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Paciência quase esgotada

População de Carvalhal da Aroeira está farta de ver os esgotos a correr pelas ruas

Sem o saneamento básico concluído, não resta alternativa a muitos moradores do que despejar as águas residuais para a via pública.

A falta de saneamento básico na aldeia de Carvalhal da Aroeira está a provocar conflitos entre vizinhos. Apesar da rede de saneamento já ter sido instalada pela autarquia, a verdade é que nem todos os esgotos estão ligados ao colector principal. E a população, que não quer gastar dinheiro com o limpa–fossas, acaba muitas vezes por despejar as águas servidas para a via pública. Uma situação que tem vindo a comprometer as relações de boa vizinhança nessa aldeia do concelho de Torres Novas.Maria Domicilia Rodrigues desde há 23 anos que luta contra o despejo de águas servidas na sua rua. E se durante o Inverno a situação não se mostra tão problemática e até é atenuada com a ajuda da chuva, o mesmo não acontece com a chegada do Verão.Nessa altura, Maria Domicilia admite que é quase insuportável parar à porta da sua casa. “O cheiro é horrível. E como não chove a porcaria acumula-se ao longo da estrada e forma uma nata escura, com muito mau aspecto. Nem sequer me atrevo a estender a roupa no arame porque não vale a pena. Para além disso, o piso fica tão escorregadio que já parti ali uma perna”. Há cerca de dois meses, “porque a paciência tem limites”, resolveu pedir a intervenção da delegação de saúde, que fez uma vistoria ao local. E dadas as condições de insalubridade registadas encaminhou o processo para a Câmara Municipal de Torres Novas.A queixosa garante que, para além das águas pluviais, a tubagem que dá acesso à sua rua também serve para esgotar as águas da fossa de um vizinho, que se recusa a chamar os serviços da autarquia sempre que a fossa enche.“Tenho a certeza que não são apenas águas de lavar, porque já aqui vi passar muita porcaria. O ralo que tenho à entrada da porta chega a ficar cheio e não há dúvidas de que isso é prejudicial para a saúde pública”, diz Maria Domicilia.Nas mãos da câmaraConfrontado com as acusações da vizinha, João Alves diz que compreende a situação e que está disposto a fazer os possíveis para resolver o problema. Mas adianta que a solução está nas mãos da autarquia: “A minha fossa está sempre cheia e eu não posso estar todos os dias a chamar o carro da câmara para a despejar. Somos nós que temos de pagar esse serviço, quando devia de ser a autarquia a assumir as responsabilidades, porque é a câmara que nos nega a ligação à rede de saneamento”.Actualmente, João Alves assegura que só despeja para a via pública as águas de servir, mas admite que noutros tempos já se serviu de um motor para esgotar a fossa para a rua: “Fazia isso sempre de madrugada e sempre quando estava a chover. Quando acabava, já não havia vestígios de nada”, conta.Como os despejos eram feitos a altas horas da noite, nunca foi apanhado em flagrante e, talvez por isso, nunca tenha tido de arcar com as consequências de um acto que pode ser altamente prejudicial à saúde pública.“Nunca fui multado. Mas, se me aplicassem uma coima a mim, tinham de a aplicar à aldeia quase toda. No Carvalhal, mais de cinquenta por cento das pessoas despeja os esgotos para a via pública porque não tem alternativa. Além disso, se me aplicarem uma coima, eu respeito, mas a câmara é que a vai pagar”, diz João Alves.A situação acabou por gerar um conflito entre os dois vizinhos, que não se conseguem entender e atribuem a culpa da sua desavença à incapacidade de resolução do problema por parte das entidades competentes. Atento está o presidente da Junta de Freguesia de S. Pedro, Luís Gaspar Lopes, que se diz impotente para resolver o problema. “Eu tenho conhecimento dessa e de muitas outras situações semelhantes a essa, mas não posso fazer nada. Resta-me servir de intermediário. Quem tem de agir é a câmara”.Luís Gaspar Lopes lamenta a situação e diz que os responsáveis pelos despejos devem assumir e justificar os seus actos. No entanto, entende que muitas vezes “a deficiente acção dos serviços de limpeza de fossas da autarquia, que não trabalham com a brevidade possível”, pode condicionar a boa vontade dos munícipes.Contactada por “O MIRANTE”, a Câmara Municipal de Torres Novas não se mostrou disponível para comentar a situação até ao fecho desta edição.Carla Paixão

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