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Patos de plástico por causa dos vizinhos

Patos de plástico por causa dos vizinhos

Espectro da gripe das aves levou um habitante da Golegã a deitar 15 patos fora

Um habitante da Golegã deitou fora 15 patos depois das queixas de dois conterrâneos, receosos que a gripe das aves chegasse à vila.

A gripe das aves já fez uma vítima em Portugal. Rodrigo Melancia das Neves, morador na Golegã, foi obrigado a deitar fora 15 patos que possuía em casa há mais de dez anos, por causa de dois conterrâneos receosos que as aves apanhassem a doença.Os responsáveis pela atitude de Rodrigo Melancia das Neves nem sequer moram perto da sua residência. Mas passam ali diariamente e de há uns tempos para cá incomodavam o morador por causa dos patos que brincavam no pequeno lago construído no quintal.Na véspera de Carnaval, as críticas subiram de tom levando Rodrigo dos Patos, como é conhecido na vila, a tomar uma atitude drástica. Um dia depois de ouvir a vizinha dizer que não estava para morrer com a gripe das aves Rodrigo levantou-se cedo, pegou num saco de serapilheira, meteu lá os patos e foi deitá-los na lagoa junto à vila.Abandonou-os à sua sorte depois de os ver nascer e de ter cuidado deles durante uma década. Com as lágrimas nos olhos largou-os um a um nas águas da alverca, só para não ter de ouvir mais os vizinhos.É no quintal de casa, à beira do pequeno lago onde costumavam brincar patos reais, patos mandarins e patos carolinos que Rodrigo conta o episódio. Lembra como as crianças que passavam ali todos os dias a caminho da escola se divertiam com as aves, das mães com carrinhos de bebés que paravam para lá da rede a mostrar os animais aos pequenotes. E até dos guardas da GNR que não raras as vezes paravam ali o jipe para os apreciar.“O presidente da câmara, que também passa aqui algumas vezes, não se cansava de elogiar os patos”, diz Rodrigo, fazendo um esforço para não tremer a voz. Os vizinhos mais próximos confirmam a alegria que os patos de Rodrigo Melancia davam a muita gente.E dão testemunho do seu descontentamento em relação à atitude tomada pelo morador. “Acho que se precipitou”, diz Jacinta Silva, que reside na casa em frente. Referindo que Rodrigo “foi na conversa” de duas pessoas que entendem tanto da doença da gripe das aves como ela. Jacinta considera que, antes de se desfazer dos patos, o vizinho devia ter consultado alguém entendido na matéria.“Pois se até a GNR, que é a autoridade, vinha aqui vê-los e nunca lhe disse nada quem são eles (os dois queixosos) para obrigarem o homem a fazer uma coisa destas?”, diz quem vive paredes meias com Rodrigo Melancia das Neves. “Isto vai acabar com ele, ele vivia para os bichos”, afirma outro morador, que entretanto se juntou ao pequeno grupo de descontentes.Rodrigo Melancia é apaixonado por aves. No quintal, tratado com todo o esmero e cuidado, tem várias gaiolas com pombos e rolas. As paredes de casa estão forradas com fotos de inúmeras caçadas e por todo o lado se vêem aves de plástico a enfeitar os móveis. Na pequena cozinha até tem um faisão e uma ave de rapina embalsamados.Desde que deitou os patos na lagoa que nunca mais teve coragem de por lá passar. “Eles estão bem, foram criados em cativeiro mas vão seguir as que já lá vivem na hora de buscar comida”, diz, tentando convencer-se a si próprio.No lago do quintal estão agora dois patos reais de plástico, comprados propositadamente para que as crianças e os adultos continuem ali a parar. Parecem verdadeiros e com aqueles, pelo menos, a gripe das aves está afastada.Margarida Cabeleira
Patos de plástico por causa dos vizinhos

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