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Concluir a escola na prisão

Concluir a escola na prisão

Reclusos de Alcoentre receberam diplomas

Trinta e quatro reclusos do Estabelecimento Prisional de Alcoentre concluíram o 6º e 9º ano entre as paredes da prisão. No âmbito de um projecto inovador a nível nacional.

No dia em que José Moreira, 34 anos, entrou no Estabelecimento Prisional de Alcoentre, Azambuja, não imaginava que iria concluir lá o nono ano de escolaridade. A oportunidade não surgiu cá fora, como seria normal, mas entre as quatro paredes da cadeia. Tal como o recluso, residente nos arredores de Lisboa, outros 34 adultos do Estabelecimento Prisional de Alcoentre (EPA) frequentaram nos últimos meses o Centro de Reconhecimento, Validação de Certificação de Competências, a funcionar em instalações do núcleo do Centro Protocolar de Formação Profissional para o Sector da Justiça (CPJ), em Alcoentre. Os primeiros alunos escolhidos para integrar o projecto – inovador a nível nacional pela dimensão de adultos em reclusão que abrange – receberam o diploma numa cerimónia realizada na tarde de quarta-feira, em Alcoentre.O dia de voltar ao mundo real aproxima-se. À mesma velocidade que acreditam poder construir uma vida nova lá fora. “No passado já sentia muitas dificuldades em candidatar-me a alguns lugares por causa de não ter concluído a escolaridade mínima obrigatória. Com a conclusão do 9º ano fico em pé de igualdade com qualquer cidadão comum para candidatar-me a qualquer emprego. Sinto-me um outro homem”, confessou José Moreira perante uma plateia repleta de personalidadesAté final de 2006 o Centro Protocolar de Formação Profissional para o Sector da Justiça pretende avançar com a certificação de competências ao nível do 12º ano para abrir uma nova janela de oportunidades, como salientou a presidente do Conselho de Administração da CPJ, Ana Paula Filipe.“O objectivo é abranger estes públicos que como regra não têm qualificações reconhecidas, mas que às vezes têm experiências de vida que poderão ser muito bem capitalizadas para este reconhecimento escolar”, salienta Ana Paula Filipe. A responsável explica que este tipo de iniciativa tem vindo a ser desenvolvido em escolas, centros de formação e em alguns estabelecimentos prisionais, mas apenas de forma esporádica. “Alcoentre fê-lo abrangendo um grupo mais alargado”, esclarece, salientando que as condições logísticas de grande qualidade do EPA favorecem o desenvolvimento deste tipo de actividades.“A ideia é que o projecto não fique por aqui. Queremos ter equipas itinerantes que se desloquem aos estabelecimentos prisionais. Este público é pouco móvel. Não vêm eles ao centro. Tem que ser o centro a deslocar-se ao público”. A grande aposta do Centro Protocolar da Justiça é contribuir para o esforço colectivo nacional de elevação das qualificações dos activos. Até porque como salientou o Director Geral dos Serviços Prisionais, Rui Sá Gomes, não existe prisão perpétua. “Há um país na terra que a mão tranquila alcança”, lembrou, adiantando que o sistema não pode ser apenas um lugar de reclusão. “Pode e deve ser um lugar de oportunidades”.Ana Santiago
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