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Alqueidão continua à espera de esgotos

População está cansada de viver sem saneamento básico
As bermas das ruas estão negras e a estrada apresenta uma cor esverdeada. Parece lodo. Á noite, diz a população, o cheiro chega a ser insuportável. São as marcas da falta de saneamento básico na aldeia de Alqueidão (Pedrógão), no concelho de Torres Novas. Marcas que fazem perder a paciência dos moradores da rua Joaquim Vieira Ganhão. Cansados de passar o dia de mangueira na mão, a limpar os vestígios deixados pelo despejo das fossas dos vizinhos, dizem-se saturados e preparados para avançar com uma queixa junto da delegada de saúde.O que está em causa é a qualidade de vida de quem se depara diariamente com o mesmo cenário e teme que a saúde pública esteja a ser ameaçada, como explica Ana Isabel Serra: “Temos a porcaria a correr-nos à porta de casa todos os dias. Fossas, águas das máquinas, águas sujas, lixo, vem tudo aqui parar. Estamos no limite da saturação e alguém tem de fazer alguma coisa”, defende.No cimo da rua, os esgotos correm a céu aberto junto às paredes das casas, mas mais a baixo nota-se a concentração dos resíduos numa mancha escura que não deixa margem para dúvidas: “A maioria das pessoas não chama os técnicos da câmara para despejar as fossas com a frequência necessária”, diz Ana Isabel, enquanto a mãe se entretém a limpar a estrada de mangueira na mão.A rotina é sempre a mesma. Durante a noite despejam-se as fossas e logo de manhã corre-se para limpar a rua. Um ritual que “satura qualquer um”, especialmente quando chegam as contas para pagar.“Nós gastamos muito dinheiro, especialmente no Verão. Para além da despesa com o limpa–fossas, cerca de 10 euros por semana, ainda temos uma factura de água que ronda todos os meses os 60 ou 70 euros. É uma despesa muito grande e que não devia ser nossa. Mas nós não podemos viver no meio de tanta porcaria, por isso passamos o dia a limpar”, diz Ana Isabel.Mesmo assim, há quem tenha um prejuízo ainda maior por causa da inexistência de rede de esgotos no Alqueidão. Lina Dias, proprietária do “Retiro dos Motares”, já desistiu de dar uso à esplanada do café, especialmente durante a noite, “por causa do mau cheiro, das moscas e das melgas”, que não dão descanso aos clientes.“Hoje vou fazer aqui uma sardinhada e uma matiné com música ao vivo. Estive toda a manhã a lavar a estrada e agora sujeito-me a levar com a porcaria em cima quando estiver ali a assar as sardinhas”, diz.Normalmente o despejo das fossas é feito pela calada da noite, quando a aldeia já se recolheu: “Quando vêem que está tudo em silêncio, por volta das três da manhã, é que começam a despejar, para não dar muito nas vistas. Mas sente-se logo o cheiro”, explica Lina Dias.O mau cheiro é frequente e a sujidade da rua já não é novidade para os moradores daquela zona, que se dizem indignados com a falta de sensibilidade das entidades competentes que “fecham os olhos” ao que ali se passa.“Nós já falámos várias vezes com o presidente da junta e ele chegou a dizer-nos, aqui há três anos, que já tinha o equipamento para começar as obras de saneamento. Chegaram a vir cá funcionários da câmara marcar a estrada, mas até agora nada foi feito. Parece que o material foi desviado para outra obra e nós vamos ter de continuar à espera”, lamenta Ana Isabel.Contactado por O MIRANTE, o presidente da Junta de Freguesia de Pedrógão, Silvino Rino Rosa, diz não ter qualquer conhecimento da existência do referido equipamento e adianta que “essa obra nem sequer está prevista no plano de actividades da câmara”. Por isso “não se prevê qualquer intervenção naquela rua a curto prazo”.Até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer qualquer contacto com a Câmara Municipal de Torres Novas, a fim de esclarecer a situação.Carla Paixão

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