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A Páscoa longe de casa

A Páscoa longe de casa

O MIRANTE foi conhecer tradições dos imigrantes que vivem na região

Os imigrantes de Leste pintam ovos cozidos que guardam num altar de um ano para o outro. Africanos e brasileiros comem animais que compram vivos. A distância das origens não apaga as tradições da Páscoa.

A Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus Cristo, é umas das mais importantes datas do calendário cristão. Para os países de todo o mundo com tradição cristã, a Quaresma e a Páscoa são épocas importantes do ano, uma marcada pela privação e a outra pela alegria da ressurreição. O MIRANTE foi tentar perceber como é que as principais comunidades de imigrantes do concelho de Vila Franca de Xira vivem a época pascal. Margaritka Grozdanov é búlgara e está em Portugal há cinco anos. Todos os anos celebra a Páscoa segundo as tradições da sua terra e de acordo com a Igreja Ortodoxa, para a qual a Páscoa tem mais importância que o Natal.Como a Páscoa dos ortodoxos é só no dia 23 de Abril, de acordo com o calendário Ortodoxo, a preocupação de Margaritka Grozdanov para esta semana é preparar o ramo de salgueiro que irá levar à missa do próximo domingo, a realizar na Capela de S. Ivan Rilsk, na Embaixada da Bulgária em Lisboa. Depois de benzido na celebração, Margaritka irá colocar o ramo na porta de casa para a abençoar.Uma das tradições mais características da Bulgária é pintar ovos e Margaritka Grozdanov pretende cumprir esta tradição. O sábado, ou a Quinta-feira Santa, vai dedicá-lo à pintura de vários ovos, previamente cozidos, uns para serem abençoados na igreja e ficarem em casa, outros para trocar com os amigos, já que a família está na Bulgária. No sábado, Margaritka fará também o pão tradicional da época, o “kozunak”. Dois dos ovos que a búlgara irá pintar serão inteiramente vermelhos: um para ficar na igreja, outro para ficar em casa, junto de um pequeno altar, até ao ano seguinte. A hora da substituição dos ovos é também um momento importante. Se o ovo velho não cheirar mal depois de um ano “vai ficar tudo bem em casa”, refere. E graceja com o facto: “Os meus nunca me cheiraram mal, graças a Deus!”. Ovo inteiro é sinal de sorteO ponto alto das celebrações pascais é a missa de sábado à noite, entre as 22 e as 23 horas. Margaritka explica que, depois da celebração, cada um pega no seu ovo e choca-o com o de um amigo ou familiar. Aquele que ficar com o ovo inteiro terá um ano recheado de sorte. Já o Domingo de Páscoa de Margaritka Grozdanov será passado entre amigos, com o coração apertado de saudades da família. Tal como para os búlgaros, o ponto alto das celebrações para os ucranianos residentes no concelho será a missa de sábado à noite, na véspera do Domingo de Páscoa. Para a celebração, Ivan Pallah e a esposa, Tetyana Mahyar, vão levar um cesto com muitos dos produtos que não puderam, supostamente, comer durante os 40 dias da Quaresma para ser abençoado. Em Portugal há cerca de quatro anos sempre procuraram não perder as tradições da sua Ucrânia natal.Pintar ovos faz também parte da tradição ucraniana, embora tenham um uso diferente. São feitos apenas por raparigas para serem depois dados aos rapazes. Apesar de longe, Ivan Pallah e Tetyana Mahyar vão cumprir as tradições com que cresceram e vão procurar passá-las para o filho de dois anos, já nascido em Portugal. Mandioca e batata-doce na Páscoa dos africanosA maioria da população estrangeira residente em Vila Franca, 4321 pessoas de acordo com os censos de 2001, é proveniente dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP). Os cerca de 500 anos de convivência levaram a que muito da forma dos portugueses viverem a Páscoa fosse adoptada pelos africanos. Luís Fernandes, de Vialonga, reside em Portugal há 30 anos e diz que celebra a data como a generalidade dos portugueses cristãos. “Na quinta e sexta-feira Santas guardamos o jejum e só podemos comer peixe. No Domingo de Páscoa almoçamos em família e vistamos as casas dos amigos e outros familiares próximos”, explica. Daquilo que fazia na Guiné-Bissau, a sua terra natal, apenas se perdeu a tradição de comprar um animal vivo e de o matar no domingo. Também para Ana Santos, que veio de Moçambique há 26 anos, e Amália Rodrigues Miranda e Domingos Tavares, que deixaram Cabo Verde, a época pascal é vivida de forma semelhante. As diferenças resumem-se à gastronomia já que a acompanhar o tradicional cabrito pascal estará a mandioca e a batata-doce, sabores que trouxeram das suas terras. Brasileiros desmotivadospara celebrarOs imigrantes oriundos do Brasil são a segunda comunidade com maior expressão no concelho de Vila Franca. Lu Costa, de 23 anos, está sozinha em Portugal e para ela celebrar a Páscoa sem a família não faz sentido. Por isso, o próximo domingo vai ser apenas mais um, no entanto, mais triste já que vai passá-lo a recordar os domingos de Páscoa passados em família na Baía. Matar um animal no próprio dia de Páscoa, passar o sangue na porta de saída da casa e trocar ovos de chocolate com os que são mais próximos são algumas das tradições que Lu Costa lembra com mais saudade. A viver em Portugal com o marido e o filho há cinco anos, Sandra Costa, natural de Minas Gerais, vai passar o Domingo de Páscoa a trabalhar. No entanto, como é um dia especial o jantar vai ser também especial. Ainda assim, será muito diferente dos Domingos passados na sua terra em que passavam o dia com a família e em que escondiam os ovos de chocolate no quintal para os mais pequenos encontrarem. Uma tradição recente que importaram dos Estados Unidos. Para os imigrantes provenientes da China, a Páscoa não tem significado. Por isso, o próximo domingo será como qualquer dia para a comunidade de chineses residente no concelho de Vila Franca de Xira. Nesta altura, na China celebra-se o “Ching Ming”, uma espécie de Dia de Todos os Santos em que os devotos visitam os túmulos dos seus ancestrais e fazem oferendas. Uma celebração que os imigrantes chineses não vão poder realizar. Sara Cardoso
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