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"Gostava de desenhar Álvaro Guerra"

"Gostava de desenhar Álvaro Guerra"

António, o cartoonista de Vila Franca de Xira

O cartoonista António, natural de Vila Franca de Xira, ainda mantém ligação à cidade que o viu nascer. Não compreende a polémica à volta das caricaturas de Maomé e confessa que se pudesse retratar uma personalidade da terra escolheria Álvaro Guerra.

Quem não se recorda do cartoon do Papa com o preservativo no nariz? O desenho, traçado em 1993, valeu ao cartoonista António, natural de Vila Franca de Xira, a maior polémica da sua carreira.Ao final da tarde de sábado, durante a abertura de mais uma edição da Cartoon Xira, no Celeiro da Patriarcal, o filho da terra, 53 anos, não se mostrou arrependido.António recorda que o assunto só ficou encerrado porque o abaixo-assinado reuniu 200 mil assinaturas em vez do milhão previsto. “Infelizmente as religiões são reaccionárias e intolerantes”, afirma quem não compreende o alarido que se gerou em torno das caricaturas de Maomé. “Como as religiões têm a verdade todas as outras opiniões são difíceis de aceitar. Felizmente alguns conseguiram separar a igreja do Estado”, sublinha António.O caricaturista lembra que os cartoons são sempre excessivos. Para António é importante que esse excesso se mantenha. “É um jogo de excessos que a liberdade permite. Nós vamos aproveitando esse espaço para que se possa ver mais claro no meio desta nebulosa que é o tempo presente”.A exposição de cartoons de Vila Franca de Xira, única no país, é sempre um pretexto para o caricaturista regressar às origens. Mas sempre que o trabalho lhe permite António deixa a sua residência na cidade de Lisboa e vem até à lezíria ribatejana. É lá que tem a mãe e os filhos que visita regulamente. O trabalho do cartoonista vive da política nacional e internacional, mas se António tivesse que escolher uma figura da terra para retratar elegeria o jornalista e escritor Álvaro Guerra. “Foi uma personagem que me marcou. Já o retratei de forma séria numa lápide em Vila Franca de Xira, mas seria sempre um personagem interessante. É um homem com uma vida cheia, um universo rico e isso ajuda a caracterizar alguém”.O escritor Alves Redol seria outra das figuras a retratar. “Numa terra que não tem mais que dois escritores é óbvio que essas pessoas têm valor”, diz António, que no entanto recusa fazer a avaliação do panorama cultural da terra onde nasceu. “Vila Franca tem o que tem”.A carreira de António é paralela ao percurso da democracia portuguesa. Atravessou os mesmos altos e baixos. “Passei por períodos revolucionários que davam a sensação de que se poderia fazer tudo e por períodos mais calmos. Enquanto cartoonista a grande dificuldade foi redescobrir tudo. Inclusivamente as próprias fronteiras das coisas”.Ao longo de 30 anos de carreira António deu o seu contributo para a mudança de mentalidades. Educou jornalistas e directores de jornais e introduziu a possibilidade de evocar em cartoons figuras já desaparecidas.Os trabalhos do Cartoonxira mostram como 2005 foi rico em matéria-prima para o cartoonista. A queda do Governo e as eleições foram motivo de inspiração. “Aquilo que por vezes é bom para um cartoonista não é obrigatoriamente bom para o país”, sublinha o caricaturista que não deixa escapar o humor, mesmo fora do seu suporte preferido. “Tivemos até um primeiro-ministro que considerei concorrência desleal. Era ele que fazia os cartoons”, diz em tom bem-disposto.Ana Santiago
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