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Esotérico Manuel Serra D’Aire

A tua reflexão sobre os e-mails que por aí proliferam é demasiado profunda para ser debatida numa época como esta, onde os meus pensamentos esvoaçam tipo moscas varejeiras em torno de cervejas frescas, pratos de caracóis, camarão grelhado, verde gelado, palmeiras e biquinis e tangas a cobrirem corpos tostados.De qualquer forma, não vais sem resposta. Também eu sou uma vítima da fúria e-mailiana dos portugas e não só. Tal como o carteiro me atafulha a caixa de correio de publicidade também eles me enchem o correio electrónico de porcaria. Mas isso até tem as suas vantagens: pelo menos fiquei a saber que neste país desaparecem crianças todos os dias e que há pais desesperados que a primeira coisa que se lembram é de recorrer à mailing list em vez de irem à polícia.Antes, punha-se o anúncio na TV acompanhado pelo logótipo da PJ e da cara do fulano - “Desapareceu de casa dos seus pais Tibério Acúrcio, reformado, que tinha como principal passatempo frequentar o Parque Eduardo VII. Vestia à altura do seu desaparecimento um vestido de noiva branco decotado e tinha uma obsessão recente por visitar Espanha”. Agora, pedem-nos para andar à caça de putos que já se sabe que não páram quietos. E um gajo tem de ir, para não ficar com problemas de consciência nem ser acusado de estar a colaborar com misteriosos criminosos. Na rua ando sempre com um catálogo onde constam as 5673 fotografias de crianças que desapareceram no último ano e que me mandaram por e-mail. É por causa das dúvidas. Mas até à data não encontrei nenhuma…Dessa correspondência toda fiquei também a saber que muitos líderes africanos já falecidos, como Jonas Savimbi, deixaram balúrdios às famílias e estas não sabem o que hão-de fazer à massa. Só assim se compreende que me estejam constantemente a convidar para ganhar um milhão de dólares sem me chatear muito. Obviamente, nunca lhes respondi. O meu pai sempre me disse para não aceitar dinheiro, cigarros e pastilhas de desconhecidos. E eu continuo a cumprir, com excepção dos cigarros...Refinado Manel, não concordo com os exageros sobre o clima que se vive entre presos no presídio de Santarém. Essa história de que os agentes da autoridade presos são ameaçados pelos outros presos de delito comum é uma grande treta. Será que ainda ninguém percebeu que aquilo é uma forma de ocupar o tempo a quem o tem de sobra?E que melhor e mais genuíno passatempo do que brincar aos polícias e ladrões? Não brincámos todos nós a isso na nossa infância? Porque não poderão eles agora fazer o mesmo? Pelo menos é uma forma de recreio mais didáctica e saudável que brincar aos comboios ou ler a colecção toda da “Gina” e da “Tânia”.Aliás, só podem estar a brincar quando dizem que um preso tentou agredir outro com um corta-unhas. Ainda por cima à saída da missa. Quem é que leva um corta-unhas para a missa? Ninguém! Daqui a pouco estão a dizer que os presos vão para a eucaristia com o estojo da manicure! Será que não perceberam que a rapaziada estava na paródia e que nas prisões também há o direito à reinação? Basta de invenções!Atrocidade grave seria, por exemplo, se um preso tivesse tentado arrancar os pelos do nariz a outro com uma pinça. Ou dos ouvidos. Ou doutros pontos sensíveis. Toda a gente sabe o que isso dói. É pior que perder uma nota de 50 euros. A própria Convenção de Genebra proíbe determinantemente tais práticas abomináveis, que ficaram famosas por serem levadas à prática por entidades como a Inquisição, a Pide e todos ministros das Finanças desde Afonso Henriques.E agora vou-me pôr ao fresco, porque o tempo não está grandes relambóriosUm abraço do Serafim das Neves

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