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Os sabores e as cores de África em Vialonga

Os sabores e as cores de África em Vialonga

Africanos do concelho de Vila Franca de Xira recuperam tradições

A distância foi encurtada pelos sabores, cores e ritmos do longínquo continente. Dezenas de imigrantes comemoraram o Dia de África em Vialonga com cachupa, calulu, mornas e muita alegria.

O Dia de África foi assinalado, no sábado dia 27, em Vialonga, pela Associação dos Africanos do Concelho de Vila Franca de Xira. Uma festa multicultural cheia de cor e sabores que reuniu mais de uma centena de membros da comunidade africana do concelho. Na cozinha do Centro Comunitário de Vialonga diferentes cheiros misturam-se num verdadeiro cruzamento de culturas. Cachupa, caldo de xabéu, cahlu, calulu ou parakuca são alguns dos pratos que estão a ser confeccionados por quem melhor os conhece. Dez mulheres que há alguns anos atrás deixaram os seus países de origem em África em busca de uma vida melhor em Portugal, cozinham os pratos tradicionais que aprenderam com as mães e avós. Maria Vasconcelos veio da Guiné-Bissau há 15 anos e mora em Vialonga. Consigo guarda as memórias do seu país natal, entre elas a receita do prato mais tradicional da Guiné: o caldo de chabéu, à base de galinha, quiabo, couve e marisco seco. Ao lado do tacho do caldo da Guiné-Bissau fervilha o cahlu, o prato mais tradicional de São Tomé e Príncipe. As sábias mãos de Ana Filipa Lima, em Portugal há 24 anos, facilmente transformam num pitéu a mistura de galinha, espinafres, beringelas, maqueque e óleo de palma. Teresa João, natural de Angola, e Lúcia Mendes, de Cabo Verde, ocupam-se do calulu de carne e da cachupa, as receitas das suas terras. A hora é de azáfama, mas as dez mulheres responsáveis pela comida só pensam na hora em que vão mudar de roupa para celebrar condignamente o Dia de África. A maioria lamenta não ter tido tempo de ir ao cabeleireiro. Como elucida Lúcia Mendes, “saímos daqui ontem às duas horas da manhã e hoje já aqui estava às sete horas”. Mas “a primeira-dama”, como se auto-intitula, conseguiu. Conceição Fernandes, mulher de Luís Fernandes, presidente da Associação dos Africanos do concelho, passou mais de cinco horas no cabeleireiro para fazer tranças por todo o cabelo. Um tempo que não considera perdido, porque “o dia é muito especial”. Agora que todos os pratos estão prontos e todos se preparam para o almoço, está na hora das cozinheiras irem trocar de roupa para vestir “o vestido mais bonito que temos no fundo do baú”. Ou então estrear um novo, como Conceição Fernandes que mandou vir um da Guiné especialmente para este dia. Maria Vasconcelos já deixou o vestido da cozinha em casa e estreou um novo, mais delicado, com “bordados mais bonitos”. Ao pescoço continua o colar com a pedra contra o mau-olhado, porque mesmo em dia de festa “é preciso estar protegido”. Na hora do almoço, ao festival de sabores junta-se o festival de cores proporcionado pelos exuberantes vestidos das mulheres presentes. Entre elas está o azul forte de Indara, uma das artistas convidadas para animar o dia. Indara veio da Guiné há 10 anos e trouxe consigo as músicas da sua terra. “Sudataketa” que conta a história do povo guineense, é uma das canções mais tradicionais com que Indara, acompanhada por Aléu ao som do também tradicional instrumento de cordas o kora, emociona os presentes. Quando o grupo começa a tocar no palco do auditório do centro comunitário, as mentes dos africanos viajam de volta para a terra que os viu nascer e que guardam no coração. Apertado de tantas saudades.
Os sabores e as cores de África em Vialonga

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