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Um empresário que gosta de fazer o bem

A bandeira de Portugal recorta-se no céu, pendurada num enorme silo da empresa João Salvador na Guerreira, às portas de Tomar. É a afirmação pública do patriotismo do empresário. “Não há melhor país que Portugal, temos os produtos mais saborosos do mundo, um mar de perder de vista e um clima fabuloso”, dizia João Salvador sentado à mesa do restaurante, uma hora depois de a reportagem de O MIRANTE ter passado os portões da sua fábrica.João Salvador, 76 anos, recebe-nos no seu escritório como se fossemos amigos de longa data. Veste calças azuis, camisa verde às riscas finas do mesmo tom das calças. O cabelo branco está penteado para trás.Apresenta-nos a filha, que não nos pode acompanhar no almoço porque tem de ir a casa, cuidar da “pequenina”. É a forma carinhosa com que o empresário se refere a Mariana, a sua primeira bisneta, nascida a 28 de Abril.“Já tem a sucessão garantida” dizemos a brincar. João Salvador responde no mesmo tom – “Vamos ver se lhe deixamos alguma coisa”.Saímos para o sol escaldante da uma da tarde e entramos no Mercedes topo de gama estacionado à porta. Comprado em segunda mão, com 35 mil quilómetros, custou-lhe menos 45 mil euros que se o tivesse adquirido novo.João Salvador não é forreta, é poupado. “Se posso comer tão bem num restaurante mais barato porque é que hei-de ir a um caro?”. Não gosta de andar com muito dinheiro no bolso nem ter uma grande conta no banco. Prefere transformar o dinheiro em maquinaria para a sua fábrica. Que orgulhosamente nos leva a conhecer. Ao volante do automóvel ziguezagueia por entre centenas de manilhas e montes de brita e areia. Pára o carro uns segundos em cada sector da unidade. A oficina de metalomecânica, a carpintaria, o sector da electricidade e da pintura, mais à frente as oficinas gerais.Estaciona o carro dentro da oficina onde se produzem as manilhas e faz questão de nos mostrar como são feitas as manilhas de betão que fazem o escoamento das águas. O que antigamente era feito manualmente está hoje praticamente automatizado. Há máquinas para levar o cimento até às formas próprias, onde outra máquina se encarrega de lhe dar a forma final. É só ali que a mão humana entra. Um homem leva um carrinho para junto da máquina, abre-se uma cancela enquanto a máquina traz à superfície duas manilhas já feitas. Depois é só encostar o carro e levá-las para junto das dezenas que estão colocadas em fila, a secar.O grupo tem cerca de 500 trabalhadores, 150 dos quais na fábrica da Guerreira. Os restantes estão espalhados pelas centrais de betão pronto e de britagem, pelas extracções de areia ou na empresa de limpeza, desmatação e plantação de árvores. O negócio registou um incremento em 2005, mas este ano a quebra na facturação já é grande.No trajecto para o restaurante João Salvador engana-se no caminho. Um engano que leva o carro a rodar por uma estrada que João Salvador conhece como a palma da mão. “Era por aqui que ia para a escola”.Enquanto conduz com prudência, o empresário justifica a escolha do restaurante, situado no Casal dos Tomazes (São Pedro). “É de um casal que veio há pouco tempo da Suíça. Ele é suíço, ela é daqui. Mas não estão a ter muita sorte, a renda é cara e os clientes não abundam, apesar de a comida ser muito boa. Costumo vir aqui comer e trazer algumas pessoas”. João Salvador gosta de ajudar os outros. Escolhe costeletas do cachaço com um molho cor de chocolate, acompanhadas de arroz branco e uma salada de alface. Enquanto se espera pela sua confecção vai-se trincando umas azeitonas pretas, provando o queijo, o chouriço e o presunto ao sabor de um vinho chileno de casta cabernet sauvignon. “É muito bom e o preço é idêntico aos de cá”, justifica.Durante a refeição fala dos seus dois sonhos, que não desiste em concretizar. A edificação de um prédio em Moçambique, num terreno que adquiriu há muitos anos e que já foi nacionalizado, e da construção de um mini-jardim zoológico, no espaço contíguo à sua habitação. Tem casas em Lisboa, no Algarve, na Nazaré e na albufeira de Castelo de Bode, mas é a cuidar dos seus bichos que gosta de passar os fins-de-semana. E de ver a alegria das crianças que, levadas pelos pais, visitam o local.

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