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GNR perde olho em serviço

GNR perde olho em serviço

Soldado João Ferreira sofreu corte no vencimento, mas foi condecorado

Um agente do NIC da GNR de Vila Franca de Xira foi baleado em serviço. João Ferreira perdeu o olho esquerdo e sofreu graves lesões. O comando condecorou-o, mas ainda não lhe devolveu as verbas retiradas do vencimento.

O agente da GNR João Ferreira foi atingido a tiro de caçadeira, na face esquerda, em Janeiro deste ano, durante uma operação de busca em Sobral de Monte Agraço. O soldado, de 27 anos, ficou cego do olho esquerdo e sofreu várias lesões graves, estando ainda em recuperação. A GNR condecorou-o, atribui-lhe um prémio, mas retirou-lhe os suplementos monetários, no valor de 300 euros, que recebia como complemento do vencimento.Apesar da “injustiça”, João Ferreira está cheio de vontade de regressar à investigação criminal, actividade que desenvolvia quando foi ferido. Foi a 16 de Janeiro. O militar, juntamente com outros elementos do Núcleo de Investigação Criminal (NIC) do Destacamento de Vila Franca de Xira da GNR, deslocou-se a Adega, Sobral do Monte Agraço, para cumprir um mandado de busca na residência de um jovem suspeito de furto de automóveis, o qual fora detido no dia anterior.Manuel Cardoso, o pai do detido, já com cadastro e conhecido na terra por “Zeca Malandro”, depois de conversar com os militares pela janela, acabou por não franquear a entrada na residência. Munidos da respectiva autorização judicial, o soldado Ferreira e outro militar, ambos envergando coletes à prova de bala, avançaram para o objectivo, depois de um terceiro elemento do NIC ter arrombado a porta com uma marreta.“A porta ficou entreaberta, eu ia à frente e disse: ‘senhor Manuel vamos entrar...’ e logo a seguir ele disparou”, recorda João Ferreira. Gravemente ferido na cara, foi retirado do local pelo camarada que o acompanhava. Na memória retêm os momentos que se seguiram até à chegada da ambulância que o foi socorrer. A partir dai a memória está limpa e não guarda nada.O militar esteve em coma induzido nos primeiros nove dias de internamento, que durou até 10 de Março.“Quando sai do coma não conhecia a minha mulher, nem sabia que tinha uma filha. Confundia as pessoas, trocava os nomes, perdi a memória...”, explica à conversa com O MIRANTE.João Ferreira está a recuperar bem das graves lesões sofridas. “Fui atingido com 17 chumbos e ainda cá tenho sete...”, refere o agente que aguarda ainda por uma cirurgia plástica na face e por uma prótese para o olho esquerdo. Não tem força no braço direito, perdeu o olfacto e não consegue abrir a boca completamente, devido a lesão sofrida no maxilar.Desde que teve alta hospitalar, o soldado Ferreira reparte o tempo em consultas de oftalmologia, terapia da fala, psicologia, exames médicos e tratamentos. O apoio familiar, os amigos e a vontade de voltar ao activo, tem ajudado o infortunado militar a recuperar. Alexandra, a mulher, tem tido um papel fundamental neste período difícil, de grande sofrimento, da vida do militar. “Tem que tratar da menina, tratar da casa e tratar de mim. Como estou, não a posso ajudar”, diz o soldado da GNR, elogiando a companheira. “Tenho muito orgulho em estar casado com ela...”, sublinha, sem esquecer o apoio que tem recebido dos sogros.João Ferreira desloca-se com alguma frequência a Alverca, ao Destacamento da GNR onde presta serviço, para conviver com os camaradas. “Tenho saudades de trabalhar. Vou lá com todo o gosto e tento inteirar-me do andamento dos processos que estavam em investigação, mas os meus colegas tentam sossegar-me e desviam a conversa para que não me preocupe com o trabalho”, explica o soldado, com seis anos de serviço na Guarda, mostrando-se confiante quanto ao futuro, apesar das dificuldades que sente no dia a dia.“Já me fizeram uma proposta para um serviço melhorado, mas faço questão de voltar ao NIC. Isto é mesmo assim: quem gosta, gosta mesmo...”, afirma João Ferreira, demonstrando grande vontade de voltar à acção.Manuel Cardoso, o “Zeca Malandro”, o autor do disparo que se barricou em casa durante 28 horas, está em prisão preventiva a aguardar o julgamento. José Bernardes
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