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O mecânico da Glória

Rui Silva, um ribatejano na alta roda do motociclismo mundial

É pouco conhecido na região mas é um dos mecânicos mais destacados do campeonato do mundo de motocross. Rui Silva, 26 anos, nasceu na Glória do Ribatejo e actualmente é mecânico oficial da Yamaha.

Rui Silva nasceu há 26 anos na Glória do Ribatejo, aldeia do concelho de Salvaterra de Magos. Como muitos miúdos da sua geração, sempre gostou de motas e desde cedo acalentou o sonho de ser mecânico de uma grande equipa.Os primeiros passos para esse caminho foram dados numa oficina que havia na sua rua, pro-priedade do pai do ex-piloto César Peixe, várias vezes campeão nacional de motocross e ainda hoje um dos nomes mais respeitados da modalidade, apesar de já não correr há alguns anos.Na oficina começou por fazer os trabalhos mais simples de mecânica mas por volta dos 14 anos começou a acompanhar César Peixe nas corridas. O seu interesse pela mecânica foi aumentando, sobretudo pelos motores e a sua preparação.César Peixe – conhecido por “Piranha” – foi o primeiro mestre de Rui Silva. Ensinou-lhe muito e foi graças a ele que recebeu a sua alcunha – Barbo. Nome que ainda hoje é a sua imagem de marca e que deu nome à empresa de material para motos que criou em 2004 – a Barbo Racing.Com a passagem do Piranha para outra equipa, Rui Silva deixou de o acompanhar nas provas e foi trabalhar para um concessionário da Yamaha, passando a ficar ligado à área do todo-o-terreno.Entretanto, há quatro anos, os responsáveis de uma equipa belga que corria no campeonato do mundo e que estava a treinar no Escaroupim, perguntaram-lhe se estava interessado em integrar a equipa.Nem pensou duas vezes e, com 22 anos, deixou a Glória e partiu à aventura. Esteve um mês à experiência, período onde as coisas não foram fáceis. “Foi um choque grande. Era tudo novo e não conhecia ninguém”, recorda. Mas aprendeu muito e ficou com vontade de ficar. A equipa também gostou do seu trabalho e passou a ser o mecânico oficial de Cedric Mellote, piloto belga que corria pelo título mundial. Entretanto o piloto português Rui Gonçalves foi para a sua equipa e passou a ser o seu mecânico.Nos tempos mais difíceis, Rui Silva teve uma enorme ajuda de Patrick Kaps, um mecânico inglês que estava na sua equipa e que foi o seu professor. “Era mais velho e foi como um pai para mim. Quando cheguei, não conhecia ninguém e ele ensinou-me muito. Só havia um problema. Ele falava inglês e o meu inglês não era muito fluente. Mas aos poucos fui aprendendo e ele deu-me muitos concelhos”, diz reconhecido.No topo da CarreiraEste ano, Rui Silva transferiu-se para a Yamaha Ricci Racing, a equipa oficial da marca japonesa, atingindo assim o topo da carreira. “Era um dos meus sonhos. O primeiro era chegar ao mundial e consegui, o segundo era estar numa equipa oficial e cá estou”, diz com orgulho o mecânico português.O piloto da Glória vinha sendo assediado por Michele Rinaldio “patrão” da Yamaha Rinaldi e responsável pela marca na Europa. “Já na época passada tinha feito o convite mas na altura estava ainda a começar o projecto Barbo Racing e decidi não aceitar. Agora que conquistei um lugar sólido no mercado português posso regressar. Vou tentar aprender mais também para poder oferecer mais aos meus clientes. Além disso é uma oportunidade única... Sobretudo para um português! Fiquei muito contente pelo reconhecimento do trabalho que tenho vindo a desenvolver” refere Rui Silva.Embora já estivesse numa das melhores equipas privadas, uma equipa oficial é diferente, para melhor. “No primeiro dia que cheguei lá fiquei surpreendido. Estava acostumado a ter condições excelentes, com muitas peças e muito material. Mas o que encontrei superou tudo. Todos são muito profis-sionais”, acrescenta. Quanto ao seu piloto desta época, Kenneth Gundersen, é um dos favoritos à vitória no mundial de MX2 (125 cc). “Fiquei com muito boa impressão. É humilde, simpático, trabalhador e está cheio de vontade de vencer. É um piloto acessível que sabe explicar o que a moto está a precisar. Sabe distinguir os sintomas. Acho que é piloto para ser campeão mundial da classe”, refere com convicção.Em termos profissionais, o próximo objectivo de Rui Silva é ir trabalhar directamente numa fábrica, ajudando a desenvolver motores. Um trabalho diferente mas que o alicia bastante.Numa outra vertente, no último ano Rui Silva dedicou-se à Barbo Racing, empresa que se dedica à comercialização de material técnico para motos. “Eu não lhe chamo uma oficina, chamo-lhe um atelier de mecânica, onde preparamos quer os motores, quer a carburação, quer os quadros”, refere.A firma vai continuar ainda que sem a sua presença constante. “A Barbo vai obviamente ter continuidade ainda que não directamente comigo. Em alguns casos continuarei a trabalhar com clientes especiais. Quando regressar vou de certeza ter mais conhecimentos e revelar uma maior evolução. Quero ir ao Mundial tendo a certeza que no meu regresso serei uma mais valia para a Barbo Racing”, afirma.

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