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Centralização da urgência pediátrica em Abrantes terá consequências preocupantes

“Três coisas devem ser feitas por um juiz: ouvir atentamente, considerar sobriamente e decidir imparcialmente” Sócrates

Foi com enorme espanto que na edição de 22/3/2006 de O MIRANTE Ii o artigo intitulado “Urgência Pediátrica centralizada em Abrantes”.Optei por não responder de imediato embora para tal fosse pressionado, uma vez que todo o artigo me pareceu uma grande provocação. Decidi então aguardar pela edição de 28/3/008 na esperança de que algumas das declarações do Dr. António Branco, Presidente da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo - ARSLVT viessem a ser desmentidas. Em vão!Pelo que em meu nome e em nome de toda a equipa que constitui o Serviço de Pediatria do Hospital Rainha Santa Isabel em Torres Novas passo a esclarecer o seguinte:No que diz respeito à primeira parte do artigo em que o Presidente da ARSLVT preconiza a transferência da Urgência Pediátrica para a Unidade de Abrantes baseando-se num estudo feito pela Universidade de Coimbra do qual infelizmente nunca nos foi dado conhecimento penso tratar-se de uma solução desajustada da realidade da Saúde Infantil e Adolescência do Ribatejo Norte e certamente trará consequências preocupantes para a nossa zona. Falo com o saber acumulado no terreno, pelos trabalhos de Investigação clínica realizados no nosso Serviço e apresentados em Jornadas e Congressos no Serviço ou fora dele. Mais não digo por razões de ordem ética.Nos locais próprios já dei o meu parecer sobre o que penso ser a melhor opção para uma verdadeira complementaridade dos Serviços de Pediatria do Médio Tejo, a articulação funcional dos mesmos, os pólos de diferenciação de cada um tendo obtido pareceres elogiosos de colegas credenciados da Pediatria Nacional.Estamos disponíveis para abordar o tema de novo nos locais próprios, inclusivamente com o Dr. António Branco.Em relação aos comentários que são tecidos na segunda parte do artigo considero-os ofensivos à inteligência, honestidade, brio profissional e honradez dos profissionais do Serviço de Pediatria e solicito publicamente ao Sr. Presidente da ARSLVT que medite bem na gravidade das suas afirmações.“Que temos uma estratégia montada que encoraja as mães a recorrerem ao Serviço da Urgência Pediátrica ao mínimo sintoma de doença dos seus filhos”. Se tal afirmação não fosse tão grave e ridícula eu rir-me-ia às gargalhadas.Sugiro à Srª Jornalista que conversou com o Dr. António Branco que realize uma sondagem às mães à porta do Hospital fazendo a seguinte pergunta: “Porque é que a Sra. veio directamente à Urgência Hospitalar e não recorreu primeiro ao seu médico de família?”Uma amostragem de 500 respostas com o devido tratamento estatístico, chegaria certamente a conclusões interessantes que contribuiriam talvez de uma forma séria para começarmos a resolver os verdadeiros problemas da saúde pediátrica do Médio Tejo e concerteza atiraria por terra as acusações de que fomos alvo.Segundo o Dr. António Branco “os pais de uma criança que apresenta uma situação completamente normal como uma simples constipação acabam por ir à Urgência Pediátrica de Torres Novas porque sabem que o filho é sempre visto”. Só me resta agradecer ao Dr. António Branco o elogio. Em meu nome e em nome de toda a equipa. Certamente que não foram ao Hospital pelos bombons e balões que supostamente distribuímos mas sim porque efectivamente estamos sempre motivados a atendê-los com a qualidade e o respeito que todas as crianças nos merecem independentemente da sua proveniência. No dia em que eu ou algum médico que trabalha no Serviço de Pediatria se recusar a atender uma criança doente por ser de Tomar, Abrantes, Santarém, Leiria, Portalegre ou Lisboa estaremos a infringir gravemente a ética médica que devemos honrar. Quem quiser colocar um elemento da segurança à porta do Hospital a impedir as mães de inscreverem os filhos, que o faça. Nós não o faremos. Pelo menos enquanto eu for o Director do Serviço. Se só agora o Presidente da ARSLVT está preocupado com o empolamento do número das urgências pediátricas no Hospital Rainha Santa Isabel, há muitos anos que nos manifestamos preocupados com o problema. Por esse motivo inúmeros documentos foram já elaborados e enviados aos responsáveis da Sub-Região de Santarém desde a altura em que o Dr. António Branco era o Coordenador e que nada fez para tentar solucionar o problema. Foi a causa do meu pedido de demissão como Director do Serviço a 18/4/2002 pedido que foi aceite pelo próprio Dr. António Branco então Presidente do Conselho de Administração do CHMT (Centro Hospitalar do Médio Tejo). Fui de novo reconduzido com a promessa de que brevemente teríamos um SAP (Serviço de Atendimento Permanente) a funcionar nas instalações do Centro de Saúde de Torres Novas, Ainda hoje aguardo pacientemente por essa decisão.Em 2003, durante 4 meses enviei semanalmente aos directores dos Centros de Saúde do Distrito de Santarém a listagem das crianças das respectivas áreas que recorriam à Urgência Pediátrica do Hospital Rainha Santa Isabel em Torres Novas. Propus uma reunião conjunta para debatermos as causas do problema na tentativa de encontrarmos as melhores soluções. O silêncio foi ensurdecedor.A Coordenadora da UCF de então, Dra. Ermelinda Júlia, incansavelmente procurou consensos no tratamento e orientação dos problemas comuns de saúde infantil em reuniões bem participadas. Elaborou protocolos de actuação que distribuiu a todos os Centros de Saúde da área. Sem sucesso.Há uma afirmação do Dr. António Branco com a qual estou absolutamente de acordo. É quando ele diz: “O que acontece em Torres Novas é uma situação anómala que não existe em mais nenhuma parte do País”.Concordo. Mas a culpa desta anomalia não deve morrer solteira. Deverá ser atribuída à equipa do Serviço de Pediatria que, com grande motivação e profissionalismo, sacrificando noites, feriados, Natais e fins de semana, privando os familiares da sua presença garantem aos pais da nossa região o atendimento adequado a que os seus filhos têm direito? Ou àqueles que durante anos, em cargos de responsabilidade se demitiram da resolução do problema do atendimento do doente agudo das populações a seu cargo, nunca conseguiram numa constelação de sete Centros de Saúde, em sedes de Concelho pôr um único SAP a funcionar sem ser com horários de repartição pública, fechando as portas às 20 horas, encerrando aos fins de semana não deixando outra alternativa às pessoas senão a de recorrerem às Urgências?E ainda nos acusam de encorajá-las a irem ao Hospital? Haja coerência!Também tenho o direito à indignação!*Chefe de Serviço HospitalarDirector do Serviço de Pediatria do Hospital Rainha Santa Isabelem Torres Novas

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