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A terra dos caracóis e da cerveja

A terra dos caracóis e da cerveja

Várzea é uma freguesia do concelho de Santarém onde há uma grande pobreza de equipamentos públicos

A Várzea é uma freguesia pobre em equipamentos públicos ,mas alberga parte da zona industrial de Santarém. As duas fábricas de cerveja produzem o líquido que acompanha os pratos de caracóis apanhados na zona.

Sob o sol tórrido do meio-dia, Isabel Colaço caminha pela beira da estrada de alcatrão que liga a zona industrial à freguesia da Várzea, concelho de Santarém. Saco de caracóis abraçado à cintura. “Vou levá-lo a casa da minha vizinha onde um comprador vai buscar os meus e os dela”, explica. Levantou-se cedo, antes do sol começar a brilhar para apanhar os bichos que, garante, por aquela zona são os melhores. A habitante da freguesia da Várzea dedica-se à apanha dos caracóis que fazem as delícias de muita gente nas cervejarias e restaurantes. Ganha 2,5 euros por quilo e no ano passado chegou a apanhar 20 quilos por dia. Este ano há menos quantidade. Isabel mora há 40 anos na freguesia, que classifica como calma com bonitas paisagens. Pelos campos, para além do vagaroso animal, encontram-se orégãos. Uma erva usada na confecção dos moluscos. Várzea está rodeada pelos campos onde antes se faziam grandes sementeiras de trigo, que vão dando lugar a campos abandonados. Nos 21 quilómetros de área a localidade alberga também duas fábricas cervejeiras. É, diz o presidente da junta de freguesia, Joaquim Canha (PSD), a única freguesia do país que tem duas fábricas de cerveja: a Unicer e a Cintra. Quem vem de Santarém tem que apanhar uma estrada que passa mesmo ao lado da unidade que produz a famosa cerveja Super Bock. Nos poucos quilómetros até à sede de freguesia há casas degradadas, a cair. Eram de pessoas que residiam na zona, que morreram. Os filhos radicaram-se noutras zonas. Várzea é também conhecida pelas muitas quintas que salpicam os montes e vales. Eram elas que davam trabalho às gentes da terra. Eram as donas do território da freguesia. Agora muitas estão abandonadas. Duas foram aproveitadas para o turismo rural. Há muitos anos existia também muitos moinhos na localidade. Pelas contas dos mais velhos existia dezenas destes equipamentos usados para moer o trigo. Os lagares de azeite eram outras das indústrias artesanais da zona, aproveitando o facto da localidade ser povoada por muitos olivais. Havia pelo menos sete que não resistiram ao progresso e foram fechando. Com uma população de cerca de 1.700 pessoas, a Várzea tem sido procurada para a construção de casas de fim-de-semana. Apesar de estar às portas da cidade e de albergar a zona industrial de Santarém, o desenvolvimento passou-lhe ao lado. Tem abastecimento de água a cem por cento. Mas rede de saneamento é uma miragem. A dispersão do casario, os seus 19 lugares, tem dificultado a construção desta infra-estrutura básica. E nem a sede de freguesia a possui. Os resíduos domésticos são encaminhados para fossas, que depois são limpas por máquinas da autarquia. Mas muitas vezes, garante o presidente da junta, os detritos líquidos vão parar a valetas à beira das estradas. Algumas pessoas encaminham também os líquidos para valas e valetas tornando-as esgotos a céu aberto, diz o autarca. A par deste problema aparecem os caminhos vicinais que estão bastante deteriorados. A Estrada Municipal 581, que liga a Perofilho, também está no rol dos maus acessos. Com poucos transportes – um autocarro ao fim da manhã e outro ao fim da tarde – o abandono da agricultura, a falta de equipamentos de apoio à população, a freguesia parece que parou no tempo. Mesmo ao lado das fábricas onde se emprega a mais moderna tecnologia.Várzea não tem centro de dia para os idosos. Não tem espaços para ocupar os tempos livres dos jovens, nem um poli-desportivo. Quem quiser jogar futebol tem que ir às freguesias vizinhas. Numa pobreza de equipamentos públicos salva-se o posto médico que funciona diariamente com serviço de enfermagem e três vezes por semana com consultas médicas. O que tem de bom são os terrenos férteis, a tranquilidade, a hospitalidade das suas gentes. Há um táxi que vai transportando algumas pessoas entre os lugares e a sede de freguesia e a cidade de Santarém. Na freguesia há duas colectividades que têm um papel social importante: Grupo Desportivo e Cultural “Os Galitos da Várzea” e o Grupo Desportivo e Cultural de Perofilho. António Palmeiro
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