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31 anos do jornal o Mirante

Um agradável velório

Uma notícia falsa num jornal pode ser devastadora. Mesmo que haja posteriores desmentidos, correm-se sempre dois riscos.Algumas pessoas que terão lido as mentiras poderão não vir a dar com o desmentido.Por outro lado, existindo duas histórias, é possível que subsista sempre a dúvida de qual delas é a verdadeira.Alguns titulares de cargos públicos tinham direito a passagens aéreas em classe executiva. O bilhete não é barato. Os beneficiários chegavam à agência de viagens e diziam que o queriam trocar por duas passagens em económica. Assim, os cônjuges viajavam sem pagar nada. Ou então guardava-se o bilhete para outra ocasião.Era o desdobramento dos bilhetes de avião, que causou algum escândalo há tempos atrás.O órgão que fiscalizava, em primeira linha, essas situações era o Tribunal de Contas.Ora o jornal O Independente veio com uma notícia bombástica. Haveria juízes do próprio Tribunal de Contas que faziam exactamente o mesmo. Obtinham o desdobramento dos bilhetes.Isso era uma total aldrabice. Nenhum juiz do Tribunal de Contas tinha agido dessa forma.Por isso, o jornal foi processado e condenado a indemnizar o Tribunal de Contas.Mas são danos difíceis de reparar.Os leitores poderão ficar sem saber em quem acreditar.O problema não é de hoje.Nos anos 30, uma das estações de rádio mais conhecidas era o Rádio Club Português. Era dela sócio Luís Aranda, ourives de sucesso da capital.Embora baixo e um pouco forte, vestia-se elegantemente e acabava por facilmente atrair as atenções femininas.A mulher andava sempre um pouco desconfiada e dedicava especial vigilância às saídas nocturnas.Na altura, ainda se publicam os vespertinos, jornais que eram colocados à venda durante o período da tarde.Tinha saído a notícia da morte de José Gamboa, popular actor e amigo de Luís Aranda.Naturalmente, este quis participar do velório. Após o jantar, colocou fato e gravata de acordo com a ocasião e anunciou à esposa onde iria.A notícia do jornal não correspondia à verdade. Tinha, sim, falecido um outro José Gamboa, que não o conhecido artista.Mas ainda antes de chegar ao local do velório, Aranda deparou-se com uma jovem, com quem veio a entreter-se toda a noite até às onze da manhã seguinte. Deixou de parte o velório. Nem veio a saber que, afinal, o actor estava bem vivo.Quando regressou a casa, Luís Aranda preparava-se para almoçar e sentou-se no sofá.Notava-se alguma frieza por parte da esposa. Ele quis entabular conversa e lá falou do desaparecimento de seu amigo. Mais um que se tinha ido, ainda era relativamente novo, tinha sido impressionante acompanhar o velório…A mulher limitou-se a estender-lhe o jornal da manhã. Ela tinha desenhado um círculo em redor da notícia que desmentia o falecimento do actor, “que continuava vivo e de boa saúde”.O marido leu a notícia e não saiu do sofá. Colocou o jornal em cima da mesa. Virando-se para a mulher, disse-lhe com o ar mais natural do mundo:- Mas ouve lá, tu acreditas em tudo o que vem nos jornais?Há dias, a Revista brasileira “Isto É” foi condenada a indemnizar os proprietários de um colégio, que sofreram danos enormes em virtude de uma reportagem saída há uns anos atrás.A publicação tinha noticiado que, naquele estabelecimento de ensino, havia práticas pedófilas.O caso tomou as proporções próprias da dimensão da conhecida revista.Centenas de populares dirigiram às instalações escolares e apedrejaram o edifício.Afinal, a notícia era completamente falsa.* Juiz(hjfraguas@hotmail.com)

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