Um empreendimento habitacional e turístico de grandes dimensões vai nascer nos terrenos da antiga “Voz da América”, uma rádio americana do tempo da Guerra Fria localizada em Glória do Ribatejo, Salvaterra de Magos, disse à Lusa o presidente da junta.O projecto está a ser objecto de um plano de pormenor em articulação entre a Câmara de Salvaterra e um grupo de promotores, que tenciona construir na zona um hotel, um campo de golfe e vários loteamentos para construção de média dimensão.No projecto, a que a Lusa teve acesso, estão contemplados 233 lotes de pequenas quintas, um bairro com 70 vivendas geminadas, alguns edifícios de pequena volumetria, bem como um hotel e uma academia de golfe.O grupo de promotores criou a empresa “Herdade Nossa Senhora da Glória”, mas, apesar de várias tentativas de contacto, a agência Lusa não conseguiu obter declarações dos seus responsáveis sobre o projecto.Para o presidente da Junta de Freguesia de Glória do Ribatejo, João Batista Oliveira, trata-se de um investimento “necessário” para a região, permitindo a requalificação de vários hectares de terreno que estavam ao abandono.“Julgo que é uma solução positiva”, afirmou o autarca, alertando no entanto que a aplicação do projecto “deve ser cuidadosa”, até porque se trata de uma “zona rural e de charneca” ribatejana que não deve ser descaracterizada com este tipo de investimentos de grandes dimensões.O autarca espera que o projecto traga “mais emprego” para a freguesia, já que os promotores prometeram a criação de 200 postos de trabalho.“Em terras como a nossa, existe uma grande falta de emprego” e este projecto “pode dar uma ajuda”, considerou.A Rádio Europa Livre foi instalada em Glória do Ribatejo nos anos 50 e foi uma das rádios americanas vocacionadas para o bloco de leste, utilizando emissões de ondas curtas para divulgar a propaganda norte-americana no contexto da Guerra Fria.Gerido por norte-americanos, o complexo, denominado Raret, ficou conhecido na região, com forte implantação comunista, como a “Voz da América” e contribuiu em muito para o desenvolvimento da freguesia, já que deu emprego a muitos dos seus residentes.Com o abandono do espaço pelos norte-americanos, o terreno foi entregue aos CTT, que depois o vendeu a um grupo de promotores imobiliários que quer agora requalificar e transformar o espaço num grande condomínio privado.Depois do encerramento do Raret, a maior parte da documentação perdeu-se ou foi levada, com a saída dos administradores americanos, de Portugal.A agência Lusa tentou obter um comentário sobre o projecto junto da Câmara de Salvaterra de Magos, mas a presidente da autarquia, Ana Cristina Ribeiro, não esteve disponível.O MIRANTE/Lusa