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União de Santarém à beira do colapso

Direcção quer contestar dívida de 161 mil euros mas ninguém sabe onde param os documentos

Sem dinheiro, sem património, atolado em dívidas e com os sócios e a cidade cada vez mais distantes, a União Desportiva de Santarém (UDS) está numa espécie de morte lenta para a qual ninguém parece encontrar cura. A assembleia-geral realizada na sexta-feira contou com apenas 20 sócios e não trouxe qualquer proposta para resolver as dívidas e os problemas do clube.

A assembleia-geral da União de Santarém marcada para sexta-feira, dia 26, prometia ser quente e identificar e culpabilizar os responsáveis por mais uma dívida do clube às finanças, mas a “montanha” acabou por “parir” um rato.Pelo salão dos Bombeiros Voluntários de Santarém, onde se realizou a reunião (o clube não tem instalações próprias), passaram apenas duas dezenas de associados e apesar de muita conversa, continua sem se saber onde param os documentos (referentes a receitas e despesas) do ano de 2001.Recorde-se que a actual direcção, presidida pelo ex-guarda-redes Bruno Torre, que tomou posse há cerca de dois meses, foi surpreendida assim que tomou posse com mais uma dívida ao fisco de 161 mil euros. Isto depois de ter sido informada que a dívida àquela instituição tinha sido negociada e estava a ser paga faseadamente até 2007.Na sexta-feira, daqueles que têm algumas responsabilidades nesta situação, apenas três deram a cara - João Costa, José Vale e Joaquim Candeias. Os restantes - e são muitos - primaram pela ausência.João Costa e José Vale, que ajudaram a negociar a dívida ao fisco que já vinha de 1993, garantiram que estavam ali de cabeça erguida. “Quem não deve não teme e nós estamos aqui para assumir as nossas responsabilidades”, disseram em conjunto. Joaquim Candeias, que passou pela direcção apenas um mês, afirmou também que nada tinha a temer, e foi mesmo mais longe: “isto é um caso de polícia e o resultado da auditoria que foi feita ao clube já há muito que devia ser conhecido, e a partir daí devia ser entregue ao Ministério Público para investigação”, afirmou.O problema é que o clube terá ainda de pagar metade do valor da auditoria, cuja verba destinada ao respectivo pagamento já foi atribuída pela Câmara de Santarém mas cujo dinheiro foi gasto para saldar outras despesas.Como O MIRANTE noticiou na edição de 10 de Agosto, a nova dívida de 161 mil euros às finanças é referente ao ano fiscal de 2001, por isso posterior à dívida de cem mil euros que foi negociada e está actualmente a ser paga de forma faseada.O elevado valor desta dívida justifica-se com a ausência de suporte documental (facturas e recibos) dos movimentos realizados durante os primeiros meses de 2001 (Janeiro a Junho), altura em que o clube era liderado por uma comissão de gestão, formada por Casaca Ferreira, Fernando Gaspar, Joaquim Candeias, José Vale e António Guerra. Sem documentos, os inspectores das finanças aplicaram métodos indiciários relativamente às receitas, não sendo apresentada qualquer despesa. Ou seja, como diz a expressão popular, foi tudo lucro. Refira-se que dos três elementos dessa comissão administrativa que estiveram presentes na assembleia ninguém sabe onde param as contas.A fiscalização em causa às contas foi efectuada em 2004, e a dívida foi apresentada à direcção de então, presidida por Nuno Cardigos, que é actualmente o presidente da Assembleia-Geral, que não contestou os números apresentados. Os poucos sócios presentes criticaram-no por isso mesmo mas Nuno Cardigos defendeu-se “Como é que eu contestava esses números, se não tinha qualquer documento para o fazer, nem nunca os consegui encontrar”, argumentou.Entretanto, a discussão avançou para situações que nada tinham a ver com o problema que estava na mesa, e Bruno Torre chamou a atenção para esse facto. “Estamos aqui para dar a conhecer esta situação e a pedir para nos ajudarem a resolvê-la. Sabemos que já vem lá muito de trás, que há algumas pessoas que querem acabar com o clube, e é isso que queremos contrariar”.“Com a cidade totalmente divorciada do clube, com os sócios de costas voltadas, sem credibilidade para chamar a si as empresas, o União de Santarém não pode continuar. É preciso que os responsáveis dêem a cara, é preciso que nos ajudem a resolver este problema, e é preciso acabar com a irresponsabilidade que se instalou na vida do clube. Não podemos continuar a trabalhar com o sentido de quem vem atrás que feche a porta” apelou o presidente da direcção.No entanto, nem mesmo perante a hipótese dos directores de então poderem vir a ser responsabilizados pela dívida, porque o clube não tem nada para penhorar, se avançou com qualquer princípio de resolução. Bruno Torre e os seus companheiros de direcção ficaram para já com o “menino” nos braços.Como a União de Santarém não tem meios para pagar a um advogado para fazer a contestação da dívida de 161 mil euros e tentar o impossível, a Câmara de Santarém colocou o seu advogado à disposição do clube. Mas como todos os prazos de contestação foram ultrapassados, só muito dificilmente poderá haver alguma solução para o problema, que não seja o seu pagamento.A agravar ainda mais este problema está o facto do acordo de cedência do Campo Chã das Padeiras terminar em Setembro e o clube ficar sem local para jogar e treinar. Foi aliás na questão do campo que apareceu a única proposta de resolução. O sócio Carlos Rodrigues propôs que se formasse uma comissão, que ele próprio estava disposto a integrar, para mediar a situação entre o proprietário e a câmara e para resolver o problema, podendo a União de Santarém ser ressarcida do investimento que fez em mais valias no Campo Chã das Padeiras.Uma proposta que foi considerada utópica pela maioria dos presentes. Por isso a assembleia terminou sem qualquer proposta de solução para o problema actual. Bruno Torre acabou a afirmar que estava muito desiludido com muitas pessoas que ali deviam estar a dar a cara e que não tinham tido essa coragem.“Estou aqui para dar a cara nos próximos dois anos, mas não me peçam o impossível. Esta época está negra a todos os níveis, e se a contestação que está a ser feita não for aceite, de certeza que os dirigentes que constam deste relatório vão ser chamados à responsabilidade. O clube já não tem mais nada, e nós vamos ter muita dificuldade em respeitar os compromissos que assumimos, os coveiros que passaram por aqui nos anos passados parece que estão a vencer a sua guerra”, disse com tristeza e indignação Bruno Torre.Nos próximos dias, a direcção do clube terá de conseguir reunir cerca de 8 mil euros para pagar a dívida à Associação de Futebol de Santarém e poder inscrever as várias equipas do clube nos campeonatos em que participam.

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