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É uma Casa Portuguesa com certeza!

“Eu quero uma Casa Tradicional portuguesa!” - é vulgar esta expressão. Numa primeira análise objectiva observo que não existe, de todo, uma “Casa Tradicional Portuguesa”. Entre uma aldeia minhota e um “monte” alentejano, há diferenças muito mais profundas do que certas construções portuguesas e gregas. Entre as habitações de cariz popular do Sardoal e do Pego são insignificantes os traços comuns. A resposta a este fenómeno está nos anos 30, época do Estado Novo, onde se desenvolveu uma espécie de receituário da dita casa à antiga portuguesa que, rapidamente, se arrastou e banalizou com o excesso de decorativismo em que, regra geral, a proporção das janelas das portas ou dos alpendres era coisa secundária, qualquer disposição servia para um teste do modelo “portuguesinho croché”. A pala levantada em frontão curvo e chapado com um leitmotiv em azulejo. O famoso beiral dos telhados à portuguesa, mas multiplicado por quantas portas e janelas houver; a cada vão o seu telhadinho, mais genuíno ainda é o revirar dos cantos do beiral, com bicos tipo mourisca. O vidrinho pequeno é lei nas janelas ditas tradicionais; quanto mais pequeno mais autêntico porque assim mesmo é que tem de ser. Não esquecendo as colunas pilaretes, colunatas e pilastras e já não falando dos ornamentos tipo barrocos e bacocos em busca de significados que nunca existiram na construção de cariz popular.Infelizmente, a aplicação deste receituário nos dias de hoje transforma, de facto, a construção nacional num decorativismo e maneirismo ridículo e confrangedor. Que importa se assim é à antiga portuguesa.Rui Serrano, arquitecto, presidente do Núcleo do Ribatejo Norte da Ordem dos Arquitectos

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