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Alvoraçado Manuel Serra D’Aire

Alvoraçado Manuel Serra D’Aire

Como eu compreendo a tua alegria quando dás com espectáculos como o dos romenos da Fanfarre Ciocârlia em Torres Novas. Isso é mel para os ouvidos de quem tem de gramar a música da propaganda dos partidos a venderem o seu peixe. E ainda por cima de forma metafórica. Porque se tivessem uns sargos, uns chernes ou mesmo uns bacalhaus para distribuir pelo povão as notas soavam de outra maneira.Infelizmente por cá ninguém dá nada a ninguém. Pelo menos às claras. Nem chouriços como em Braga, nem electrodomésticos como em Gondomar, nem sequer a ponta de um corno, que é material característico por estas bandas. Cá só dão música e da má. E o pior é que ninguém põe mão nestes vendedores de banha da cobra por, passados quatro anos, não terem cumprido metade do que prometeram.Se eu prometer à minha mulher uma viagem às Caraíbas e não cumprir em tempo útil, o mais certo é ter as malas à porta dias depois. Os políticos mentem descaradamente e são recompensados com reformas chorudas, além de se arriscarem a ir parar ao conselho de administração de uma qualquer grande empresa.Em puto, se eu mentisse só um milésimo do que mentem os candidatos estava desgraçado. De umas palmadas maternas e de uma mão cheia de terços receitados pelo cura no confessionário não me livrava de certeza.Por isso é que, perante este cenário, pedirem-nos para votar em consciência é o mesmo que nos obrigarem a escolher para Prémio Nobel da Paz entre o Osama Bin Laden e o Adolf Hitler (este a título póstumo).Arreigado Manel, as campanhas eleitorais deviam ser proibidas. Pelos contentores de banalidades que contaminam a atmosfera sempre que um candidato abre a boca e pelas figuras de asno (sem querer ofender ninguém, sobretudo os ditos) que muitos deles fazem. Eu sei que há uma indústria a viver disso, como tu bem lembraste em anterior e-mail. E que isso é um estímulo para a economia nacional. São os empreiteiros, os fabricantes de brindes, são as gráficas, são as agências de comunicação e imagem… E são as rádios, jornais e televisões em azougada histeria a mostrarem-nos imagens de campanha (sempre as mesmas, só muda o sítio) de meia dúzia de tristes figuras (sempre as mesmas, repita-se!) agora que se acabaram os fogos florestais. Mas o reverso da medalha de todo esse circo é bem mais negro. Já não basta um tipo ser abordado diariamente por toda a sorte de pedintes e vendedores de kits do Benfica, quanto mais ter de levar com uma comitiva de gente alvoraçada e estar exposto a um aperto de mão de gente menos recomendável que o Alberto João Jardim e com uma espinha mais flexível que a Nadia Comaneci dos bons velhos tempos.Eu nesta altura não me atrevo a pôr um pé num mercado ou feira. E andar na rua só com muito cuidado e saltitando de ombreira para ombreira, verificando antes se o caminho está desimpedido.E o mais grave, meu caro, é que ainda por cima essa malta tem direito a uns dias de férias garantidos pelo Estado para andar nesses safaris à caça de papalvos e a prometer mundos e fundos. O que aliás não admira. Essa lei foi com certeza feita e aprovada por quem usufruiu ou ainda continua a usufruir dela. Porque na nossa Assembleia da República o que não falta, nem nunca faltou, são candidatos profissionais que andam em campanha ano sim ano não. Basta ver os casos dos deputados por Santarém Miguel Relvas, Luísa Mesquita e Jorge Lacão. Uma perna na Assembleia da República e outra como candidatos a cargos autárquicos em Tomar, Santarém e Abrantes. E é assim há anos. Com direito a férias em cada campanha, pois claro! Seja em autárquicas seja em legislativas. E a gente que os ature!Um voto de protesto do Serafim das Neves
Alvoraçado Manuel Serra D’Aire

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