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Uma revista que ofende

Tenho quarenta e cinco anos de vida pública, participei em muitos combates políticos pela Democracia e por Santarém, umas vezes na oposição outras vezes colaborando na gestão do Município do qual fui Presidente da Assembleia Municipal em 1985/1989. Muitas vezes estive com os Presidentes Francisco Viegas, Ladislau Botas e Miguel Noras, outras vezes critiquei-os. Mas devo dizer, em nome da verdade que, quer com um quer com outro, nunca assisti a actos de tão grande demagogia e descaramento como aqueles que estão a ser praticados pela Câmara Municipal de Santarém. Escrevo indignado. Não sou homem de polémicas, mas às vezes temos de nos sentir e de dizer basta!Acabo de folhear a publicação editada pela Câmara com os apoios da CULT, PORLVT e FEDER. É uma vergonha o que se vê, porque é uma revista luxuosa que, obrigatoriamente, custou milhares de euros. Mesmo com os apoios exteriores à Câmara não deixa de ser um enxovalho e ofende as centenas de pessoas a quem a Câmara não satisfaz os compromissos. Associações Recreativas e Culturais, que esperam os magros subsídios há alguns meses, Juntas de Freguesia a quem não são pagos os compromissos deste mandato e do anterior e ainda os fornecedores de serviços e do material que a Câmara, em muitos casos, pode levar ao desespero se continuar na indiferença para com eles.O Eng. Rui Barreiro, actual presidente da Câmara, diz que esta revista serve para dar conta do que fez a Autarquia no seu mandato e o que se vê e o que se lê é, para mim, uma vergonha, pois não assume toda a verdade. Por que não uma lista com as dívidas da Câmara e com os dinheiros mal utilizados em obras de fachada nas vésperas das eleições? O Sr. Eng. Rui Barreiro nem se apercebe do alto da sua vaidade que insulta a pobreza de tantas agremiações, gastando desta maneira em propaganda pessoal aquilo que é devido ao concelho. Quando escrevo “vaidade” que me perdoe o meu amigo Rui, mas as sete fotografias de lado, de frente sem nenhum pudor nem preocupação pela dissimulação de auto-promoção demonstram-na. O poder é para ser gerido com peso, conta e medida. O poder pessoal é inimigo da Democracia. É no mínimo estranho não aparecer sequer uma fotografia de um vereador do seu executivo. Da oposição ainda se perdoa, mas agora de quem se recandidata nem pensar!As obras deste mandato não nasceram de geração espontânea. Foram pensadas e executadas por muitas pessoas que têm passado por esta Autarquia. Não são obra exclusivamente sua.O que mais me indigna na revista publicada pela Câmara é o despautério dos subsídios, pois faço parte da Direcção de uma Associação Cultural, das mais prestigiadas da cidade, e sei bem do atraso, de cerca de um ano, em que a Câmara está em dívida. Costuma-se dizer que o Estado paga sempre, “mas quando o remédio chega o doente já está morto”. Sei por esta Associação e pelas outras que a situação é a mesma, colectividades sem nenhum apoio ou com os subsídios em atraso, fazendo das tripas coração para se manterem abertas graças ao sacrifício e carolice dos seus associados. Enquanto isto, o senhor Presidente brinda-nos com uma revista caríssima, com as suas sete fotografias de propaganda e mostrando obra que os outros fizeram e outras que ele nem sabe se vai fazer.É preciso ter descaramento!Eurico Saramago

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