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“Veio do povo, foi para o povo”

A ponte Salazar, em Lisboa, mudou de nome após o 25 de Abril passando a chamar-se Ponte 25 de Abril, mas no Entroncamento o viaduto sobre as linhas de caminho de ferro continua a ostentar o nome do presidente da câmara que o mandou construir e que esteve à frente do município entre 1962 e até Março de 1974, Eugénio Dias Poitout.Manuela Poitout foi casada com um filho do autarca e é depositária do arquivo do sogro. “Fiquei com muitos livros, pastas com documentação relativa ao seu tempo de presidente de câmara, fotografias. Mas também tenho muitas recordações desse tempo. Eu acompanhei o seu mandato já como nora”.Eugénio Dias Poitout sucedeu a Manuel Pedroso Gonçalves à frente dos destinos da câmara municipal. O seu antecessor era militar e não completou o mandato por ter sido transferido para outra cidade. Antes de Pedroso Gonçalves foi presidente José Duarte Coelho. Na altura os mandatos eram de doze anos. O sogro de Manuela Poitout era empregado nos escritórios da CP e tinha experiência autárquica uma vez que tinha sido presidente da Junta de Freguesia do Entroncamento.O actual presidente da câmara do Entroncamento, Jaime Ramos (PSD) decidiu colocar, no anterior mandato, as fotos de todos os presidentes de câmara no salão nobre do município. Na altura a CDU protestou. Manuela Poitout não comenta o que se passou mas faz questão de recordar aquilo a que assistiu.“Os autarcas de antes do 25 de Abril trabalharam em condições muito diferentes das actuais. Não tinham mordomias quase nenhumas. Hoje qualquer autarca tem o seu automóvel com motorista. Tem um vencimento compatível. Tem direito a despesas de representação. Eu não contesto e acho correcto mas os autarcas daquele tempo fizeram o que fizeram em condições muito mais difíceis”, diz. Durante o seu mandato Eugénio Dias Poitout “fez os trabalhos de alargamento das ruas Latino Coelho e 5 de Outubro, mandou pavimentar as principais artérias do Entroncamento, alargou a estrada das Vendas, comprou o terreno onde está hoje o Jardim da Zona Verde, conseguiu trazer para a vila uma secção do ensino técnico, conseguiu a escola do ciclo e construiu o viaduto”.Sem fundos comunitários à disposição o autarca fazia regularmente a via-sacra dos Ministérios em Lisboa “O meu sogro, às quartas-feiras, ia tratar dos assuntos. Ia para os Ministérios. E levava uma sandwiche no bolso. Para se despachar e não perder tempo em restaurantes mas também por razões financeiras. Durante os doze anos de mandato nunca se serviu do dinheiro a que tinha direito como presidente. Dava-o à câmara. Era uma espécie de saco azul. Embora os sacos azuis hoje sejam considerados uma bolsa menos séria naquela altura era onde a câmara ia buscar o dinheiro que não havia para pequenas coisas do dia a dia”, conta Manuela Poitout.O comportamento do sogro foi “homenageado” anos mais tarde pela nora. “Ele não tinha transporte camarário, andava de bicicleta. A população do Entroncamento ofereceu-lhe um automóvel no dia em que saiu da câmara. Esse automóvel foi posteriormente vendido, depois dele falecer, e o dinheiro foi oferecido para o restauro da Capela de S. João. Fui eu que dei o dinheiro ao Padre Armando. Veio do povo, foi para o povo”.

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