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Quando o sável era Rei…

Quando o sável era Rei…

Manuel do Vale começou a pescar aos sete anos

Manuel do Vale diz que pescou “milhões de sáveis”, hoje nem consegue um para amostra. O pescador de 74 anos vive do Tejo há 67 anos e responsabiliza a poluição pela morte do seu sustento.

Foi com apenas sete anos que Manuel da Cunha, ou Manuel do Vale como é conhecido, se iniciou na actividade de pescador. Hoje passados 67 anos, este pescador de Vila Franca de Xira, que continua a percorrer as águas do Tejo todos os dias, recorda que foi o sável que trouxe o avieiro para junto do rio.No início os pescadores vinham até ao Tejo apenas na época do sável e quando acabava voltavam para as suas terras, até que começaram a ficar. O sável era o peixe que mais abundava nesta zona do rio e por isso a sua pesca era uma actividade rentável.“Começava a aparecer depois do Natal ou Ano Novo e a maioria das vezes ainda se apanhava sável em Maio”, relembra o pescador septuagenário. Ao longo dos anos, Manuel do Vale diz que apanhou “milhões de sáveis”, chegando a recolher 300 na rede. Nessa altura, recorda, eram necessários 14 homens para puxar a rede, a varina. Actualmente bastam dois, já que a varina foi substituída pela savara, uma rede mais prática que a sua antecessora. Há cerca de seis anos apanhou o maior sável de toda a sua vida: tinha cinco quilos e apanhou-o por acaso quando andava à pesca da lampreia. Manuel do Vale aproveitou a surpresa que o rio lhe ofereceu para reunir a família à volta do sável pescado.Arroz de sável com sável frito foi a ementa e é como António do Vale gosta de comer este peixe tão característico da região. “O arroz com as ovas, o caralhoto (rabo), a cabeça e as outras miudezas é uma maravilha!” Já a açorda de sável, segundo o pescador, “para ser boa, tem que ser bem feita”. Mas hoje o sável já não se encontra como antigamente. Manuel do Vale diz que “a culpa é da poluição e das barragens que foram construindo ao longo do Tejo”. Este ano ainda não apanhou nenhum, mas mantém a expectativa que o mês de Abril seja mais produtivo, já que “a esperança é a última a morrer”. Para já, as águas de Salvaterra de Magos são as que apresentam maiores quantidades de sável. À falta de sável, Manuel do Vale e muitos dos avieiros de Vila Franca procuram alternativas. Entre as 10h30 da manhã e as duas da tarde, Manuel do Vale dedica-se ou à pesca da lampreia, da corvina, do linguado, do polvo ou do choco. “O Tejo ainda nos vai dando muita coisa”, refere o pescador. Sobre a ideia de promover o sável durante o mês de Março e Abril no concelho de Vila Franca de Xira, Manuel do Vale louva a iniciativa. Segundo afirma, para os pescadores é uma boa oportunidade, embora lamente a escassez de sável no Tejo.Sara Cardoso
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