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Aos oito anos já toureava

Aos oito anos já toureava

Francisco Mascarenhas comemora 60 anos de alternativa

Francisco Mascarenhas foi um dos grandes nomes do toureio das décadas de 40 e 50. Ainda hoje é venerado por muitos. O cavaleiro de Almeirim até com uma perna partida toureou.

Numa corrida em Évora, o touro atirou com o cavaleiro Murteira Correia ao chão. Francisco Mascarenhas, que ia tourear o segundo touro, saltou para dentro da praça a acudir ao colega. O animal colheu-o e partiu-lhe uma perna. O cavaleiro de Almeirim, hoje com 78 anos, pediu para o colocarem em cima do cavalo e entrou na praça para acabar a lide, enquanto Murteira Correia era transportado para o hospital da cidade. O episódio passou-se há muitos anos, antes do cavaleiro ter deixado as arenas por volta de 1956, devido às dificuldades de visão provocadas por uma miopia. Depois de tourear o primeiro, deu a volta de agradecimento agarrado aos forcados porque não conseguia andar. As dores não o fizeram desistir e voltou à arena para enfrentar o segundo touro. Veio o intervalo e foi levado para a enfermaria onde a situação piorou. “Um enfermeiro disse-me que eu tinha era uma entorse. E nisto começa a tentar endireitar-me a perna. Quanto mais me mexia mais me partia”, recorda. O cavaleiro já não conseguiu calçar a bota de montar, que teve que ser aberta de lado com uma faca. Foi-lhe posta na perna e atada com uma fita. Francisco Mascarenhas voltou a ser colocado em cima do cavalo e lidou os outros dois touros que faltavam. No fim da corrida foi para o hospital de S. José (Lisboa), onde os médicos verificaram que a perna estava fracturada em três sítios. Na carne guarda as cicatrizes da operação e na memória e no coração a homenagem que os aficionados lhe fizeram: “Quando lá voltei, no ano seguinte, entrei na praça e as pessoas puseram-se de pé numa grande ovação”.Esta é uma das muitas histórias daquele que foi um dos maiores toureiros portugueses e que este ano comemora 60 anos de alternativa. Foi tirada na praça do Campo Pequeno em 29 de Agosto de 1945, das mãos do mestre João Branco Núncio que carinhosamente chama de grande amigo. Mas antes já Francisco Mascarenhas toureava. Estreou-se com oito anos, afirmando-se como o mais novo cavaleiro praticante de que há conhecimento até hoje. Aos 12 anos foi tourear para Espanha. A primeira corrida no país vizinho foi um sucesso, tendo cortado uma orelha. A terceira corrida foi em Madrid e as portas abriram-se. Um empresário propôs-lhe a realização de 50 corridas. Francisco Mascarenhas aceitou, mas ressalvou que não ia ser capaz de cumprir o contrato por causa do transporte dos cavalos, que na altura era feito de comboio. O que demorava muito tempo e impedia que toureasse um dia numa praça e no dia seguinte estivesse noutra a vários quilómetros de distância.O problema acabou por ser resolvido com a adaptação de uma camioneta para transporte de cavalos, na qual foi colocado um toldo para proteger os animais. Enquanto esta ia viajando pelo território espanhol o empresário estava a fazer melhorias noutra camio-neta, já com uma rampa incorporada para a entrada dos animais. “Fui o primeiro a ter um camião para transporte de cavalos”, diz orgulhoso, acrescentando que em Portugal João Núncio seguiu a ideia.Aos 17 anos, Francisco Mascarenhas tirou a alternativa no Campo Pequeno. Entretanto a sua mãe morreu e como ele a acompanhava em Espanha, juntamente com o pai, decidiu não fazer mais nenhuma temporada no país vizinho, apesar de ir lá às vezes fazer corridas. Toureou também em França e nas ex-colónias portuguesas, em Lourenço Marques e Luanda. É considerado um grande nome da tauromaquia. Pelo seu picadeiro, na quinta da Gouxaria, entre Almeirim e Alpiarça, costumam passar toureiros de renome. Refere os casos de João Moura, Paulo Caetano, entre muitos outros portugueses e espanhóis. Francisco Mascarenhas vai ser homenageado este ano em Sevilha e Madrid, numa data que está a ser definida. No mês passado realizou-se um jantar comemorativo dos 60 anos de alternativa em Almeirim.
Aos oito anos já toureava

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