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Santarém não pode ser governada com mentalidade pequenina

Nestes seis meses que leva como autarca alguma vez se arrependeu de ter entrado na política activa?Do ponto de vista pessoal arrependi-me muitas vezes. Há muitos dias em que estou tão cansado que me questiono porque é que me meti nisto. Do ponto de vista da vontade, da crença e da determinação acho que está a valer a pena enfrentar estes desafios.Qual foi a decisão mais difícil de tomar?Tem havido várias. A mais difícil para mim foi estar quieto na votação das Águas do Ribatejo porque percebi que me obrigavam a um negócio muito mais complicado, como se veio a ver, devido ao facto de eu perceber que Santarém estava claramente a ser espoliada naquele negócio. Não pelos outros municípios, mas por responsabilidade exclusiva do município de Santarém.Qual foi o maior fracasso nestes seis meses?Tem sido a grande dificuldade em fazer passar aqui a ideia de que o terreno da política é interessante, mas é um terreno que muitas vezes, com a sobrecarga de discussão política, esvazia aquilo que é essencial, que é resolver problemas.E é um terreno também com algumas minas e armadilhas.Muito armadilhado. E sobretudo muito pouco sustentado. O grande drama de Santarém é que a massa crítica é pouca e a intriga é muita. As nossas elites estão todas espartilhadas e o esforço que temos feito com algumas festas, com mobilização popular, tem muito a ver com isso. Há uma visão sectária, completamente medíocre.Como classifica a postura da oposição nestes seis meses?Julgo que as coisas entraram numa fase de melhor conhecimento, naquilo que diz respeito às nossas diferenças e às nossas identidades. Julgo que a oposição entrou aqui com um ressabiamento muito forte – ou a putativa oposição, porque eu não tenho maioria e preciso sempre dos votos do PS ou da CDU. E ainda bem que não tenho maioria nem aqui nem na assembleia, porque julgo que é assim que se constrói um verdadeiro espírito democrático.Sim, mas às vezes pode levar a que alguns projectos tenham de ficar pelo caminho.Se ficarem pelo caminho temos de ir alterando, ajustando…Como aconteceu com o leaseback.Sim, tivemos de optar por outro caminho porque essa proposta não passava.Dessa vez os seus argumentos não produziram efeitos.É natural que não produzissem. Tirando a ganga ideológica que se cola aos problemas, acho que no essencial estamos a entender-nos e a fazer um bom executivo. Todos. Há alguns ressabiamentos ainda por resolver, isto não se resolve num dia, mas percebem que a forma como eu governo esta câmara é muito objectiva, muito pragmática. Não tem muito a ver com a insinuação politico-ideológica. Há quem diga que consigo há muita festa mas que isso não chega. Que as obras tardam em ver-se…Só diz isso quem não quer perceber o esforço que está a ser feito de moralização da vida pública. E gente de má fé ainda a fazer a digestão da nossa vitória. O trabalho que tem sido feito para fazer obras, com a câmara na situação financeira que está, é uma coisa gigantesca.Quer dizer que ainda não começou a pagar dívidas?Vou começar este mês.Acredita mesmo que é possível concretizar neste mandato obras emblemáticas que já anunciou como os novos paços do concelho ou o novo cemitério?Estou convencido que não só esses. Vamos fazer a requalificação de uma forma integral do jardim da República, do jardim de Sá da Bandeira, das Portas do Sol. Tal como estou convencido que até final do mandato, quando me for embora, fica resolvido ou estará em conclusão o novo edifício municipal. Espero também ter concluída a nova estrada Alcanede-Santarém, baseada no mesmo troço, e ter resolvido nessa altura todo o quadro de investimento no âmbito da Sociedade Intermunicipal de Desenvolvimento.A oposição já o avisou que não pretende deixar passar duas das três empresas municipais que pretende criar. É um rude golpe na sua estratégia?É. Mas aí sou eu a oposição, não são eles. Basta juntarem-se os cinco para serem maioria. Mas eu vou levá-las à reunião de câmara para que eles digam não. Aqui o problema é este: ou continuamos a governar Santarém com mentalidade pequenina como foi governada, ou pensamos esta cidade e este concelho de uma forma humanista e universalista para se impor na região, no país, na competição com as outras cidades. Eu estou neste caminho.E se não o deixarem caminhar?Têm de deixar à força, porque com mais esforço ou menos esforço este é um caminho que se faz andando. Há várias formas de resolver aquilo que não nos deixam fazer de uma maneira, fazendo-a de outra. E quando dizem que há muita festa em Santarém, há festa porque há democracia agora em Santarém. Porque democracia é festa. Do ponto de vista antropológico a festa não serve apenas para lançar foguetes e dançar. É um encontro das pessoas. E a festa tem esse objectivo político claro. Não é por acaso que a putativa oposição não aparece em nenhuma festa. Tem deixado vários avisos aos empresários de que a Câmara de Santarém não vai continuar a dar as benesses que deu no passado para a instalação de empresas. Não teme que os investidores se desinteressem de apostar no concelho?Pelo contrário. Os investidores querem é gente séria nas câmaras. Os bons investidores não querem política de trafulhice. Querem relações muito claras. E conheço muitos que só assim é que trabalham. Sei que os verdadeiros investidores estão disponíveis para estar com uma câmara que os estimula, que os ajuda. Como é que está o processo que pode levar à construção de um nó de acesso à A1 entre Santarém e Torres Novas?Há uma outra solução talvez mais eficaz que me foi sugerida que talvez seja mais interessante. Estamos a reflectir sobre isso. É um eixo viário que liga a Golegã passando pelo Pombalinho, Pernes e Tremês até São João da Ribeira. Esta via rápida é capaz de ser muito mais interessante do ponto de vista do investimento.Relativamente à alteração do traçado da Linha do Norte na zona de Santarém já é praticamente seguro que não se vai efectuar. Mais uma vez Santarém ficou para trás?Ficou para trás e é natural que ficasse, porque andaram a discutir o sexo dos anjos…Como assim?A alteração do traçado custava no mínimo 30 milhões de contos. A Refer não tem dinheiro para fazer isto. O Governo não tem dinheiro para fazer isto. E anda-se há anos a discutir uma coisa que se sabe que é impossível. Ainda não nos disseram que é impossível, mas já nos deram a entender. Mas se não há 30 milhões de contos para um novo traçado pode haver cinco ou seis milhões de contos para suprimir as passagens de nível e para relançar a Ribeira de Santarém.O que pensa fazer em relação à requalificação das zonas ribeirinhas?O arquitecto Manuel Salgado está a desenhar projectos ribeirinhos para nós. Temos um projecto de ciclovia entre Santarém e Valada que no próximo Quadro Comunitário de Apoio queremos voltar a relançar. E pretendemos criar uma série de infraestruturas de base que permita a atracção de pessoas ao rio. João Calhaz

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