uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante
O prazer de conduzir velhas relíquias

O prazer de conduzir velhas relíquias

Cem anos depois foi reconstituído o Quilómetro Lançado de Valada

Os proprietários de carros e motos anteriores a 1918 que correram em Valada querem que a prova se realize anualmente.

Dos motores ecoa um som rouco e forte. Apesar de não primarem pela potência, à luz dos padrões actuais, os 21 carros e motos fizeram os espectadores e apreciadores do desporto automóvel recuarem cem anos, sábado, no meio da lezíria ribatejana.O Quilómetro Lançado de Valada, Cartaxo, foi reeditado um século depois da primeira prova realizada em Portugal, em 18 de Março de 1906, em que se privilegiava a velocidade à resistência.Uma estrada com boa morfologia, com uma recta enorme, que cortava a meio a lezíria, com estação de caminho de ferro no Reguengo e suficientemente próxima de Lisboa, foi o motivo que chamou 25 concorrentes e milhares de pessoas há cem anos.Um século depois cerca de duas centenas de pessoas concentraram-se à beira da recta entre Ponte de Reguengo e Valada para apreciar as máquinas.Descapotáveis de dois lugares bem apertadinhos, limusinas da época com estofos em cabedal. Volantes apoiados em grande colunas de direcção e tabliers rudimentares face aos dos dias de hoje. Pelo meio, alguns velocímetros a marcaram 100 quilómetros/hora como limite.A muita chuva que caiu não demoveu os concorrentes e o sol fez-se sentir para a prova. À partida as máquinas dispunham de 300 metros para ganharem embalagem antes do traço de partida, não fossem os arranques ser demasiado exigentes para os “calhambeques”. O Rexette de Luciano Barata e da esposa remonta ao longínquo ano de 1904. Um veículo que é quase uma mistura entre um carro e uma moto, em que o condutor segue no banco de trás e o pendura vai mesmo pendurado num assento à frente do volante.O casal é proveniente de Sintra e participa habitualmente na corrida Figueira da Foz-Lisboa. A “bomba” foi comprada em 1972 e atinge a assombrosa velocidade de 20 quilómetros/hora. Pega à manivela mas anda e fez o seu caminho como os restantes.O jovem casal Adelino e Liliana Dinis, proveniente da capital, passeou-se num Peugeot Bebé de 1913, desenhado por Ettore Bugatti. Entre outros “extras” aconchega bem duas pessoas, tem acelerador manual, marcha-atrás, travão e direcção assistida aos braços. “Atinge os 45 quilómetros/hora em terceira mas hoje não vou passar da segunda”, revela o condutor, perante as más condições climatéricas.Adelino Dinis é de opinião que o Quilómetro Lançado de Valada deve ser uma prova anual dado o interesse que tem levar à rua viaturas anteriores a 1918. Aos comandos de uma automoto preta exibiu-se João Seixas. O lisboeta conduziu uma relíquia francesa de 1918 com 150 centímetros cúbicos (cc) que comprou em Portugal.Foi o penúltimo a partir e só com recurso aos pedais é que consegue que o motor corresponda. “É a primeira vez que ando com ela e fui convidado para participar nesta prova”, referiu o participante, que não se preocupou muito com a velocidade atingida. O importante é chegar, assegurava. No conjunto das duas mangas da prova, António Vilar obteve o tempo mais rápido ao volante de um Mitchell de 1916. Demorou 45,82 segundos a cumprir o quilómetro lançado, à frente de José Vaz Pires, num Ford T de 1915 (58,52 segundos).Recorde-se que em 18 de Março de 1906 o vencedor da corrida de Valada foi José Aguiar, que ao volante de um Fiat alcançou a interessante média de 82,568 quilómetros/hora. A organização do Quilómetro Lançado de Valada pertenceu à Câmara do Cartaxo, com a colaboração da Junta de Freguesia de Valada e do Automóvel Club de Portugal e o apoio da Casa Real de Lisboa e da Real Associação do RibatejoRicardo Carreira
O prazer de conduzir velhas relíquias

Mais Notícias

    A carregar...