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Foi-se a luz

Por vezes, as falhas no fornecimento de electricidade têm origem nas coisas mais insólitas. Em muitas ocasiões, a resolução dos problemas termina no tribunal.O caso mais famoso foi o célebre apagão de 1999. Metade do país ficou desprovido de electricidade. A culpa foi atribuída a uma cegonha, que decidiu nidificar no topo de um poste de alta tensão.Depois, foram erigidos suportes metálicos, onde as aves passaram a constituir os seus ninhos.Outro conhecido corte de luz recente, numa pequena aldeia, relacionou-se com a negociação policial com um criminoso, que se refugiara em casa depois de balear um elemento da GNR.Privá-lo da electricidade era uma boa ideia. Dificultava-lhe tudo, desde a conservação dos alimentos, a confecção de refeições, o acompanhamento das notícias e até suportar a solidão.Mas tal implicava também deixar os vizinhos às escuras, o que, obviamente, foi compreendido por todos.O restabelecimento da electricidade apenas se impôs temporariamente, para permitir que o delinquente pudesse carregar a bateria do seu telemóvel e manter a conversação com os negociadores policiais.Certa vez, em pleno Agosto, uma conhecida zona turística ficou sem luz, por volta das oito da noite. A electricidade só regressou na manhã seguinte.Os clientes e os empregados dos restaurantes viram-se numa situação totalmente inesperada, ansiando que a interrupção fosse breve.Mas como as coisas não se passaram assim, as arcas congeladoras, que armazenavam quilos de alimentos deixaram de produzir o seu gélido frio e foi muita a comida que se deixou de aproveitar.Quem ainda nem tinha ocupado as mesas dos vários estabelecimentos, acabou por desistir, deixando os comerciantes ainda mais desanimados.Afinal, o que se tinha passado é que um empilhador tinha colidido com a base de um poste de alta tensão.Os danos ainda foram relativamente significativos.Prudentemente, o condutor alertou a companhia de electricidade, que iniciou os procedimentos de reparação urgente. Para tal, interrompeu a luz e lá ficou tudo às escuras.Mas agora as coisas ultrapassam todos os limites.São comboios que ficam parados e deixam de circular durante dias. De um momento para o outro, zonas importantes ficam sem electricidade, porque desaparecem quilómetros de cabos estendidos ao longo das planícies.Postos de transformação, com corrente eléctrica de alta voltagem, são totalmente desmontados e deixam de fornecer energia.Sempre houve furto de cobre.Que o digam os empreiteiros e construtores civis. Deixar cabos eléctricos à noite num estaleiro é sempre um risco.Os ladrões passam por lá, carregam o material e vendem-no a sucateiros sem escrúpulos. Depois de o revestimento plástico ser retirado, o cobre é encaminhado para Espanha e comercializado nas fundições.Ora aqui há um ano atrás, estes homens do ferro-velho pagavam o cobre a cerca de trinta cêntimos o quilograma. Agora oferecem três euros por igual quantidade.Por isso, aqui há uns dias, em Coruche, uns gatunos escalaram um poste de alta tensão e rapidamente privaram-nos de três quilómetros de cabo eléctrico.O trabalho foi breve, mas muito rentável.Até nesta pequena criminalidade, os mercados mundiais exercem a sua influência.No início de 2006, a cotação internacional da tonelada de cobre rondava os dois mil dólares norte-americanos. Passados sete meses, fixa-se em quase oito mil dólares.As razões são duas.A China encontra-se a importar quantidades astronómicas de cobre. Está disposta a pagar o que for necessário, para satisfazer as suas necessidades de desenvolvimento.Conhecedores da escassez no mercado, os produtores chilenos combinaram, entre eles, trabalhar o menos possível. Os operários ficam em casa, a receber o salário.O que interessa é vender e fazer com que os preços disparem. Produzir é que não é tão necessário.* Juiz (hjfraguas@hotmail.com)

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