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Mudaram os tempos e as vontades

Mudaram os tempos e as vontades

Feira de Março já mexe pouco com a população de Torres Novas

A Feira de Março já foi a maior de Torres Novas. Hoje é um retrato decadente do fulgor de outrora, quando era visita obrigatória de novos e velhos.

A opinião é unânime: os tempos áureos da Feira de Março em Torres Novas perderam-se no tempo. Mesmo assim a tradição mantém-se e são muitos aqueles que contrariam as tendências e enchem o recinto abaixo do viaduto do Rio Frio, na esperança de esbarrar com as memórias de antigamente. Só que o retrato não condiz com as recordações de outrora e o saudosismo apodera-se daqueles que conheceram a verdadeira Feira de S. Gregório.Diz quem sabe que as origens desta feira estão marcadas junto ao edifício do antigo hospital da cidade e que as lembranças mais felizes se registaram no conhecido Rossio de S. Sebastião, onde o certame se realizou até há cerca de dez anos. Agora, a feira desceu até às margens do Almonda. Um local central mas que não convence a maioria dos visitantes. Porque há falta de estacionamento e porque as limitações do espaço reflectem-se na própria redução e distribuição dos divertimentos e barracas.Maria Emília lembra com alguma nostalgia o tempo não muito longínquo em que a chegada do mês de Março era motivo de alegria por causa da feira. A família juntava-se e a diversão era garantida: “Quando a feira era no Rossio e o meu marido ainda era vivo, ir à feira era uma aventura. Juntávamos filhos e netos e nunca sabíamos a que horas voltávamos para casa. O meu marido dava sempre quinhentos escudos a cada neto e eles gastavam tudo nos carrosséis”.Agora, aos setenta anos, não deixa de “dar um saltinho à feira”, mas os motivos são outros. Maria Emília quase não chega a entrar no recinto. Detém-se na roulote das farturas e depois de comprar meia dúzia sai apressada: “Isto é muito barulho para a minha cabeça. Só a gulodice é que me traz cá”, confessa.É que apesar da tradição já não ser o que era, especialmente ao fim-de-semana, o frenesim dos carrosséis e o cheiro a pipocas e algodão doce ainda funcionam como chamariz para quem passa por Torres Novas.António Pina é filho de feirantes e desde criança que tem lugar assente na Feira de Março. Nascido e criado em Torres Novas, admite que o facto de “ser bastante popular” na cidade lhe facilita o negócio de venda de farturas. Mesmo assim, sabe das dificuldades que os colegas de feira atravessam: “Como se costuma dizer, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. E, quando a juventude não acompanha a tradição também é difícil mantê-la. Antigamente vinha-se comprar tudo à feira, mas agora as pessoas só vêm por causa dos divertimentos”, explica António Pina.A mesma opinião é partilhada por Glória Alves, vendedora de algodão doce e pipocas. Há mais de 40 anos que faz a Feira de Março e garante que com o passar dos anos “morre o espírito da feira e o negócio piora”: “As pessoas não têm dinheiro e também já não estão para aqui viradas”. De qualquer forma não desiste e todos os anos é presença assídua naquela que um dia diz ter sido “a maior feira de Torres Novas e arredores”.Pedro Miguel Ferreira ainda se lembra do apogeu da Feira de Março. Agora visita o espaço por causa da filha de quatro anos que se deslumbra com os carrosséis. Mas não consegue encontrar comparações com o tempo em que ainda era ele quem fazia questão de ir à feira: “Eu morava no Rossio. Isso é que era feira. Agora é só uma amostra, está tudo amontoado. Dantes o espaço era maior e havia mais barracas de feirantes, com artigos para todos os gostos. Agora, só venho por causa da minha filha”, conta.As sucessivas mudanças de espaço, a diminuição da oferta comercial e o aumento dos preços dos divertimentos e artigos vendidos pelos feirantes têm vindo a ditar a queda de uma tradição centenária na cidade de Torres Novas, que ainda se mantém viva graças à carolice de uns e à lembrança de outros.Carla Paixão
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