e das éguas. Depois, ainda jovem, passou pela Casa Prudêncio, em Azambuja, e trabalhou como maioral dos garraios bravos nas casas Cabral Assunção, Oliveira Irmãos, Júlio Borba, Lico e Rui Gonçalves.Preparou cavalos – a melhor ferramenta da profissão - recolheu touros em praças de todo o país, acompanhou muitos curros de toiros em França e Espanha e conduziu gado bravo durante as cheias que às vezes devastavam a lezíria.O campino, 59 anos, tem muitas histórias de quase uma vida a lidar com gado bravo. A primeira vez que teve medo era ainda aprendiz ao lado do pai. Um toiro que tinha sido corrido em Beja conseguiu fugir para o rio, numa zona de margens escarpadas.“O meu pai conseguiu abeirar-se dele com água pela barriga do cavalo. Fomos buscar dois bois de trabalho. Amarrou a corda à canga dos bois e ele saiu de lá arrastado. Cá fora investiu contra toda a gente, mas conseguimos metê-lo no enjaulador”, recorda pela voz de José Jerónimo.Em Azambuja, na casa Rui Gonçalves, um toiro atravessou a Vala das Mechias e passou-se para o Valado das Cortes. “Ia sendo uma tragédia. O toiro picado p’la gente adiantou-se e passou ao lado da Ti Vitória. Com certeza que não a viu. Senão teria sido bonito”, continua.Há 30 anos regressou à casa Oliveira Irmãos como maioral dos toiros. É no Monte Barrão, propriedade da casa agrícola, em Samora Correia, que vive há três décadas com a família. “Hoje os campinos já não vivem em barracas de caniço”, garante Joaquim “Preceito”, que criou as suas seis filhas em plena lezíria.Ao contrário do que aconteceu com ele, não admitiu que qualquer das suas seis filhas fugisse da escola. Parte da família está longe, mas quando se junta já são 15 à volta da mesa. Nenhuma das seis raparigas seguiu a arte de conduzir gado bravo, mas no dia da homenagem foi o pequeno João, cinco anos, que alinhou a cavalo ao lado do avô para participar no tributo a um dos homens que ajuda a tradição a ganhar vida todos os anos em Azambuja.Ana Santiago

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