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O vencedor

As votações são fascinantes para um jurista.Logo no primeiro ano da Faculdade, estudam-se os sistemas eleitorais.Portanto, foi com prazer que, durante os últimos dias, presidi à Assembleia de Apuramento, na minha comarca.É sempre dirigida por um juiz. Na terça feira, dia 11, dei os trabalhos por encerrados.Em breve, teremos as presidenciais.Várias pessoas me têm colocado questões sobre a lógica eleitoral. Não manifesto as minhas convicções pessoais.No entanto, posso adiantar como se passam as coisas, num raciocínio hipotético.Suponhamos que estamos num país onde vigoram eleições directas para o Presidente da República. O sistema é de duas voltas. Na primeira votação, se houver um candidato com, pelo menos, metade dos votos mais um, então é logo eleito.Caso contrário, procede-se a uma segunda volta, em que participam apenas os dois candidatos mais bem classificados.Apenas os votos validamente expressos contam. Os brancos e nulos não relevam.Imaginemos que existe apenas um candidato.É uma personalidade de prestígio, muito competente. Durante dez anos, desempenhou funções de primeiro-ministro.Se for sozinho às eleições, terá cem por cento dos votos.Mesmo que pouca gente se dê ao trabalho de ir às urnas, todos os votos válidos serão a favor dele.Portanto, ganha à primeira volta.Mas suponha-se que surge outro candidato para disputar, com este, as eleições.É um indivíduo que goza de imensa popularidade e de um inegável carisma.Já foi Chefe de Estado durante dois mandatos.Então, o primeiro não atingirá a plenitude dos votos.Digamos que A fica com 65% e B com 35%.Eis senão quando, inesperadamente, é anunciada uma alegre candidatura da área do candidato B, situada mais à esquerda.Quem a protagoniza é um deputado, escritor e homem de esquerda.Várias pessoas sairão de casa, naquele domingo, propositadamente para tentar eleger C. São pessoas que não iriam votar em nenhum dos outros dois, mas que se dispõem agora a ir às urnas.Evidentemente, alguns irão deixar de votar em B. Haverá algum desvio de votos.Portanto, as percentagens passarão a ser as seguintes. B- 33%, C – 16%, A – 51%.Este último mantém o mesmo número de votos. Mas como há mais eleitores, a proporção vai diminuindo.Vamos considerar uma outra candidatura, que já tinha sido anunciada.Trata-se de um esquerdista. É deputado de um partido minúsculo, que regista crescente adesão.Esta candidatura de D vai contribuir para que alguns já não votem no antigo presidente ou no deputado escritor.Porém, consegue captar novos eleitores. Pessoas que ocupariam o seu dia de outra forma. Mas que, sendo assim, irão votar nele.Deste modo, teremos os votos assim distribuídos. D – 10%, C – 15%, B – 30%, A – 45%.A já não consegue a vitória à primeira volta.Realiza-se um segundo sufrágio entre os dois candidatos que obtiveram maior número de votos na primeira volta.Daqui retiram-se algumas conclusões.Como já se afirmou, A obtém sempre o mesmo número de votos. Verdadeiramente, no eleitorado dele, não há indivíduos que se deixem impressionar pelas outras candidaturas.Mas quantos mais candidatos vão surgindo à esquerda, maior é o número de votantes. É que há mais e mais eleitores que se dispõem a sair de casa e confiar o seu voto num desses que vai aparecendo. O nível de abstenção diminui.As probabilidades de A ser eleito à primeira volta vão diminuindo.Ora B só terá chances de ganhar se houver duas voltas.Revela-se algo de curioso.Quanto maior for o número de candidaturas, mais beneficiado fica ele.Compreende-se com facilidade.Havendo apenas dois candidatos, a eleição decide-se sempre à primeira volta. Um dos candidatos fica com mais de metade dos votos.Se houver muitos concorrentes, os votos dispersam-se, aumentando o número de votantes.Somente num caso, B só sairia prejudicado com o aparecimento de novas candidaturas de esquerda.Tal aconteceria se surgisse um candidato dessa área que conseguisse mais votos do que ele, na esquerda. Então B ficaria em terceiro lugar e perderia definitivamente as eleições.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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