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A arte de viver da pintura

Massimo Esposito, um pintor italiano apaixonado pelo Ribatejo

Massimo Esposito vive há 20 anos no Ribatejo e já só regressa à sua Itália natal como turista. O pintor, com ateliês em Abrantes, Mação e Sardoal, vive da sua arte e das aulas de pintura que vai dando. A aventura na agricultura biológica em Alpiarça faz parte do passado.

“Il pittore italiano” escrito na porta de vidro do seu ateliê/escola/laboratório numa rua do centro histórico de Abrantes é um dos locais onde Massimo Esposito, italiano de Ferrara, trabalha. Há 20 anos que trocou Itália por Portugal, mercê de um lusitano que conheceu na sua cidade. Sem nunca deixar de pintar, fez agricultora biológica, ensinou a pintar e, actualmente vive da sua arte, coisa pouco comum em Portugal. Voltar para Itália só mesmo como turista.“Gosto de viver em Portugal, se não fosse assim não se justificaria que vivesse cá há 20 anos”, diz num português com sotaque. Filho e neto de pintores, Massimo Esposito passou muitos anos da sua vida a viajar, com o saco às costas. Conheceu o Médio Oriente, a Índia, pintou nas ramblas de Barcelona e, um dia, embarcou para terra lusa. Pintava por encomenda, coisa que ainda hoje faz, e pouco tempo depois comprou uma quinta em Alpiarça. “Fui dos primeiros a fazer agricultura biológica, isto em 1986, e tinha que trabalhar no duro”.A pintura era um gosto e um meio de vida, mas trabalhar a terra exigia grande esforço, para poucos proveitos. Continuava a pintar por encomenda, a fazer azulejaria e decidiu entrar em negociações com as câmaras municipais. “Trabalhei durante um tempo com a Câmara de Santarém, pintei no Fórum Mário Viegas e ensinei várias pessoas a pintar”.Depois as coisas não correram muito bem e Massimo Esposito fixou residência mais para norte, em Abrantes. Tem ateliês no Sardoal, em Mação, vai abrir um na Sertã, tem colaborado com galerias de Tomar e Leiria. Aos 49 anos, Massimo Esposito vive exclusivamente da sua arte e pode gerir o seu tempo como entende. “Era esta situação que queria ter na vida. Pinto a qualquer hora do dia ou da noite e só tenho que respeitar as horas das aulas, de resto organizo o meu tempo como quero”, diz. Apesar das dificuldades dos homens das artes conseguirem subsistir, se não arranjarem outra forma de ganhar a vida, Esposito considera que é mais fácil viver da pintura em Portugal do que em Itália. “Há muito menos concorrência e trabalha-se com muito mais calma”.Pintar por encomenda é uma mais valia considerável. Quando residia em Alpiarça pintou para pessoas ligadas à tauromaquia, fez azulejos para casas particulares ou espaços públicos, mas continuou a pintar os seus quadros que tem expostos em muitas galerias, sobretudo na região centro. Tal como não tem horários para pintar, também não tem temáticas preferidas. “Depende das alturas, houve um tempo em que só pintava árvores. Árvores de todas as maneiras, despidas, cobertas de folhas, só árvores. Depois passei dois anos a pintar flores. Pinto a figura humana. Enfim, de tudo um pouco”.O desenho e pintura da figura humana levanta outro problema. Não é fácil arranjar modelos: “É muito complicado, as pessoas não gostam de se expor e arranjar modelos masculinos ainda é mais difícil”.Nos seus ateliês/laboratórios não há limites de idade. Massimo Esposito ensina gente de todas as idades ao som de música escolhida pelos alunos. O custo é de 36 euros por mês, com duas horas de aulas por semana, sendo os materiais fornecidos pelo pintor.“Il Pittore Italiano” nasceu da experiência e da vontade de Massimo Esposito para “dar a conhecer as próprias ideias reproduzidas nos seus quadros, desenhos e azulejos”. E a arte pode ser expressa quer “na produção artística convencional, quer na sua aplicação nos mais variados campos.” No fim de contas, diz o autor, “é importante comunicar as próprias experiências e conhecimentos técnicos a todos aqueles que querem dedicar-se ao desenho e à pintura e não só”.Licenciado pelo “Liceu Artístico de Ravenna”, em 1975, obteve o diploma de magistério em Arte Publicitária no Instituto de Arte de Urbino dois anos depois. Após fixar residência em Portugal tornou-se membro da Sociedade Nacional de Belas Artes.Margarida Trincão

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