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Casado com a pintura

Casado com a pintura

José Paulo Nobre, de Constância, é um pintor de mérito reconhecido

Nasceu em Constância e foi ali que descobriu a sua veia artística, por influência do mestre Joaquim Santos, pintor da terra. Hoje Paulo Nobre tem quadros seus espalhados por Portugal e no estrangeiro mas tem de dedicar-se também ao restauro para poder sobreviver.

José Paulo Braz Nobre é um artista plástico de Constância com provas dadas, a nível nacional e internacional, na pintura e escultura. O seu currículo profissional, nomeadamente no que se refere a exposições, ocupa várias páginas tamanho A4. Mas viver da arte em Portugal não é fácil por isso Paulo Nobre, como assina os seus trabalhos, complementa a sua veia de artista plástico com o restauro, recuperando pinturas, frescos e azulejos em monumentos nacionais. “Por gosto, por necessidade e por haver uma lacuna enorme ao nível da preservação do património português”.Nesta arte específica, as oportunidades de trabalho têm surgindo pela boca dos amigos que tem espalhados por todo o país. “Faço honra em os preservar e manter-me sempre em contacto com eles”.É no Mosteiro do Louriçal, das irmãs Clarissas, situado entre Pombal e a Figueira da Foz, que actualmente Paulo Nobre desenvolve a actividade de restauro. Passa os dias enfiado entre paredes seculares e só vê a luz do sol quando sai para beber um café, já que a refeição é feita mesmo ali.O trabalho é bem específico – recuperar uma pintura original que está por baixo de uma pintura mais recente, no altar-mor do mosteiro. É um trabalho que compensa mais em termos financeiros, dá mais segurança ao profissional. “O trabalho de restauro é sempre realizado mediante um orçamento inicial, que pode ou não contemplar os materiais e tem prazos de execução”. No caso do Mosteiro do Louriçal, está tudo contemplado no orçamento, até as refeições e a dormida. Paulo Nobre dorme no próprio mosteiro e é alimentado pela comida que diariamente as freiras confeccionam.Gosta do trabalho de restauro mas quem lhe tira a pintura, tira-lhe tudo. “Sou casado com a pintura”, diz meio a sério meio a brincar. É por isso que sente a frustração desta arte não ser tão reconhecida em Portugal. Ou se calhar até é, mas a crise leva as pessoas a terem outras prioridades que não a compra de um quadro para pôr na parede lá de casa. Há pessoas que vão até ao ateliê que Paulo Nobre divide com outros artistas, em Constância. Olham, apreciam, muitas captam o que lá está pintado, mas não compram.O problema é que o dinheiro e o tempo do artista foi investido, sem retorno. “As telas custam dinheiro, as tintas custam dinheiro. E tempo. Fazer uma obra é quase como uma gravidez, demora imenso tempo por que é preciso ter ideias, imaginação”. “Hoje em dia vender um ou dois quadros no meio de 10 ou 15 já é bom, muito bom”, confessa o artista.É ao fim de semana que materializa as ideias, muitas vezes passadas para esboço, que lhe vão surgindo enquanto vai trabalhando no restauro. Chega a casa e, enquanto Ana Carolina (a sua gata de estimação) se enrosca a seus pés, vai pincelando os pensamentos na tela.O gosto pelas artes, especialmente pela pintura, vem desde muito pequeno, por influência de Joaquim Santos, pintor de Constância. “Passava pela rua onde ele tinha o ateliê e ficava ali, com os olhos presos no seu trabalho”, diz o artista plástico, recordando que nessa altura não teria mais que seis, sete anos. Não se lembra quando vendeu o seu primeiro quadro, nem como era. Mas recorda-se, ainda andaria na primária, de fazer a Casa de Camões em casca de ovo pintada. “Foi para uma exposição em Santarém e nunca mais a vi”.Da escultura, diz ter desistido. Porque não compensava minimamente. “Fazia escultura em madeira e tinha de ir à procura dela no rio Tejo, trabalhadas pelas areias, que têm características específicas e dão excelentes peças. Mas não é rentável”, admite Paulo Nobre.Paulo Nobre não tem curso superior na área das artes plásticas. Ao invés, foi tirando vários cursos médios após ter acabado o 12º ano. Inclusive o curso de decoração e restauro, tirado através do Instituto de Emprego e Formação Profissional, que lhe permite agora poder efectuar trabalhos em monumentos classificados.Mas é preciso estar permanentemente actualizado e adaptado às novas tendências artísticas, senão “perde-se o comboio”. É por isso que Paulo Nobre está a equacionar fazer uma reciclagem na área, actualizando os conhecimentos.Tem quadros expostos no Estoril, em Lisboa, em França, Suíça e na América. Em exposições públicas e casas particulares. No ano passado chegou a fazer várias exposições, em parceria com uma amiga pintora holandesa, que lhe possibilitou uma boa troca de experiências.Enquanto artista plástico Paulo Nobre diz que não vai parar mais e tem um sonho ainda para realizar – fazer exposições no estrangeiro, particularmente em França e na Holanda.Mas nunca deixará o restauro. Porque há imenso património por recuperar. E porque tem sido o seu ganha pão.Margarida Cabeleira
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