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Os romeiros de São Martinho

Os romeiros de São Martinho

Mais de duas centenas de romeiros encheram no sábado o recinto da feira da Golegã

No sábado, a Golegã parou para ver passar os romeiros de São Martinho. A maioria trajada a rigor, sentada na sela de um puro-sangue português ou conduzindo as charretes.

“Está gordo o seu cavalo”, diz José Alegre para o cardiologista Gorjão Clara. Pela familiaridade com que trocam palavras percebe-se que já se conhecem há longo tempo. São ambos romeiros de São Martinho e vieram à Golegã participar na quinta romaria.José Alegre é o grande homenageado da romaria de sábado. O primeiro romeiro de honra da história da romaria. “Por ser um dos cavaleiros mais antigos que vem à Golegã e por ser um homem por quem os romeiros têm respeito e admiração”, diz Gorjão Clara do alto do seu cavalo preto.Vestido a preceito, José Alegre responde com modéstia –“sou apenas um anónimo apaixonado por cavalos”. Viajou de Alcácer do Sal e foi o primeiro a chegar à capital do cavalo. Um espírito jovem de quem começou a montar há 80 anos, quando tinha apenas três anos de idade.A manhã está quente no largo do Arneiro. Os romeiros vão chegando, uns a passo, outros a trote. Trocam-se cumprimentos, levantam-se chapéus em sinal de respeito. O recinto começa a encher. Cavalos e charretes vão dando voltas ao espaço, “aquecendo os motores” para a romaria que os levará a percorrer as principais ruas da vila, seguindo depois para São Caetano, onde será celebrada a missa campal. O chão vai-se enchendo de dejectos de cavalos mas ninguém parece incomodado.O almoço, na quinta da Labruja, está marcado para a uma da tarde, mas é certo que se atrasará. A saída da Golegã estava marcada para as 10h00, mas às 11h00 ainda ninguém tinha arredado pé. Alguns trazem as cestas do “farnel” nas charretes, outros preferem guardá-las nos automóveis. Cada um traz o seu almoço, que é depois distribuído aleatoriamente pelas mesas, numa confraternização a lembrar velhos tempos. O presidente da Câmara da Golegã, Veiga Maltez (PS), é efusivamente cumprimentado por cavaleiros e amazonas. Há uma que não resiste a mandar-lhe um piropo. “O senhor doutor está elegantíssimo, aliás como sempre”. Veste de lilás claro o presidente do município, médico e romeiro mor da Romaria de São Martinho. É o gosto pelos cavalos que une as cerca de duas centenas de pessoas que há cinco anos participam nesta romaria. Cada ano muda o percurso e o local da confraternização gastronómica, mantendo-se apenas o local de culto, na aldeia de São Caetano, nos arredores da vila.Cavalos e charretes começam finalmente a perfilar-se para a partida. Com o romeiro mor à frente, a procissão segue pelas principais ruas da Golegã. O farmacêutico, a cabeleireira, o agente funerário, todos saem à rua para ver passar a romaria. Há uma mulher de rolos na cabeça que espreita pela vidraça do cabeleireiro. Numa casa tradicional, uma colcha vermelha pende da janela. Ninguém fica indiferente à passagem dos romeiros. Numa casa em construção, junto às piscinas, os trabalhadores param o que estão a fazer e abeiram-se das janelas. Até o homem que anda a lavrar a terra desliga o motor do tractor e levanta-se do assento.Porque na Golegã o cavalo é rei e romaria de São Martinho só há uma vez por ano.Margarida Cabeleira
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