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As horas de tensão do cerco do Carmo

Salgueiro Maia recorda, num depoimento no livro “Capitão de Abril, Histórias da Guerra do Ultramar e do 25 de Abril”, publicado em 1997: “A marcha para o Carmo foi extraordinária pelo apoio popular que agregou, que contribuiu bastante para que o Carmo perdesse a vontade de resistir. Nunca tinha visto o povo a manifestar-se assim.”No Carmo, ao chegar, houve desde senhoras a abrir portas e janelas até ao simples espectador que enrouquecia a cantar o hino nacional.” Seguiram-se horas de muita tensão. “Cercado” por uma força da GNR e com forças da PSP a rondar, Salgueiro Maia dera ordens aos seus homens para atirarem apenas em resposta a “tiro directo”, sem responder sequer a “tiros para o ar”. Maia fala com o oficial da GNR, que recusa render-se, mas promete não disparar contra os soldados da EPC.De volta ao Largo do Carmo, rodeado por uma multidão, Salgueiro Maia grita ultimatos por um megafone. Seguem-se tiros de metralhadora para as paredes do quartel - “o fogo era apenas para fazer barulho” -, e, por fim, a rendição.É Maia que entra no quartel da GNR. Tenta a rendição dos sitiados e é levado à presença de Marcelo Caetano, que o recebe sozinho numa sala. “Já sei que já não governo. Só espero que me tratem com a dignidade com que sempre vivi”, são as palavras de Caetano recordadas por Salgueiro Maia na entrevista.Salgueiro Maia exige-lhe a rendição, mas Marcelo pediu a presença de um oficial general para que o poder não caísse na rua. O escolhido foi António de Spínola, primeiro Presidente da República após o golpe e autor de “Portugal e o Futuro”, publicado em 1973, e que tinha uma ideia em comum com jovens oficiais: uma solução política para a guerra colonial.A saída de Caetano e de vários dos seus ministros do quartel, dentro da chaimite “Bula”, descreve o jornalista Adelino Gomes, que assistiu ao cerco do Carmo, “provocou uma explosão de alegria nos milhares” presentes.“Foi aqui que se deu a vitória da revolução”, sintetiza Salgueiro Maia, por muitos considerado “herói romântico” do 25 de Abril, que morreu em 1992, vítima de cancro, sem nunca ter aceite qualquer cargo político.

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