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Bombeiros órfãos do Estado

Bombeiros órfãos do Estado

Voluntários da Póvoa de Santa Iria asfixiados pela administração central

Em dia de festa, os bombeiros da Póvoa de Santa Iria queixaram-se do abandono do Estado que obrigou os directores a recorrer à banca para pagar os salários dos funcionários.

“Estamos órfãos de pai e mãe. Fomos abandonados. Estamos sós”, as expressões foram usadas pelo comandante do Corpo Voluntário de Salvação Pública da Póvoa de Santa Iria na cerimónia comemorativa dos 63 anos da instituição que decorreu no domingo de manhã e contou com mais de uma centena de convidados no salão decorado com um fundo de longas faixas de cetim azul, verde, vermelho e amarelo.A asfixia financeira criada pelos valores praticados e pelos atrasos nas transferências de verbas da administração central obrigou a atrasos no pagamento de salários aos funcionários da instituição. A direcção liderada por Odete Silva teve de recorrer a empréstimos bancários avalizados por directores que gerem a instituição em regime de voluntariado e sem qualquer remuneração. “Pagam para ser voluntários”, frisou o secretário da Liga dos Bombeiros Portugueses (LBP), Rui Silva.O dirigente exemplificou como causa da asfixia financeira dos bombeiros, o facto das associações estarem a perder 60 cêntimos em cada quilómetro que percorrem no transporte de doentes. Depois ainda são sujeitos a multas quando a viatura circula só com o motorista e sem os dois tripulantes exigidos pela lei. Em dia de festa, o comandante António Carvalho usou um discurso metafórico para comparar o seu corpo de bombeiros a um filho órfão de pai (Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil) e mãe (Ministério da Saúde/INEM) e a quem têm valido os padrinhos (Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e Governo Civil de Lisboa) e os amigos (empresas e particulares que ajudam com donativos e equipamentos).“O Ministério da Saúde foi uma mãe cruel que nos abandonou e voltou-se para as empresas privadas. O pai (SNBPC) não nos acode. Estamos sem pai nem mãe”, disse o líder do corpo activo na sessão solene presidida pela Governadora Civil de Lisboa, Adelaide Rocha.Entre os amigos dos bombeiros, o comandante destacou Humberto Alexandre que ofereceu o mobiliário que equipa a sala de convívio dos voluntários. A presidente da direcção, Odete Silva, reforçou com uma lista de empresas e empresários solidários com a instituição.A Governadora Civil de Lisboa aproveitou a proximidade do dia Internacional da Mulher (8 de Março) para realçar a forte presença feminina na instituição. Sem reagir às críticas dirigidas à tutela, a representante do Governo disse perceber a angústia dos voluntários, mas lembrou que está em marcha um conjunto de acções que visam reforçar o apoio aos bombeiros portugueses.O secretário da LBP apelou à união de todas as corporações de bombeiros em redor da liga. Rui Silva considerou que a fusão do Serviços Nacional de Bombeiros com o Serviço Nacional de Protecção Civil “foi um tiro que os bombeiros deram nos pés. “O nome dos bombeiros vai desaparecer com a criação da Autoridade Nacional de Protecção Civil. Temos 610 anos de história e, paulatinamente vamos sendo absorvidos por estruturas militares, nos incêndios, e privadas, na saúde”, disse.Francisco Vale Antunes, vereador da Protecção Civil, garantiu que a câmara continuará a ser um parceiro de todas as corporações de bombeiros do concelho, mesmo que tenha que substituir a administração central como fez na criação e financiamento dos Grupos de Intervenção Permanente que representam um elevado esforço financeiro para a autarquia. Terminada a sessão solene, o debate continuou à mesa, com um almoço convívio que reuniu a família dos bombeiros e os seus convidados. Como dizia um voluntário: tristezas não pagam dívidas”. E há sempre motivos para festejar mais um aniversário.Nelson Silva Lopes
Bombeiros órfãos do Estado

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