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Paraísos perdidos no meio do Tejo

Paraísos perdidos no meio do Tejo

Privados querem avançar com investimentos turísticos nos mouchões

No meio do Tejo erguem-se ilhas com terrenos férteis para a agricultura. Mas os custos demasiado elevados da produção fazem os proprietários pensar em outras formas de subsistência. Como o turismo.

A carcaça de uma velha baleeira pousa sobre a parede branca de uma casa térrea virada para o Tejo. O pedaço de terra, um paraíso perdido no rio, na freguesia de Vila Franca de Xira, está rodeado de água por todos os lados. No Mouchão de Alhandra, tal como nas outras duas ilhas que povoam o rio, os terrenos são férteis para a agricultura, mas os custos demasiado elevados da produção fazem os proprietários pensar noutras formas de subsistência. Como o turismo.As casas de apoio à actividade agrícola que há décadas garantiam sustento a muitas famílias que lá permaneciam meio ano ainda estão de pé. Mas estão ao abandono. Os proprietários da Sociedade Agro-Pecuária Mouchão de Alhandra têm algumas cabeças de gado a pastar pela ilha e amanham a terra que podem. O rendimento que a terra dá não chega para muito mais.“A manutenção da ilha custa muito dinheiro. Todos os anos gastamos milhares de euros em pedra para consolidar a terra”, queixa-se um dos proprietários, Joaquim Lopes Henriques, um agricultor que nasceu na terra e vive para a terra.Há seis anos, quando adquiriu a ilha no meio do Tejo, queria desenvolver a agricultura e a pecuária, mas os projectos não lhe correram de feição. A água salgada que encontrou no interior da ilha a 300 metros de profundidade também não ajuda à agricultura. “Só pedíamos que desanexassem um pedaço de terra para exploração turística para conseguirmos suportar as despesas”, diz a esposa do proprietário.O sonho é erguer no Mouchão de Alhandra um espaço turístico com 147 casas, duas piscinas, um spa e jacuzzi e restaurante especializado em carne biológica. O grande entrave é a localização do espaço, situado em pleno estuário do Tejo.Tal como no Mouchão da Póvoa. A ilha do Tejo que ficou conhecida pelas famosas água minero-medicinais espera também a hora de ver nascer no espaço um empreendimento de turismo ambiental.Os obstáculos à aprovação do projecto de casas térreas e bungalows espalhados pela ilha já se arrastam há seis anos. Para fazer render o investimento o proprietário do mouchão arrenda o espaço a agricultores para ao cultivo de soja, girassol e trigo.Mas o projecto inicial, ao contrário do Mouchão de Alhandra, era o turismo. Artur Borda d’Água tem o sonho de erguer três mil fogos no espaço de 1200 hectares do mouchão. “São casas em madeira dispersas que não irão perturbar o ambiente”, garante um dos proprietários, que adianta que só com este índice é possível rentabilizar o espaço.A presidente da Câmara de Vila Franca de Xira, Maria da Luz Rosinha, lembra que não há projecto aprovado, mas revela que a solução para evitar o abandono do espaço poderá passar pela redução dos projectos turísticos ao mínimo impacto sobre uma zona de grande importância ambiental.O Instituto da Conservação da Natureza em conjunto com outros organismos tem desenvolvido um trabalho sobre o turismo de natureza que prevê o reajuste dos limites da área protegida. Para o secretário de Estado do ordenamento do território, João Ferrão, que visitou os mouchões na tarde de sexta-feira, é preciso ter em conta o valor ambiental das ilhas do Tejo, evitando no entanto os dois cenários extremistas – “o abandono e a sobrecarga”.Ana Santiago
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