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A alternativa às ruas do bairro

A alternativa às ruas do bairro

Centro Comunitário de Vialonga apoia famílias há cinco anos

O Centro Comunitário de Vialonga é um porto seguro para os jovens do Bairro de Olival de Fora. Um convite à leitura e à dança. Para afastar os vícios da rua.

Os pés descalços das meninas tocam o chão. Ouvem-se os batuques cabo-verdianos do Funaná, a dança tradicional africana. Os corpos abanam-se em movimentos frenéticos. Não dançam sobre a terra de África, mas evocam as raízes mais profundas da cultura à entrada do Centro Comunitário de Vialonga, no Bairro do Olival de Fora, que assinalou na tarde de segunda-feira, 2 de Outubro, cinco anos de trabalho de intervenção com as famílias do bairro localizado no concelho de Vila Franca de Xira.As nove meninas escolheram a dança. Em vez da rua. Os tempos livres das jovens e de outras dezenas de crianças e adolescentes são passados no edifício de dois andares que parece insignificante ao lado das torres que se erguem na zona do bairro social de Vialonga. Lá fora miúdos andam de bicicleta e vagueiam entre os prédios. No interior do espaço as meninas aprendem a dançar. “Os rapazes são mais desinteressados”, atira uma jovem para explicar a indiferença.A coreografia foi ensaiada entre portas com a ajuda da técnica Patrícia Macedo. Mas para as raparigas dançar é uma coisa inata. “Não se aprende. Nasceu comigo”, diz Márcia Santos, 13 anos, aluna do oitavo ano. Lígia Mota, 11 anos, concorda. Os seus movimentos afro prenderam o olhar da maior parte dos espectadores, mas a jovem confessa que não sabe o segredo. Só sabe que quer fazer da dança profissão. Descobriu a vocação entre as paredes do centro comunitário, uma espécie de porto de abrigo para quem só tem como alternativa as ruas do bairro. “Se não estivesse aqui estava na rua a andar de patins”, justifica a jovem da Escola Básica 2/3 de Vialonga. Mais do que dançar os jovens do bairro podem ter acesso a actividades de expressão dramática e navegar na Internet na Casa da Juventude. A biblioteca, a funcionar no piso superior do edifício, é um convite à leitura. “Tentamos oferecer livros com informação sobre os países de língua oficial portuguesa para os atrair”, explica a técnica de bibliotecas, Rute Duarte.Além do Clube de Jovens, que oferece actividades de desenvolvimento pessoal e métodos de estudo, existe ainda o Clube das Raparigas, um grupo de 13 jovens que reúne semanalmente.Abordam-se todos os temas informalmente com a educadora social Ana Carla Silva. É sobretudo uma conversa entre amigas. Sexua-lidade, métodos contraceptivos, gravidez não desejada, auto-estima. Neste grupo ensinam-se as raparigas a ser assertivas. Porque é importante saber dizer não. “Até chegamos a falar de roupas quando elas assim o querem”, descreve a técnica.Os jovens mais experientes do bairro também ajudam os que estão a chegar ao centro comunitário. Chamam-lhes mediadores. “Ajudam em coisas tão simples como a candidatura à faculdade ou aconselhamento profissional”, exemplifica a educadora Patrícia Macedo.Mais de mil famílias do Parque Residencial de Vialonga, onde residem 5900 pessoas, têm processo aberto no centro comunitário. A estrutura oferece atendimento na área da saúde, apoio ao imigrante, habitação e integração sócio-profissional. “Às vezes uma família chega para negociar o atraso numa renda de habitação social e quando vamos ver é apenas a ponta do iceberg. Há desemprego por trás ou uma gravidez mal acompanhada”.Mais do que problemas de pobreza ou toxicodependências muitas famílias precisam de estruturar-se, diagnosticam as técnicas, que consideram que é sobretudo a organização familiar que precisa de ser trabalhada.Ana Santiago
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