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O gozo de lidar com crianças

Maria da Conceição Ferreira é auxiliar de acção educativa em Casais de Igreja

Em pequena queria ser professora, hoje, como diz, “falo com elas”. Maria da Conceição Bento Ferreira é auxiliar de acção educativa no jardim-de-infância de Casais de Igreja, Torres Novas. Uma profissão que lhe dá muito gozo.

O pai queria que tirasse o curso de professora primária mas o casamento “trocou-lhe” as voltas. Hoje, aos 45 anos, Maria da Conceição Bento Ferreira tem pena de não ter continuado os estudos (ficou pelo antigo sétimo ano) mas, na prática, está a fazer o que o pai sempre quis – estar com crianças.“Não sou professora mas dou-lhes algumas lições diárias”, diz a auxiliar de acção educativa que mora em Assentis, aldeia vizinha da localidade onde está instalado o jardim-de-infância, em Casais de Igreja (Torres Novas).Desengane-se quem pensa que às 08h30 da manhã, hora a que os pais deixam os filhos na pequena escola, as crianças ainda vão estremunhadas de sono. “Qual quê, estão mais que despertos e querem logo brincadeira”, diz a auxiliar de acção educativa.A primeira coisa que fazem, na meia-hora que aguardam pela chegada da educadora (as aulas começam às 09h00) é pedirem para colocar a música dos D’ZRT, confessa Maria da Conceição, a quem as crianças chamam simplesmente São.A São faz-lhes a vontade e até canta e dança com elas, ao som das melodias do grupo de adolescentes projectado pela série televisiva “Morangos com Açúcar”. É disto que Maria da Conceição gosta, apesar de considerar que nesta profissão é essencial ter uma boa dose de bom senso e muita paciência.“Estamos a lidar com crianças de três anos, que na maioria dos casos ainda não está habituada a qualquer tipo de regras”, diz a auxiliar, adiantando que o seu papel é, em cada início de ano lectivo, ensinar também as regras básicas da convivência e boa educação. Digamos que é uma espécie de lição de comportamento, para que pouco a pouco os miúdos interiorizem que não podem fazer tudo o que lhes apetece nem como querem. Há situações que lhe deixam o coração apertado. Como o de uma criança que assim que a mãe a deixa na sala corre a agarrar uma cadeira que arrasta até à janela mais próxima. “Todos os dias faz isso, para acenar um adeus à mãe, e só sai de lá quando perde o carro de vista”.O bom senso também é fundamental para uma boa relação, quer com os alunos quer com a própria educadora de infância. “É preciso às vezes quase adivinhar os pensamentos da educadora para saber se devo agir em determinadas circunstâncias ou deixar que seja ela a gerir a questão”. Maria só entrou no mundo de trabalho sete anos após o casamento, tinha já a sua filha mais velha cinco anos. Sentia necessidade de fazer algo e contribuir também para o orçamento familiar.O primeiro emprego foi no Centro de Dia de Assentis, no apoio a idosos. Trabalhou também no hospital de Torres Novas, onde recolhia as análises dos doentes para o laboratório da unidade. “Não eram trabalhos que idealizei mas dediquei-me a todos de alma e coração”, diz. Em 1994 concorreu ao concurso lançado pela Direcção Regional de Educação de Lisboa e Vale do Tejo (DREL-LVT) que pedia auxiliares de acção educativa. Conseguiu um lugar mas não vinculativo. “Foi no tempo de Manuel Ferreira Leite, em que os contratos, de um ano, não podiam ser renovados à mesma pessoa. Foi por isso que, depois da primeira experiência como auxiliar de acção educativa, esteve três anos em casa. Um período que lhe custou a ultrapassar, primeiro porque não ganhava, depois porque ficava o dia inteiro sem sair de casa. Para contrariar a situação Maria da Conceição até chegou a trabalhar a dias, nas limpezas.Mas nunca desistiu e em 1997 voltou a concorrer ao concurso aberto pela DREL. Entrou novamente e mais uma vez sem vínculo. Só em 2001/2002 é que “ganhou” o lugar de efectiva.“Não há nada melhor para nos pôr para cima que a alegria e a ingenuidade das crianças”, refere, adiantando que fica totalmente contagiada. “Por exemplo, elas já andam todas entusiasmadas porque vamos fazer bolinhos para o dia de Todos-os-Santos. E isso também me entusiasma”.Margarida Cabeleira

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